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Ensino Superior 2019
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Ensino superior é uma aposta que ainda compensa?

Portugal é um dos países da OCDE onde a diferença de salário entre quem tem ou não formação superior mais se esbateu nos últimos anos. Mas nem tudo são más notícias. Estudar mais continua a compensar.

15 de Julho de 2019 às 13:12
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Entre 2007 e 2016, a probabilidade de um jovem português com formação superior ter um emprego de baixo salário cresceu em 16 pontos percentuais, uma evolução que só foi pior na Irlanda e em Espanha.

Os dados constam do relatório Employment Outlook 2019 da OCDE –Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico, que analisou o mercado laboral em 36 países. Mostram, no entanto, que mais formação ainda é sinal de um salário mais elevado, mas a diferença entre a compensação financeira de quem tem ou não um diploma é cada vez menor.


Portugal é o país onde esse desajustamento é mais vincado. A vantagem financeira de ter um diploma (relativamente a quem fica pela conclusão do ensino secundário) caiu mais de 20 pontos percentuais numa década, para um valor que está muito aquém da média apurada para os 36 países do grupo (de 3,3 pontos percentuais).

 

A análise das Nações Unidas coloca também Portugal entre os 22 países do grupo em que é mais comum um jovem com formação superior ter um salário mais baixo, aqui calculado como um salário inferior a dois terços do salário médio.

 

 

Licenciados continuam a garantir prémio salarial superior a 50%

 

 

A explicar estas discrepâncias estão o aumento do número de licenciados e a descida do nível salarial nas profissões qualificadas, uma realidade que se verifica no âmbito internacional e que, para Manuel Fontaine, diretor da Escola do Porto da Faculdade de Direito da Universidade Católica Portuguesa, não pode ter apenas uma leitura negativa.

 

"A queda do prémio salarial é consequência da existência de cada vez mais licenciados, realidade que, em si mesma, é positiva para o país", sublinha o responsável, chamando a atenção para o facto de o prémio salarial, entre recursos com formação superior, continuar a ser superior a 50%. "Isto é, continua a valer (muito) a pena frequentar o ensino superior", defende o diretor da Faculdade de Direito da Universidade Católica no Porto.

 

 

O responsável admite, ainda assim, que há margem para melhorar, "em especial nas universidades estatais, financiadas por dinheiros públicos, investindo mais em formações mais procuradas pelo mercado de trabalho e menos naquelas em que já há um excesso de graduados".

 

 

Clara Raposo, presidente do Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade de Lisboa, aborda o outro lado da questão. "Portugal tem, genericamente, baixos salários. Isso vai afetando as remunerações na entrada no mercado de trabalho, o que traz dificuldades também às empresas na captação de jovens colaboradores e na sua retenção." 

 

A responsável acredita que, a prazo, com trabalho cada vez mais qualificado e produtivo, o país caminhe para uma "distribuição de remunerações nas empresas que melhor valorize os jovens colaboradores e lhes dê oportunidades de progressão e esperança de virem a ocupar cargos de chefia e liderança". 

 

 

Melhorar é possível (e preciso)

 

 

Mesmo com o número de licenciados a aumentar nos últimos anos e várias mudanças em curso no mercado, que tendem para uma valorização de um conjunto de competências técnicas, há margem para melhorar. Portugal continua a ficar aquém da média europeia no que se refere ao número de jovens que prosseguem estudos para o ensino superior. Como sublinha Cláudia Carvalho, administradora executiva de Marketing e Comunicação da Universidade Portucalense, "é importante aumentar esta percentagem". Não só pela garantia de melhores oportunidades de emprego, defende, mas também "pelo impacto muito positivo no desenvolvimento pessoal" de um percurso formativo mais longo.

 

 

Cláudia Carvalho considera, a este propósito, que "seria interessante e útil desenvolverem-se campanhas fortes a nível nacional que expliquem aos jovens a importância de prosseguirem os estudos e, pelo menos, completarem uma licenciatura".


Portugal vs. UE: o que dizem os números

Os números divulgados já este ano pelo serviço de estatísticas da União Europeia fornecem mais alguns dados importantes na comparação entre a realidade portuguesa e a dos parceiros europeus. Segundo esta informação, Portugal está melhor do que a média da UE, no que se refere à empregabilidade dos recém-licenciados, mas longe dos países da região onde é mais fácil garantir emprego graças a um diploma.

Estatísticas divulgadas já em julho mostram que o país é o 19º em termos de empregabilidade dos seus recém-licenciados (com idades entre os 20 e os 34 anos), o que, dito de outra forma, traduz a capacidade de arranjar emprego até três anos após a conclusão dos estudos. Em números absolutos, 85,9% dos licenciados em Portugal estarão neste grupo, a média da UE fixa-se nos 85,5%. 

Dados de abril, da mesma fonte, confirmaram que Portugal tinha no ano passado 33,5% da população com formação superior, na faixa etária dos 30 aos 34 anos. A meta local e europeia passa por atingir os 40% até 2020. A UE já lá chegou, como mostra o gráfico. 


Percentagem de alunos que completaram os estudos com sucesso (2018)

Pais    Total   Homens        Mulheres      Target para 2020
UE       40.7    35.7              45.8              40.0
Alemanha 34.9  34.5           35.4              42.0
Grécia       44.3  37.5           51.3              32.0
Espanha    42.4  36.1           48.6              44.0
França       46.2  41.0           51.2              50.0
Itália           27.8  21.7           34.0              26.0

Portugal           33.5     24.1                  42.5                      40.0

 

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