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Trichet: Zona euro pode ter de lidar com uma "grande recessão nos EUA"

O antigo presidente do BCE, Jean-Claude Trichet, considera que "é inegável" que a zona euro está mais sólida do que quando estalou a última grande crise financeira, mas é preciso manter a "vigilância". A Europa deve defender “ferozmente” os seus interesses no comércio global e não pode deixar que as decisões sejam tomadas apenas pelos EUA e China.

17 de Novembro de 2019 às 09:47
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"É inegável o facto de estarmos numa posição mais sólida do que em 2008, quando tive de enfrentar o colapso do Lehman Brothers", afirmou Trichet, em entrevista à agência Lusa, defendendo, no entanto, que isso não permite ser complacente.

"Devemos manter-nos vigilantes porque mesmo numa situação mais forte, podemos ter de lidar com choques vindos do resto do mundo", disse o antigo presidente do Banco Central Europeu (BCE) à margem da conferência do Banco de Portugal "O euro 20 anos depois: a estreia, o presente e as aspirações para o futuro", que decorreu no Museu do Dinheiro, em Lisboa, na sexta-feira.

O economista francês referiu que existe hoje o "choque decorrente da redução no comércio internacional", com impacto no abrandamento do crescimento económico global que afeta o crescimento económico da zona euro.

E Trichet referiu também que a zona euro pode ter de lidar com outros fenómenos, como "um drama nas economias emergentes ou uma grande recessão nos Estados Unidos". "Isso seria certamente um choque para nós. E a resiliência é absolutamente essencial nessas circunstâncias", salientou.

"Podemos ter surpresas vindas de vários pontos da economia e do sistema financeiro à escala global e devemos continuar o trabalho árduo ao nível da Europa e de cada país individualmente", frisou o antigo presidente do BCE, que liderou a instituição entre 2003 e 2011, depois do holandês Wim Duisenberg.

Questionado sobre o que pode a zona euro fazer para estar melhor preparada para enfrentar potenciais choques, Trichet apontou a união bancária e a união do mercado de capitais como pontos "muito importantes para reforçar a solidariedade e a coesão na zona euro".

O economista francês frisou também que são necessárias "boas decisões para reforçar a resiliência", quer ao nível da zona euro, quer ao nível interno de cada país, destacando a importância de um procedimento de equilíbrio económico, que monitorize a competitividade de cada economia da zona euro.

Na entrevista à Lusa, Trichet defendeu ainda que as posições do Parlamento Europeu sejam "a última palavra em caso de decisões muito difíceis na zona euro porque isso iria reforçar a responsabilidade democrática da zona euro".

Questionado sobre se considera que o poder de artilharia do BCE diminuiu, depois das medidas de política monetária não convencionais que têm vindo a ser aplicadas, Trichet respondeu que "pensa que não", apesar de admitir que "muitas decisões foram tomadas" e muitas com caráter acomodatício.

"É óbvio que muito já foi feito e que não se pode contar apenas com os bancos centrais como o único parceiro ativo", frisou, salientando que é necessário no futuro "muita participação ativa de governos, poderes executivos de modo geral, deputados" ao nível das medidas orçamentais e reformas estruturais.

"E também precisamos que todos os outros parceiros, incluindo o setor privado, preparem o caminho para sairmos de uma situação que é anormal", com uma inflação anormalmente baixa, referiu o atual presidente do Conselho de Administração do Bruegel, um 'think tank' europeu especializado em economia. 

Na entrevista à Lusa, o antigo presidente do BCE disse ainda acreditar que, se for necessário tomar decisões extraordinárias para enfrentar "circunstâncias muito difíceis", os bancos centrais assim o farão, referindo-se tanto ao BCE, como ao Banco do Japão ou à Reserva Federal norte-americana (Fed).


"Europa não pode deixar que sejam EUA e China a tomar as decisões"

O antigo presidente do BCE, Jean-Claude Trichet, considera que a Europa deve ser mais ativa da defesa dos seus interesses comerciais. "Não podemos deixar que as decisões sejam tomadas pelos Estados Unidos e pela China sozinhos. Somos a economia aberta mais importante do ponto de vista do comércio global, somos o mercado mais importante do mundo no que diz respeito ao comércio global, e devemos defender ferozmente o nosso interesse", afirmou. 

Questionado sobre como pode uma economia como a portuguesa, muito aberta ao exterior, proteger-se de riscos internacionais, o economista francês disse que é importante "ser flexível" e parte de um "conjunto mais amplo e coeso de países e economias", frisando que Portugal é uma pequena economia, mas integrada na zona euro.

"A União Europeia no seu conjunto e a zona euro são mais abertas ao comércio internacional do que os Estados Unidos da América. Posso até dizer que somos duas vezes mais abertos ao comércio internacional em termos de volume de exportações e importações tendo em conta o Produto Interno Bruto (PIB)", referiu o antigo presidente do BCE.

Trichet acrescentou que a União Europeia está também duas vezes mais integrada nas cadeias globais de valor que os Estados Unidos, o que faz com que o protecionismo norte-americano contra a China, mas também contra a Europa, "constitua um perigo muito importante" para os europeus. "Porque somos duas vezes mais vulneráveis que os Estados Unidos a uma diminuição do comércio global, a uma diminuição das nossas exportações", salientou o antigo presidente do BCE.

Questionado sobre o ‘Brexit’, Trichet manifestou-se convicto de que "foi um erro". "Não é do interesse do Reino Unido e creio que também não é do interesse da Europa", afirmou, admitindo que alguns franceses pensam que, uma vez que o Reino Unido não embarcou verdadeiramente no processo de integração da União Europeia, não partilhando totalmente a visão histórica de longo prazo, talvez fosse melhor sair.

Contudo, o antigo presidente do BCE frisou não pensar dessa forma e considerou ser "realmente uma pena" a saída do Reino Unido da União Europeia, com impacto na "influência
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