Jarros rãs | Rafael Bordalo Pinheiro está nos produtos vendidos pela Xuinha Shop.

Uma jovem empreendedora criou o seu posto de trabalho, com o apoio das Iniciativas Locais de Emprego, tendo por base a ideia de abrir uma loja que vendesse um pouco de tudo, desde que fosse original. A Xuinha Shop é isso mesmo: um "bric-à-brac" de produtos com alma, sobretudo lusitana.

Já não se recorda do chá que bebiam mas lembra-se bem da tarde fria, num domingo de Fevereiro, em que a ideia de criar uma loja 100% original surgiu numa conversa entre amigas. Reunidas em volta de um bolo de iogurte, trocando impressões sobre um negócio que poderia vir a ser rentável, a construção aconteceu a par da convicção de que haveria público para o que Joana de Sousa, de 30 anos, gosta de chamar "artesanato urbano" - tão longe do bafio quanto da oferta massificada.

A 25 de Abril de 2008, a empreendedora inaugurou a sua primeira loja, que fez jus à data: foi mesmo uma revolução na sua vida. Era agora empresária e caçadora de "coisas" originais: "sempre à procura de novidades e de produtos diferentes." Inicialmente, confiava no seu gosto pessoal, procurava peças que gostaria de usar, produtos gastronómicos que gostaria de comer, prendas que ofereceria de bom grado. Agora, o cliente é quem mais ordena.

Vende o quê?
Afinal, o que vende esta loja de originais? Produtos "gourmet" portugueses, peças de cerâmica de artistas lusos - algumas únicas -, roupa, calçado, acessórios de moda, artigos de decoração, livros, saboaria e perfumaria portuguesa. "Antes de mais, produtos de qualidade e com 'design', preferencialmente portugueses" (ver caixa). Desde os galos de Barcelos ou das figuras de Santo António, sempre pintados a cores berrantes - marcando a diferença na decoração de uma casa - aos sabonetes da Real Saboaria, a escolha é variada nas lojas Xuinha, em Carcavelos, Cascais e Porto.

Um leque de oferta que, diz a sua proprietária, abrange um público vasto, "dos mais novos ao mais velhos, homens e mulheres, sendo que, de local para local, temos sempre de conciliar os produtos a comercializar em cada loja com o gosto do público em questão."

Para trás ficou uma carreira na área da publicidade. Foi nesta que a licenciada em Economia, pela Faculdade de Economia do Porto, trabalhou durante quatro anos. Razões da vida e do coração fizeram-na trocar uma agência de publicidade no Porto, cidade de onde é natural, pela Linha de Cascais. Quando resolveu mudar-se para Carcavelos, em finais de 2007, negociou a saída ficando com direito ao subsídio de desemprego. Já com o projecto Xuinha na cabeça, candidatou-se, através do IEFP, aos apoios por ILE (Iniciativas Locais de Emprego), criando o seu próprio posto de trabalho.

Santos da casa
O projecto que teve de apresentar incluiu um estudo das zonas onde a loja poderia nascer. Lisboa foi descartada à partida, já existiam conceitos semelhantes, mas na Linha de Cascais seria uma novidade.

Foi escolhida uma loja na zona histórica de Oeiras num projecto financiado pelo IEFP e, também, por capitais próprios. Foram necessários 20 mil euros para a abrir. Arriscou, depois, numa zona turística. Sintra foi a primeira opção mas acabou por ser descartada dada a dificuldade de encontrar uma boa localização. A escolha recaiu num amplo quiosque na Casa da Guia, em Cascais. Um semestre mais tarde, a expansão da Xuinha Shop levou-a ao Porto. Fica no coração da cidade vizinha da Leitaria da Quinta do Paço. Contrariando o provérbio, "santos da casa fazem milagres" e os resultados na sua terra têm sido "uma boa surpresa".

Consolidar o investimento, apostar em novos produtos e começar a colher frutos são os planos de médio longo prazo estabelecidos por Joana que não pensa, para já, expandir a marca geograficamente. "Passámos de um primeiro ano com uma loja para um segundo ano com três, sentimos melhorias na facturação e nos resultados do segundo ano de actividade."

Não sem dificuldades, o clima de insegurança e incerteza, criado pela crise, fechou-lhe algumas portas, sobretudo as dos bancos, mas a persistência e a vontade abriram algumas janelas. "E há sempre novas ideias para explorar desde que a nossa imaginação não nos limite."




Bilhete de Identidade



Nome Xuinha Shop Unipessoal Lda
Fundação 10 de Abril de 2008
Lojas Oeiras, Cascais e Porto
Blogue xuinhashopping.blogspot.com/
Site www.xuinha-shop.pt
Capital inicial 20 mil euros




Trabalhar com coração e a Internet



Para além dos apoios financeiros, que "neste clima de crise e pelo facto de ser uma empresa pequena e recente, são sempre difíceis de conseguir", a principal dificuldade sentida por Joana de Sousa está na busca de colaboradores. Para a Xuinha, não quer nada menos do que pessoas que "sintam o projecto como sendo seu, que consigam transmitir o conceito daquilo que estão a vender". E isso não é fácil: "Já tive alguns dissabores." Neste momento trabalham quatro pessoas nas lojas. Em duas delas recebem muitos turistas sendo essencial saber transmitir a história e as características dos produtos.

Para além das lojas é através da Internet que a Xuínha chega aos clientes que não se conseguem deslocar fisicamente um dos pontos de venda. O facto de ter um blogue constantemente actualizado com fotografias e informação sobre todos os produtos também facilita a compra electrónica.




Uma casa portuguesa com certeza



As marcas lusas são, de longe, as preferidas na Xuínha Shop. Dos comes e bebes às peças feitas à mão ou de forma artesanal a preferência vai sempre para o que por cá se faz com qualidade e com estilo. Castelbel, Real Saboaria, Artlusa, Águas Furtadas, Goma386, Rita Sevilha, Daniela Pereira, Atelier Viana Cabral, História de Panos, Alinhas, Shop Su, Planeta Tangerina, Coisas Bonitas, Tenente, Boa Boca Gourmet, Cantinho das Aromáticas, Rebuçados de Ovo de Portalegre, Alecrim aos Molhos, são algumas das marcas portuguesas que comercializa.