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Cabo submarino EllaLink acaba com dependência da Europa face aos EUA

O cabo de telecomunicações submarino, com seis mil quilómetros de comprimento, ligará a Europa, através do porto de Sines, em Portugal, à América do Sul, através do porto de Fortaleza, Brasil, estando o início da operação comercial prevista para maio.

06 de Janeiro de 2021 às 10:50
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O cabo submarino EllaLink entre a América do Sul e o continente europeu, através de Sines, vai fornecer à Europa "uma infraestrutura direta e que controla", sem ficar dependente dos EUA, disse à Lusa o presidente do consórcio construtor.

O cabo de telecomunicações submarino, com seis mil quilómetros de comprimento, ligará a Europa, através do porto de Sines, em Portugal, à América do Sul, através do porto de Fortaleza, Brasil, estando o início da operação comercial prevista para maio.

Este cabo "fornece à Europa uma infraestrutura que é direta e que controla", dando "autonomia na troca de informação e de negócios que faz com outros países e continentes", afirmou o presidente executivo do consórcio EllaLink em entrevista à Lusa, quando questionado sobre o que este projeto traz para o continente europeu.

Quando as comunicações passam pelos Estados Unidos para chegar à América do Sul, a Europa "dependente simplesmente" daquele país, que pode intercetar o tráfego ou cobrar, prosseguiu Philippe Dumont.

Ao investir neste cabo submarino "é o primeiro sinal de que a Europa preocupa-se com a América do Sul", acrescentou.

"Em segundo, [significa] que a Europa não quer ficar dependente das políticas de outros países onde um [país] muito poderoso são, aliás, os Estados Unidos", apontou.

"Para mim é um movimento político claro e preciso da Europa em apoiar esta iniciativa", sublinhou Philippe Dumont.

A própria empresa EllaLink espelha a representatividade "europeia de momento", salientou o presidente executivo, que é francês, referindo que o seu número dois é espanhol, e ainda conta com um português como responsável de operação, além de irlandeses, entre outros.

Ou seja, um grupo de pessoas a trabalhar para "fazer com que uma infraestrutura como esta aconteça ao serviço da Europa", referiu.

Philippe Dumont disse esperar que venham a surgir mais cabos submarinos como a EllaLink, salientando que o mundo mudou muito na última década.

"Se olhar para trás, há 10 anos, as políticas da Europa e as dos países que foram a Europa foram impulsionadas pelas operadoras de telecomunicações" e "esse era o caminho há 10 anos", prosseguiu o executivo, em que havia empresas do setor a construir cabos submarinos.

Mas agora, "os operadores de telecomunicações estão fora da jogada, foram substituídos pelo Facebook e Google" e empresas chinesas como o Alibaba, entre outras, e a "europa não tem vetor, não tem meios hoje para levar avante a política de chegar a outros continentes ou países que não sejam iniciativas como a EllaLink", argumentou Dumont.

"É por isso que é muito importante e é por isso que espero que o resto da Europa compreenda isso e certifique-se de que o destino, em termos de transformação digital, está nas suas mãos, pelo menos em parte, e não apenas nas mãos de mega empresas que estão a fazer o que querem e que servem" apenas "os seus melhores interesses", considerou.

O projeto deste cabo de telecomunicações submarino, cuja construção arrancou em janeiro de 2018 e estará concluído em maio deste ano, envolve várias parcerias, entre as quais consta a portuguesa REN - Redes Energéticas Nacionais.

"Temos um número significativo de parceiros", disse, nomeando a Telxius, um grande operador de infraestruturas na América do Sul, a REN, que fornece rede de fibra entre as estações de cabo da EllaLink e as estações de Lisboa e Madrid.

"Temos acordos de parcerias mais específicas com a Equinix e Interxion, que são empresas de 'data centers'", acrescentou.

Sobre as expectativas relativamente ao projeto, Philippe Dumont disse ter "dois desafios".

O primeiro, "é que temos de concluir a construção do cabo e isso não é de somenos", pelo que "temos testes e procedimentos a fazer para assegurar" que todo o equipamento de transmissão fique totalmente operacional.

O segundo desafio "é o lançamento comercial", mas "estamos muito confiantes" em angariar contratos, disse.

A EllaLink é uma "operadora de operadores", neutra, o que significa que comercializa serviços a quem os quiser comprar.

"Não temos qualquer religião ou pessoas a quem não queiramos vender", afirmou.

O projeto EllaLink consiste num cabo submarino com quatro pares de fibras no seu tronco, conectando Fortaleza e Sines e também a 'data centers' em Madrid e Lisboa através de uma rede terrestre. Cada par de fibra pode transportar 18 terabits, resultando numa capacidade global do sistema de cerca de 80 terabits.

A vida útil de um cabo submarino é de cerca de 25 anos.



ALU // JNM

Lusa/Fim
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