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José Crespo de Carvalho: “Prefiro uma recessão a uma espiral inflacionista incontrolável”

Para José Crespo de Carvalho, professor da ISCTE Business School, “não interessa revisitar o passado, mas olhar para o futuro. O BCE tem um instrumento que deve aplicar, e que está atrasado na sua aplicação, que é subir a taxa de juro de referência.”

19 de Dezembro de 2022 às 16:00
José Crespo de Carvalho, professor da ISCTE Business School Pedro Ferreira
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"A pandemia de covid-19 teve efeitos de retração sobre a procura e a oferta. Na recuperação, a procura foi mais rápida do que a oferta, o que causou a disrupção na oferta e nas cadeias de logística e teve efeitos nos preços da energia, ainda antes da guerra, e que depois com esta se acentuaram. A inflação também começou muito antes da guerra, o que veio apenas reforçar uma tendência anterior e muito visível. A discussão em 2021 era se deveriam subir as taxas de juro e o que se deveria fazer para combater a inflação", recorda Sofia Vale, vice-reitora do ISCTE, durante a conferência "O Futuro dos Mercados Financeiros", uma iniciativa do Jornal de Negócios e do Banco Carregosa.

Na sua opinião, "as subidas das taxas de juro são um policy-mix, em que a política monetária faz um pouco o contrário daquilo que a política orçamental está a fazer, para que uma possa compensar a outra e para que a recuperação se faça com a tal suavidade. Cristina Lagarde, presidente do BCE, falava em recessão suave."

Guerra baralha planos

Para José Crespo de Carvalho, professor da ISCTE Business School, "não interessa revisitar o passado, mas olhar para o futuro. O BCE tem um instrumento que deve aplicar e que está atrasado na sua aplicação, que é subir a taxa de juro de referência. Não há muito mais a fazer neste momento para conter a inflação. Prefiro uma recessão a uma espiral inflacionista incontrolável, em que muitos setores poderão ter de fechar portas, sobretudo os que não conseguem passar os aumentos de preços para os clientes." "Os bancos centrais tiveram algumas dificuldades em atuar porque vinham de programas de quantitativos, cuja saída estavam a preparar, para depois fazer uma subida das taxas de juro", afirmou Filipe Silva, diretor de Investimentos do Banco Carregosa. Mas a invasão da Ucrânia pela Rússia baralhou os planos. Sem este conflito, "a subida não seria tão abrupta, o que iria permitir aos mercados, às famílias e às empresas ajustarem-se a um novo ciclo, em que o mercado teria taxas de juro mais altas". Filipe Silva adianta que "o problema é que a inflação foi mal lida e, quando se pensava que era temporária, deixou de o ser e passou para uma fase mais permanente e a estar mais consistente do mercado". Sofia Vale explicou que, tradicionalmente, na macroeconomia, as ferramentas estão direcionadas para o lado da procura, uma vez que a gestão de expectativas pode ser mais uma parte da oferta. "Para a opção de subir as taxas de juro é decisivo saber se o problema reside na procura ou na oferta. As políticas para o lado da oferta seriam políticas de produtividade, de competitividade e, eventualmente, de fortes investimentos. Para a procura, a política será de subida das taxas de juro."