Recentemente nomeada presidente da Unidade de Mercado da Capgemini em Portugal, Cristina Rodrigues revela nesta entrevista que acredita mais nas pessoas do que no género, apesar de perceber o debate que se faz em torno deste tema. Trabalha numa empresa inclusiva e isso faz toda a diferença. A responsável da organização de consultoria e tecnologia fala dos seus desafios, da operação, faz um balanço das empresas do sector que têm crescido em Portugal e muito mais.
Ficou surpreendida por ter sido nomeada, em Setembro, presidente da Unidade de Mercado da Capgemini em Portugal?
A nomeação ocorreu em Julho deste ano e, não sendo um objectivo que tenha traçado desde o início da minha carreira, não deixou de ser mais um passo no trajecto natural de desenvolvimento do meu percurso profissional na Capgemini, considerando que era já directora financeira e responsável da área de support functions em Portugal. No entanto, a minha nomeação constitui um grande voto de confiança, de valorização do meu trabalho ao longo de 17 anos, bem como de tudo o que consegui concretizar até hoje. Nesse sentido, não foi uma surpresa, mas sim um reconhecimento.
O que lhe foi pedido quando foi promovida para as suas novas funções na empresa?
Os desafios estratégicos de qualquer CEO: crescimento da nossa operação em Portugal alcançando os melhores resultados e de forma sustentada, com o melhor activo de que dispomos: as nossas pessoas. Podemos aumentar o negócio, ter uma maior sustentabilidade financeira, crescer no mercado mas se não tiver as equipas comigo, alinhadas, co-autoras e co-responsáveis, toda a performance que se alcance será temporária.
Temos de ser resilientes, trabalhar de forma cada vez mais eficiente, num mercado em crescimento, que é altamente competitivo e exigente. É necessário promover o crescimento contínuo, sustentado e, principalmente, envolver as pessoas. As novas gerações querem sentir-se envolvidas e desafiadas e corresponder a estes objectivos pode ser um dos maiores desafios que os gestores enfrentam actualmente.
É a primeira mulher a ser responsável pela gestão da Capgemini em Portugal. Que comentário lhe merece esta distinção?
Compreendo que nos dias de hoje muito se fale, e comente, sobre a igualdade de géneros, de oportunidades e afins. Mas eu acredito sobretudo no mérito de cada profissional, de cada pessoa. O que se faz, como se faz, e os resultados que se alcançam são o que distingue, não o género. Quero por isso igualmente acreditar que o que fez a diferença foi todo o meu trabalho, o meu esforço, a minha dedicação e obviamente os resultados que consegui entregar ao longo do meu percurso profissional, e não o facto de ser mulher. O meu percurso profissional é o resultado de muito investimento, muita resiliência e também de tudo quanto tive o privilégio de aprender com todos aqueles que me lideraram (maioritariamente homens), com as pessoas que lidero e já liderei. Nos poucos mais de 20 anos de história da Capgemini em Portugal, os seus líderes sempre se destacaram na organização. Tudo tem o seu tempo, mas não há dúvida de que esta mudança é um sinal importante!
O Grupo Capgemini tem o objectivo de ter mais mulheres a ocuparem posições de topo nos cargos de chefia?
O Grupo Capgemini há já muitos anos, desde 2004 sensivelmente, que acredita no valor e no poder da diversidade. E, uma vez mais, este tema não se resume apenas a géneros, a etnias, a orientações sexuais, mas é muito mais abrangente e inclui cultura, personalidade, individualidade, experiência, formação, diferenças geracionais, formas de comunicar e muito mais. A Capgemini é uma organização global e transversal a todos os níveis. É por isso que acreditamos que é esta diversidade que nos torna únicos e mais fortes, porque nos permite ter um conjunto de competências que, quando combinadas entre si, nos oferecem perspectivas muito mais abrangentes e um ambiente no qual as nossas pessoas se podem desenvolver e crescer. Esta abordagem não nos torna exclusivos mais sim inclusivos, e esta diferença é enorme. Obviamente, esta visão tem de ter o apoio do grupo ao seu mais alto nível e acima de tudo é preciso demonstrar-se que se faz. Não basta falar sobre diversidade e não dar o exemplo.
O programa Women@Capgemini...
Desde 2012 que o grupo criou o programa Women@Capgemini com o principal objectivo de trazer uma visão ou perspectiva única a este mundo mais masculino da tecnologia e consultoria. No entanto, esta mudança não acontece de um momento para o outro, particularmente quando muitas mulheres, mesmo em cargos de chefia elevados, não estavam ainda preparadas para enfrentar as barreiras muito solidificadas no mundo dos negócios. É por isso necessário criar as condições que permitam que elas ascendam a estes lugares e possam desempenhar as suas funções. Como profissionais experientes, competentes e não porque são mulheres. E este é sem dúvida o objectivo da Capgemini.
Do que conhece, há mais empresas – portuguesas ou instaladas em Portugal – com esta filosofia?
Engraçado como faz a questão. O significado de filosofia é o "amor pela sabedoria" e, como tal, acho que qualquer empresa que queira aumentar a sua sabedoria mudará ou ajustará inevitavelmente a sua filosofia. Como já referi, este programa iniciou-se em 2012 no seio do Grupo Capgemini e já alcançou resultados fantásticos. Mas enquanto se falar e se fizerem questões como a anterior é sinal de que ainda muito está por fazer. Felizmente, seja por obrigação ou por reconhecimento do valor, há muitas empresas a adoptar esta filosofia e, por isso mesmo, já temos exemplos fantásticos no nosso mercado de empresas tecnológicas, e não só, lideradas por mulheres. Mas uma vez mais este é um caminho que precisa de continuar a ser construído, pavimentado, com correcção de trajectórias e de "buracos". Vimos de um legado masculino de muitos anos e com uma resistência natural às mulheres, em particular em áreas ou sectores como a consultoria e a tecnologia. Penso que os media também passaram a ter um importante papel nesta "filosofia". Tal como não foi necessário mostrar que os homens fizeram bem o seu papel de gestores porque são homens, também é importante mostrar que uma boa gestora não o é por ser mulher. É importante destacar os excelentes exemplos e práticas de gestão simplesmente por o serem e não pelo género por trás das mesmas.
O segredo do sucesso
O sucesso de Cristina Rodrigues assenta no fruto de "muito trabalho, dedicação e até – agora sim, por ser mulher, esposa, mãe – de muitos sacríficos". "Porque é sempre esperado que seja a mulher a cuidar mais da família e da casa. Por isso não tenho a certeza de que o nome mais correcto seja sucesso." A presidente da Unidade de Mercado da Capgemini em Portugal diz que não chegou sozinha onde está, recordando os mentores e os professores que teve que apontaram o erro e lhe deram oportunidades. Quanto ao segredo do sucesso da Capgemini está nas pessoas, "sem dúvida e sem excepção".