Notícia
Os livros que os marcaram
A inspiração arquitectural das empresas também está nas palavras. As que contam experiências, revoluções ou sonhos tornados realidade, que dão corpo às práticas, instrumentos e técnicas de gestão. São os livros imperdíveis dos gestores de topo. Conheça as bíblias de Portugal
Cinco responsáveis de topo de empresas em Portugal aceitaram o desafio do Negócios de falarem sobre os livros de gestão que mais os marcaram. As escolhas reflectem a diversidade sectorial aqui representada, desde as tecnologias à energia, passando pelo ramo imobiliário.
Nuno Ribeiro da Silva foi o único que não fez uma lista de cinco livros, preferindo incidir a sua escolha em toda a obra de um economista austríaco que considera útil conhecer/reler no actual período de turbulência: Joseph Alois Schumpeter. O presidente da Endesa Portugal , apesar de seguir as novidades, não dispensa os clássicos e relembra que "muitos bons conselhos já foram inventados há mais de dois mil anos".
Nuno Serafim, director-geral da IG markets Portugal, teve dificuldades em escolher apenas cinco. Um outro livro que não consta na lista é para este gestor muito importante: "A Arte da Guerra", de Sun Tzu, "que se mantém uma referência 2400 anos depois".
Entre as restantes escolhas dos nossos gestores de topo, salientem-se dois livros que regem a vivência da YDreams e da Aguirre Newman. São eles "The HP Way" e "Quem Mexeu no Meu Queijo?".
1 Quais considera serem, por ordem de importância, os melhores cinco livros de gestão?
2 Qual foi o caso mais emblemático como lição/aprendizagem que leu num desses livros?
3 Que aspecto de algum destes livros já pôs em prática?
António Câmara
CEO da YDreams, que opera na área do "software" para multimédia, realidade virtual e computação móvel.
1. The HP Way: How Bill Hewlett and I Built Our Company (David Packard), Flight, My Life in Mission Control (Chris Kraft), High-Tech Entrepreneur's Handbook: How to Start & Run a High-Tech Company (Jack Lang), Hackers and Painters: Big Ideas from the Computer Age (Paul Graham) e Achievers: Visionary Irish Leaders Who Achieved Their Dream (Ivor Kenny). O primeiro conta a história e os valores da maior empresa tecnológica do planeta. O segundo consiste na história da aventura espacial americana contada por um dos seus principais gestores. O terceiro é um excelente manual para um empreendedor de alta tecnologia e o quarto é um livro de culto sobre tecnologia, pintura e "start- -ups". O último conta a história de empreendedores irlandeses que mudaram a Irlanda.
2. A cultura da YDreams resulta da leitura do livro "The HP Way". A visão de negócio da YDreams resulta também da experiência da HP que passou de uma empresa que desenvolvia projectos para outra que cria e distribui produtos em vários sectores.A noção de que não há melhor estudo de mercado do que apresentar um produto a dez potenciais clientes proposta por Jack Lang foi por nós adoptada desde o início da YDreams.
3. O livro que como cidadão português mais me influenciou foi a história da transformação da Irlanda em vinte anos contada por alguns dos seus principais actores. Algo que pode ser realizado em Portugal.
Maria da Glória Ribeiro
Maria da Glória Ribeiro, "managing partner" da empresa de "executive search" AMROP.
1. Good Luck - Creating the conditions for successful life and business (Alex Marvin e Fernando Trías de Bes), Mastering Alliance Strategy (James D. Bamford, Benjamin Gomes-Casseres e Michael S. Robinson), What's Corporate Governance? (John Colley, Wallace Stettinius, Jacqueline Doyle e George Logan), Blue Ocean Strategy: How to Create Uncontested Market Space and Make Competition Irrelevant (W. Chan Kim e Renée Mauborgne) e The Future of Management (Bill Breen e Gary Hamel).
2 e 3. Do primeiro livro ("Good Luck") retirei a aprendizagem, que tento pôr em prática, de que temos que encontrar, de forma permanente, a energia, a vontade, e a força em nós próprios. É um livro fundamental para esta época de crise, que requer uma capacidade de reacção extra.
Nuno Ribeiro da Silva
Presidente da eléctrica Endesa Portugal.
1. 2. e 3. Prefiro os livros de autores mais académicos do que os livros dos gestores "da moda", sem querer com isto desmerecê-los. Digo-o sem nenhum desprimor. No entanto, tenho sempre a percepção de que esses livros são muito conjunturais. Para a escala das minhas empresas, do meu universo, a aplicabilidade é pouca ou nula. Por isso, prefiro os clássicos, os académicos, em vez de experiências pessoais de "viagem". Não subestimo essas experiências, gosto de as conhecer, mas não as aplico. Tenho dificuldade em tomar como Bíblia a escritura do apóstolo de última hora (o gestor de sucesso). Nesses livros, muitas vezes confunde-se a personalidade do líder com o sucesso do "case study", sem que tenha propriamente sido introduzida uma rotura revolucionária no que são as técnicas, instrumentos e práticas de gestão.
Não desmereço a importância de muitos "case studies", mas frequentemente esses casos de sucesso têm a ver com um conjunto de factores da envolvente, é marcado pelo momento, pelo contexto e muitas vezes por factores aleatórios. Não os tomo como guião. É preciso compreender a economia, independentemente das práticas de gestão do micro-cosmos da empresa, para se ser um bom gestor. E é também necessária a percepção da envolvente no domínio político-cultural. É preciso ter em conta o aspecto da dimensão empresarial, mas também do enquadramento cultural em que a empresa actua. Tenho pressupostos diferentes se estiver a actuar no contexto de matriz latina, francófona ou anglo-saxónica.Assim, considero que é muito útil conhecer toda a obra de Schumpeter. É importante relê-lo agora. Neste momento de turbulência, estão lá as pedras basilares.
Nuno Serafim
Director-geral da IG Markets Portugal.
1. Liar´s Poker (Michael Lewis), When Genius Failed (Roger Lowenstein), The Intelligent Investor (Benjamin Graham), O Mundo é Plano (Thomas Friedman) e Blue Ocean Strategy (W. Chan Kim e Renée Mauborgne).
2. Tendo sempre feito carreira nos mercados financeiros, as minhas preferências literárias sempre se concentraram, no que diz respeito ao tema "negócios e gestão", a livros sobre investimento quer nas versões biográficas ou nas versões mais técnicas, não sendo portanto livros de "gestão pura". Todos os livros enunciados são referências para mim, ou porque falam de gente extraordinária ou porque explicam temas e acontecimentos complexos de forma extremamente simples que nos ajudam a perceber melhor o mundo em que vivemos. A única excepção do lote é o Blue Ocean Strategy, que é um livro centrado em estratégia empresarial, multi-sectorial e focado na criação de novos mercados e criatividade. Na generalidade, a genialidade das mensagens transmitidas nestes livros está na maior parte das vezes associada à sua simplicidade e pragmatismo, o que os torna referências intemporais.
3. A capacidade de explicar a realidade cada vez mais complexa que nos envolve é talvez a maior virtude de todos estes livros. No turbilhão de acontecimentos que nos rodeia todos os dias, na maior parte das vezes o que precisamos são pistas que nos ajudem a descodificar e interpretar acontecimentos e actuar em conformidade. Não creio que exista um modelo ou conselho preconizado por alguém, por mais sábio, que seja "per si" a resposta aos problemas que enfrentamos. No entanto, os livros que referi, no seu conjunto, têm-me ajudado bastante a decifrar as complexas teias da gestão.
Paulo Silva
Paulo Silva, "managing partner" para Portugal da consultora imobiliária Aguirre Newman
1. Quem Mexeu no Meu Queijo? (Spencer Johnson), Compromisso: Nunca Desistir (Tomaz Morais), Blink (Malcom Gladwell), A Agenda (Michael Hammer) e Vencer (Jack Welch).
2. Gostaria destacar "Quem Mexeu no meu Queijo?" por várias razões: é um livro que nos sensibiliza para a necessidade de estarmos atentos aos processos de mudança, sensibilizando-nos para a necessidade de os anteciparmos e de nos deslocarmos da nossa zona de conforto para adaptação a uma nova realidade. A aplicação não se resume ao campo profissional, alargando-se também aos aspectos de ordem social e familiar que enquadram a nossa vivência.
3. Quotidianamente, colocamos em prática aspectos que são particulares de cada um destes livros ou que lhes são comuns. "Compromisso: Nunca Desistir" constitui uma óptima orientação para auxiliarmos equipas a encontrarem a força anímica para ultrapassarem dificuldades acrescidas na concretização dos negócios e a manter a sua coesão. "Blink" diz-nos que os negócios são mais que rácios, reforçando um pouco a ideia transmitida por Jack Welch (Vencer) de que gerir uma empresa envolve mais do que, a título de exemplo, seleccionar um projecto de investimento em função da sua TIR (algo que uma criança poderia realizar). Na actual conjuntura, em que procuramos criar azimutes para desenvolver a nossa actividade, sublinho a necessidade de actuarmos com a abertura de espírito que nos é transmitida por Fungadela e Correria em "Quem Mexeu no meu Queijo?", livro que faço questão em oferecer a todos os novos colaboradores.
Nuno Ribeiro da Silva foi o único que não fez uma lista de cinco livros, preferindo incidir a sua escolha em toda a obra de um economista austríaco que considera útil conhecer/reler no actual período de turbulência: Joseph Alois Schumpeter. O presidente da Endesa Portugal , apesar de seguir as novidades, não dispensa os clássicos e relembra que "muitos bons conselhos já foram inventados há mais de dois mil anos".
Entre as restantes escolhas dos nossos gestores de topo, salientem-se dois livros que regem a vivência da YDreams e da Aguirre Newman. São eles "The HP Way" e "Quem Mexeu no Meu Queijo?".
1 Quais considera serem, por ordem de importância, os melhores cinco livros de gestão?
2 Qual foi o caso mais emblemático como lição/aprendizagem que leu num desses livros?
3 Que aspecto de algum destes livros já pôs em prática?
Harper Collins Publishers 1995 212 págs. |
CEO da YDreams, que opera na área do "software" para multimédia, realidade virtual e computação móvel.
1. The HP Way: How Bill Hewlett and I Built Our Company (David Packard), Flight, My Life in Mission Control (Chris Kraft), High-Tech Entrepreneur's Handbook: How to Start & Run a High-Tech Company (Jack Lang), Hackers and Painters: Big Ideas from the Computer Age (Paul Graham) e Achievers: Visionary Irish Leaders Who Achieved Their Dream (Ivor Kenny). O primeiro conta a história e os valores da maior empresa tecnológica do planeta. O segundo consiste na história da aventura espacial americana contada por um dos seus principais gestores. O terceiro é um excelente manual para um empreendedor de alta tecnologia e o quarto é um livro de culto sobre tecnologia, pintura e "start- -ups". O último conta a história de empreendedores irlandeses que mudaram a Irlanda.
2. A cultura da YDreams resulta da leitura do livro "The HP Way". A visão de negócio da YDreams resulta também da experiência da HP que passou de uma empresa que desenvolvia projectos para outra que cria e distribui produtos em vários sectores.A noção de que não há melhor estudo de mercado do que apresentar um produto a dez potenciais clientes proposta por Jack Lang foi por nós adoptada desde o início da YDreams.
3. O livro que como cidadão português mais me influenciou foi a história da transformação da Irlanda em vinte anos contada por alguns dos seus principais actores. Algo que pode ser realizado em Portugal.
Jossey-Bass 2004 104 págs |
Maria da Glória Ribeiro, "managing partner" da empresa de "executive search" AMROP.
1. Good Luck - Creating the conditions for successful life and business (Alex Marvin e Fernando Trías de Bes), Mastering Alliance Strategy (James D. Bamford, Benjamin Gomes-Casseres e Michael S. Robinson), What's Corporate Governance? (John Colley, Wallace Stettinius, Jacqueline Doyle e George Logan), Blue Ocean Strategy: How to Create Uncontested Market Space and Make Competition Irrelevant (W. Chan Kim e Renée Mauborgne) e The Future of Management (Bill Breen e Gary Hamel).
2 e 3. Do primeiro livro ("Good Luck") retirei a aprendizagem, que tento pôr em prática, de que temos que encontrar, de forma permanente, a energia, a vontade, e a força em nós próprios. É um livro fundamental para esta época de crise, que requer uma capacidade de reacção extra.
Transaction Publishers 1982 (1ª ed. em alemão, 1911) 244 págs. |
Presidente da eléctrica Endesa Portugal.
1. 2. e 3. Prefiro os livros de autores mais académicos do que os livros dos gestores "da moda", sem querer com isto desmerecê-los. Digo-o sem nenhum desprimor. No entanto, tenho sempre a percepção de que esses livros são muito conjunturais. Para a escala das minhas empresas, do meu universo, a aplicabilidade é pouca ou nula. Por isso, prefiro os clássicos, os académicos, em vez de experiências pessoais de "viagem". Não subestimo essas experiências, gosto de as conhecer, mas não as aplico. Tenho dificuldade em tomar como Bíblia a escritura do apóstolo de última hora (o gestor de sucesso). Nesses livros, muitas vezes confunde-se a personalidade do líder com o sucesso do "case study", sem que tenha propriamente sido introduzida uma rotura revolucionária no que são as técnicas, instrumentos e práticas de gestão.
Não desmereço a importância de muitos "case studies", mas frequentemente esses casos de sucesso têm a ver com um conjunto de factores da envolvente, é marcado pelo momento, pelo contexto e muitas vezes por factores aleatórios. Não os tomo como guião. É preciso compreender a economia, independentemente das práticas de gestão do micro-cosmos da empresa, para se ser um bom gestor. E é também necessária a percepção da envolvente no domínio político-cultural. É preciso ter em conta o aspecto da dimensão empresarial, mas também do enquadramento cultural em que a empresa actua. Tenho pressupostos diferentes se estiver a actuar no contexto de matriz latina, francófona ou anglo-saxónica.Assim, considero que é muito útil conhecer toda a obra de Schumpeter. É importante relê-lo agora. Neste momento de turbulência, estão lá as pedras basilares.
Penguin 1990 256 págs |
Director-geral da IG Markets Portugal.
1. Liar´s Poker (Michael Lewis), When Genius Failed (Roger Lowenstein), The Intelligent Investor (Benjamin Graham), O Mundo é Plano (Thomas Friedman) e Blue Ocean Strategy (W. Chan Kim e Renée Mauborgne).
2. Tendo sempre feito carreira nos mercados financeiros, as minhas preferências literárias sempre se concentraram, no que diz respeito ao tema "negócios e gestão", a livros sobre investimento quer nas versões biográficas ou nas versões mais técnicas, não sendo portanto livros de "gestão pura". Todos os livros enunciados são referências para mim, ou porque falam de gente extraordinária ou porque explicam temas e acontecimentos complexos de forma extremamente simples que nos ajudam a perceber melhor o mundo em que vivemos. A única excepção do lote é o Blue Ocean Strategy, que é um livro centrado em estratégia empresarial, multi-sectorial e focado na criação de novos mercados e criatividade. Na generalidade, a genialidade das mensagens transmitidas nestes livros está na maior parte das vezes associada à sua simplicidade e pragmatismo, o que os torna referências intemporais.
3. A capacidade de explicar a realidade cada vez mais complexa que nos envolve é talvez a maior virtude de todos estes livros. No turbilhão de acontecimentos que nos rodeia todos os dias, na maior parte das vezes o que precisamos são pistas que nos ajudem a descodificar e interpretar acontecimentos e actuar em conformidade. Não creio que exista um modelo ou conselho preconizado por alguém, por mais sábio, que seja "per si" a resposta aos problemas que enfrentamos. No entanto, os livros que referi, no seu conjunto, têm-me ajudado bastante a decifrar as complexas teias da gestão.
Pergaminho 2001 104 págs |
Paulo Silva, "managing partner" para Portugal da consultora imobiliária Aguirre Newman
1. Quem Mexeu no Meu Queijo? (Spencer Johnson), Compromisso: Nunca Desistir (Tomaz Morais), Blink (Malcom Gladwell), A Agenda (Michael Hammer) e Vencer (Jack Welch).
2. Gostaria destacar "Quem Mexeu no meu Queijo?" por várias razões: é um livro que nos sensibiliza para a necessidade de estarmos atentos aos processos de mudança, sensibilizando-nos para a necessidade de os anteciparmos e de nos deslocarmos da nossa zona de conforto para adaptação a uma nova realidade. A aplicação não se resume ao campo profissional, alargando-se também aos aspectos de ordem social e familiar que enquadram a nossa vivência.
3. Quotidianamente, colocamos em prática aspectos que são particulares de cada um destes livros ou que lhes são comuns. "Compromisso: Nunca Desistir" constitui uma óptima orientação para auxiliarmos equipas a encontrarem a força anímica para ultrapassarem dificuldades acrescidas na concretização dos negócios e a manter a sua coesão. "Blink" diz-nos que os negócios são mais que rácios, reforçando um pouco a ideia transmitida por Jack Welch (Vencer) de que gerir uma empresa envolve mais do que, a título de exemplo, seleccionar um projecto de investimento em função da sua TIR (algo que uma criança poderia realizar). Na actual conjuntura, em que procuramos criar azimutes para desenvolver a nossa actividade, sublinho a necessidade de actuarmos com a abertura de espírito que nos é transmitida por Fungadela e Correria em "Quem Mexeu no meu Queijo?", livro que faço questão em oferecer a todos os novos colaboradores.