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As megatendências e longo prazo na estratégia de investimento

A biotecnologia e a digitalização são duas megatendências que marcam os tempos atuais, assim como a aplicação pelas empresas dos critérios de ESG (Ambiente, Social e Governo corporativo), que implicam estratégias de longo prazo.

02 de Junho de 2021 às 12:15
Hugo Gerald Freitas sublinha que o Abanca tem vindo a incorporar os critérios de ESG nos seus processos de avaliação. DR
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"As bolsas europeias já estão a ganhar peso este ano", referiu Hugo Gerald Freitas, responsável de produtos de Investimento do Abanca, durante a terceira sessão de Talking Money - O valor do dinheiro, iniciativa do Jornal de Negócios com o apoio do Abanca, Banco Carregosa e Bankinter.

No mercado acionista norte-americano, a área tecnológica tem um grande peso, e "teve uma valorização muito expressiva, principalmente na altura da pandemia, em que a Amazon, o Facebook, e o Instagram conseguiam manter os seus níveis de atividade, mesmo com esta disrupção". Hugo Gerald Freitas sublinha que neste momento há uma espécie de rotação setorial, o que não significa propriamente que haja muito mais dinheiro a entrar, dos setores mais "growth", mais de crescimento, para os setores mais "value", com mais estabilidade, previsibilidade, valor.

Hugo Gerald Freitas considera que "a Europa também não é uma ‘over-performer’ assim tão significativa, julgo que está a 2% neste momento, mas é bom que a inflação não esteja muito elevada, no entanto, tenho a certeza de que as empresas europeias teriam gostado de receber muito mais apoios, muito mais cedo, o que ajudaria ao próprio crescimento económico".

Critérios ESG

O Abanca tem vindo a incorporar os critérios de sustentabilidade ESG (Environmental, Social & Governance) no processo de avaliação, o que se traduz numa preocupação com a gestão de médio-longo prazo. "Às vezes há estratégias no médio-longo prazo que implicam alguma contemporização no curto prazo, ou seja, o resultado não é imediato, mas dá estabilidade, segurança, a essas empresas, e as que seguem esses critérios são empresas que previsivelmente terão um desempenho mais responsável, mais sólido e não tão volátil", disse Hugo Gerald Freitas.

Com estes critérios de responsabilidade social, ESG, as empresas que cumprem estes princípios são empresas que apostam no investimento socialmente responsável, têm objetivos de longo prazo. "Pode ser um efeito aqui da ‘trend’, da moda, das pessoas estarem a falar muito nisso, todos os seus ativos, mas efetivamente também há da parte das pessoas uma grande preocupação e nós sentimos isso, em ganhar dinheiro de forma responsável, se lhe quiser chamar assim."

Nas suas estratégias de investimento Hugo Gerald Freitas tem em conta o que considera "as megatendências que mais não são do que tendências cíclicas que vão para além do ciclo da atividade económica e que vieram para ficar". Na sua opinião, as megatendências são a biotecnologia, como mostra a celeridade e a colaboração para se chegar às vacinas contra a covid-19, mas também os avanços na luta contra o cancro, e a digitalização, que está longe de atingir o estado de maturidade.

As criptomoedas

Para Hugo Gerald Freitas, as criptomoedas são um fenómeno não regulado, e uma instituição financeira, que tem responsabilidade de fazer aconselhamento sobre ativos financeiros, "tem de, em primeiro lugar, perceber muito bem ‘as regras do jogo’". É uma realidade que já tem uma dimensão incontornável. A maior prova disso é que hoje cerca de 80% dos bancos centrais estão a analisar este fenómeno, o que, tendo em conta a dimensão que já tem, não é negligenciável". Mas depois surge "uma série de questões muito complicadas, que têm de ser analisadas de forma que se possa falar numa regulação sobre as criptomoedas e, inclusivamente, uma regulação sobre as moedas digitais que não sejam criptomoedas".

Vários bancos centrais já olham para esta questão da digitalização do dinheiro na perspectiva de criar meios de pagamentos através das chamadas GovCoin, que são moedas digitais reguladas e associadas a entidades de forma clara. Para Hugo Gerald Freitas, trata-se de uma desintermediação, e interessa perceber o interesse que os bancos centrais têm em abdicar da intermediação financeira. Mas há outras questões que têm um poder de atuação que resulta de estes instrumentos estarem regulados e intervencionados pelos bancos centrais.

"Esta lógica do blockchain e das moedas digitais é algo que vive por si. Temos, digamos assim, as pessoas que fazem mining, há uma monitorização da massa monetária, mas não há um agente central a controlar, é quase o efeito natural e, às vezes, os efeitos naturais podem provocar alguns efeitos indesejáveis. Portanto, tudo isto tem de ser pensado muito bem a priori e não naquela lógica do vamos avançar com isto e depois logo se vê, porque seria muito complicado depois perante alguns riscos que isto poderia trazer", conclui Hugo Gerald Freitas.