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"É rídiculo discutirmos a regulação antes de haver inovação" na IA
A mensagem foi transmitida por Carlos Oliveira, ex-secretário de Estado do Empreendedorismo, Competitividade e Inovação. É unânime a opinião que a Europa tem de fazer mais para desenvolver a própria tecnologia de inteligência artificial.
"É ridículo discutirmos a regulação antes de haver inovação" na inteligência artificial. Foi uma das mensagens de um debate sobre tecnologia e soberania, na conferência "O Poder de Fazer Acontecer 2.0" do Negócios, que decorre nesta quinta-feira, 7 de novembro, e que está centrada no papel da inteligência artificial.
A ideia é de Carlos Oliveira, empreendedor, "senior advisor" e ex-secretário de Estado do Empreendedorismo, Competitividade e Inovação, que alerta para o papel da regulação na "restrição da tecnologia, mesmo antes de já estar desenvolvida". Na opinião do especialista devia-se "começar por quais são os interesses e benefícios" da inteligência artificial (IA).
Paulo Dimas, CEO do Center for Responsible AI, reconhece que "tem de ser encontrado um equilíbrio: a regulação não pode ser inibidora da inovação, mas tem de existir". E exemplifica, referindo-se ao "AI act" aprovado pela União Europeia (UE) em meados de julho: "a Europa demorou três anos e milhares de horas a redigir um documento que ninguém consegue perceber". A solução passa assim pelo que os Estados Unidos têm feito, "uma regulação mais específica e seletiva", e direcionada para setores, ou mesmo situações concretas.
Na opinião destes especialistas, a Europa tem regulado, mesmo tendo fortes atrasos no desenvolvimento destas tecnologias, uma vez que os países da UE apenas têm sido utilizadores destas ferramentas e não criadores. "A questão da soberania começou nos 'chips', que a Europa não produz e importa da Ásia e dos Estados Unidos", recordou o antigo secretário de Estado do Empreendedorismo, Competitividade e Inovação.
Para Portugal as limitações são ainda maiores, devido à menor capacidade financeira. "Estamos a ficar para trás e não temos uma base previsível para debater esta situação", detalha. O desenvolvimento de tecnologia nacional, em língua portuguesa, é particularmente relevante uma vez que as atuais ferramentas existentes são "treinadas em inglês, mesmo a nível cultural e de decisão e se não tivermos uma aposta forte na nossa língua, por exemplo aplicado à educação, não temos conteúdo em português", acrescenta Carlos Oliveira.
Unânime foi também a leitura de que falta um plano para financiar os desenvolvimentos de tecnologia soberana europeia ao nível da inteligência artificial. "Não temos mecanismos de financiamento ao nível da Europa, como temos para outros setores", lançou António Gameiro Marques, diretor-geral do gabinete nacional de segurança. Para o CEO do Center for Responsible AI é claro que "a Europa tem escassez de produção e que é necessário criar mais condições para a tecnologia e para que o talento cresça".
"O talento existe, temos é de o orientar para a criação de valor", concretiza Paulo Dimas. Os riscos da falta de investimento na tecnologia a nível europeu vão levar a que o "status quo" seja através de "tecnologia muito acessível e barata", acrescenta Ricardo Mendes, CEO da Tekever. Aqui entra uma outra questão relativamente ao uso de tecnologia militar e civil e como as duas se podem interligar. António Gameiro Marques recorda que "pelo menos desde 2008 que a IA tem sido aplicada às forças armadas e forças de segurança portuguesas".
Ainda assim, "o mundo militar tem muita dificuldade em adotar nova tecnologia" realça o CEO da Tekever. Para Carlos Oliveira "a insistência em separar o desenvolvimento civil e militar na Europa" pode ser apontada por uma das razões para o atraso europeu no desenvolvimento de tecnologia de IA, dado que os "Estados Unidos não o fazem".