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Alterações climáticas implicam ações globais e contínuas

A pandemia mostrou que temos uma imensa elasticidade e capacidade de mudança, mas também mostrou o que poderá ser uma crise mais séria e grave.

02 de Julho de 2020 às 14:00
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"Globalmente e olhando para os números poderia pensar-se que a pandemia teria tido algum benefício porque nos colocaria na meta definida pelo Acordo de Paris e pelos modelos de avaliação integrada que se utiliza no IPCC", diz Joana Portugal Pereira, autora do sexto Relatório de Avaliação (AR6), IPCC, e investigadora convidada do Imperial College London, na conferência digital Negócios Sustentabilidade, realizada na semana passada.

Mas esta visão otimista é simplista porque "não podemos esquecer que as alterações climáticas são um problema cumulativo e global". Pouco importa olhar as emissões num preciso momento, temos de ter ações globais e contínuas ao longo do tempo até 2050 e 2100. "Mas a pandemia mostrou que temos uma imensa elasticidade e capacidade de mudança, alertou e mostrou-nos como poderá ser uma crise mais séria e grave no futuro à medida que vamos sentindo cada vez mais presente os impactos das alterações climáticas e a nossa vulnerabilidade", acrescentou Joana Portugal Pereira.

"A pandemia pode levar a uma melhoria na velocidade e na consciência da necessidade de alterar hábitos e forma de funcionamento das economias. Criou-se uma consciência mais global da necessidade de alterar algumas coisas", refere Clara Raposo, presidente do ISEG. Houve uma melhoria substancial "no desempenho do capital natural do planeta" e a "esperança por percebermos que se calhar com uma alteração de hábitos e de práticas até conseguiríamos atingir os objetivos em termos de sustentabilidade ambiental".

Retoma hipercarbónica

Mas abre-se uma porta e fecha-se uma janela. "As economias pararam e desaceleraram, o que pode criar mais pressão em relação ao desempenho económico das empresas e dos Estados, porque a contabilização de desempenho económico, tanto do produto como dos rácios, como os défices, tem a ver com a existência de transações, com o funcionamento das economias".

Joana Portugal Pereira admite que a retoma económica dos países e economias emergentes, que têm uma maior fragilidade económica, "seja uma retoma hipercarbónica, baseada em energias baratas como o carvão e derivados de combustíveis fósseis".

Sublinha ainda que estes países, principalmente do hemisfério Sul, são também aqueles que, num primeiro momento e mais intensamente serão mais afetados pelas alterações climáticas".

Novas metas em 2021

Para Clara Raposo, "tudo vai depender da forma como os diferentes blocos económicos e políticos se conseguirem articular, porque vamos precisar de todos. Vamos precisar das pessoas nos seus hábitos de consumo, das empresas nos seus hábitos de produção e dos Estados e dos reguladores elevarem a fasquia quantos aos requisitos de quem produz e presta serviços".

As novas metas do acordo de Paris, que deveriam ter sido anunciadas este ano, foram proteladas, por causa da pandemia de covid-19, e vão ser anunciadas em 2021. As negociações prosseguem e Joana Portugal Pereira acredita que "haverá uma orquestra internacional de mútuo apoio e cooperação para conseguirmos ter uma retoma verde, em formato de L".

Dessa forma "não iremos aumentar as nossas emissões de gases de efeito de estufa, por um lado, mas, por outro ter financiamento baseado em tecnologias de baixo carbono".