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É desta que a Moody’s sobe o rating português?

Há dois anos e sete meses que a Moody’s atribui uma perspetiva positiva à dívida soberana de Portugal. A cada nova data agendada para se pronunciar sobre a República, surge a expectativa de uma melhoria da nota. Será hoje?

PIB de Portugal
Se a Moody’s subir o “rating” de Portugal em um nível, as três maiores agências terão todas a mesma notação para a dívida de longo prazo.
19 de Março de 2021 às 09:00
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A Moody’s poderá decidir-se esta sexta-feira por uma mexida na avaliação da dívida soberana de Portugal. Há quem antecipe que a agência de notação financeira deixará o “rating” inalterado, mas também quem esteja mais otimista devido à perspetiva positiva que o país tem desde agosto de 2019.

A classificação atribuída pela Moody’s a Portugal corresponde ao último grau da categoria de investimento de qualidade (ou seja, um nível acima de “lixo”). Trata-se de um Baa3, conquistado em outubro de 2018, altura em que a República saiu do patamar de “junk”. Desde então que se espera que a agência eleve a notação, já que é, de entre as quatro agências cujos “ratings” são aceites pelo BCE para avaliar a elegibilidade de uma dívida soberana para o seu programa de compra de ativos, a que atribui a nota mais baixa.

No ano passado, nas duas datas em que previu poder pronunciar-se sobre o “rating” de Portugal, em janeiro e julho, a Moody’s optou por não o fazer: não procedeu a mexidas nem publicou relatório. Poderá alguma coisa mudar hoje? Talvez. Pelo menos, é essa a expectativa quando há um “outlook” positivo para a evolução da dívida, já que é uma indicação de que a notação pode ser revista em alta – algo que acontece, no caso português, há dois anos e meio.

Na opinião da Schroders, “há uma grande possibilidade de a Moody’s rever em alta o ‘rating’ de Portugal”. “Os investidores já reconheceram os bons esforços do Governo na gestão da sua situação orçamental perante a pandemia de covid-19, além de que o apoio do Banco Central Europeu através da compra de ativos também tem ajudado”, comentou ao Negócios o economista-chefe da Schroders para a Europa, Azad Zangana.

“A Moody’s tem atualmente uma perspetiva positiva para Portugal, sinalizando assim a direção provável. Além disso, o ‘rating’ que a Moody’s atribui à dívida soberana portuguesa é inferior ao dos seus concorrentes”, sublinha. Zangana nota ainda que, na Europa, Portugal é um dos poucos países que estão atualmente posicionado para uma melhoria do “rating” [devido ao “outlook” positivo], a par com a Hungria e Chipre.

Tudo na mesma?

Já Filipe Garcia, economista da IMF – Informação de Mercados Financeiros, crê que a decisão de hoje da Moody’s “deverá ser a mesma das restantes que já se pronunciaram recentemente: nada alterar”.

“Ainda há muito pouca visibilidade acerca de quando e como a economia irá recuperar, bem como se o ‘rally’ nas ‘yields’ soberanas tem ou não ‘pernas para andar’. Portanto, o mais sensato será nada alterar em termos de notação, mesmo que seja a única agência com uma notação equivalente abaixo das da S&P e Fitch”, acrescenta Filipe Garcia, considerando que também a perspetiva deverá ser mantida.

Ainda há muita incerteza

O analista-chefe do departamento de mercados do Danske Bank, Jens Peter Sørensen, é da mesma opinião: “Penso que não haverá alterações ao ‘rating’, mas antevejo que a perspetiva positiva se mantenha.” “Atendendo ao panorama económico incerto – a maioria das previsões aponta para uma sólida retoma em 2021, mas há bastante incerteza –, pensamos que a Moody’s se vai manter em espera no que toca ao ‘rating’, mas mantendo o ‘outlook’ positivo”.

Segundo Sørensen, “as agências de ‘rating’ parecem ter optado por uma postura de ‘esperar para ver’ no que diz respeito às notações, mesmo havendo uma perspetiva positiva”.

“Se olharmos para os elementos a favor de um ‘upgrade’, podemos destacar que Portugal tem estado a beneficiar de custos de financiamento bastante baixos, bem como do apoio financeiro do SURE [instrumento temporário europeu de apoio ao emprego] e do fundo de recuperação da UE. Quanto aos ‘contras’, antevê-se que o défice orçamental de 2021 seja superior a 3% e há também o facto de a dívida pública ter aumentado”, acrescenta o analista do banco dinamarquês.

E mesmo a Schroders, apesar de acreditar numa melhoria da notação, também coloca a possibilidade de isso não acontecer. “A Moody’s poderá decidir adiar o ‘upgrade’, à espera de ver mais progressos na gestão da pandemia, mas, atendendo a que tanto o número de novos casos de covid como de óbitos estão bastante abaixo do recente pico, parece que a situação está controlada”, refere Azad Zangana.

No mês passado, a Moody’s disse acreditar que Portugal tem potencial para rentabilizar os fundos recebidos da Europa e que será um dos países que vão beneficiar mais com estes programas. Uma visão mais otimista do que a revelada em novembro último, quando sinalizou que Portugal poderia ser um dos países do mundo onde se registaria maior destruição económica, no contexto da covid, devido à prevalência de pequenas e médias empresas.

A Moody’s, recorde-se, foi a primeira das três grandes agências a colocar Portugal no “lixo” e foi a última a retirá-lo desse patamar – em outubro de 2018. A Fitch e a S&P dão uma melhor classificação à República, com as notações em dois níveis acima de “lixo”, e a DBRS é a que atribui a melhor avaliação, no antepenúltimo nível da categoria de investimento de qualidade.

 

UE: Há dois países com pior nota que Portugal e dois com “rating” igual Dos 27 Estados-membros da União Europeia, a Moody’s atribui a apenas três uma perspetiva positiva: Portugal, Chipre e Hungria. No caso húngaro, a notação é igual à portuguesa, algo que também sucede com Itália (mas que tem “outlook” estável) e com a Roménia (com perspetiva negativa, ou seja, com probabilidades de descer para “junk”). Já a dívida soberana cipriota está no segundo nível de “lixo”.

Na categoria de investimento especulativo está ainda a Grécia, no terceiro nível de “lixo”. E a Estónia é o país no qual a Moody’s não “mexe” há mais tempo: desde março 2010 que não altera “rating” nem “outlook” – ou seja, foi há 10 anos que procedeu a mudanças, ao manter a notação em A1 e elevar a perspetiva para estável (que estava sob vigilância negativa desde fevereiro de 2009).

 

 

GATILHOS

O que pode ajudar ou piorar a nota
Portugal tem pontos a favor para uma possível subida da classificação soberana. Mas as “red flags” não são negligenciáveis.

A FAVOR

Fundos Europeus
Os fundos de recuperação da União Europeia são uma oportunidade para Portugal desenvolver projetos, ajudando a economia e, com isso, reduzindo o rácio da dívida/PIB.

Rede do BCE
O programa de compra de ativos do BCE e a garantia dada à dívida na Europa constituem uma rede de segurança.

Vacinas
O programa de vacinação contra a covid ajudará a reabrir a economia e, conforme a situação for melhorando a nível mundial, o turismo poderá retomar e ter um bom peso no PIB. 


CONTRA 

Dívida Pública

O alto endividamento público é uma das vulnerabilidades. Apesar de os baixos juros da dívida garantirem custos de financiamento menores, este é um encargo que tem de diminuir.

 

Malparado da banca

O crédito malparado dos bancos continua a ser motivo de preocupação.

 

Crescimento fraco

Um cenário de crescimento económico débil, que impeça a desalavancagem do setor empresarial ou tenha um impacto negativo na banca e nas finanças públicas, também é visto como preocupante.

 

 

 

Há uma grande possibilidade de a Moody’s rever em alta o ‘rating’ de Portugal. Azad Zangana
Economista-chefe da Schroders para a Europa

 

 

A decisão ‘deverá ser a mesma das restantes que se pronunciaram recentemente: nada alterar’. Filipe Garcia
Economista da IMF – Informação de Mercados Financeiros

 

 

Penso que não haverá alterações ao ‘rating’, mas antevejo que a perspetiva positiva se mantenha. Jens Peter Sørensen
Analista-chefe do departamento de mercados do Danske Bank

 

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