Ricardo Silva, 35 anos, trabalhava na Qimonda há ano e meio quando soube que tinha de voltar para o desemprego. Durante 14 anos trabalhou noutra multinacional, a Lear Corporation, que fechou por motivos de deslocalização. Foi aí que sentiu o sabor amargo do desemprego pela primeira vez. Nessa altura, passou-lhe pela cabeça lançar um negócio próprio, mas adiou a ideia. Esteve nas tintas CIN durante três meses e só depois surgiu a oportunidade de ser operador de produção na Qimonda, Pôs mãos à obra. Quando começou a ver os primeiros colaboradores a irem de férias e o trabalho a escassear, não estranhou. Já tinha visto aquele cenário antes. Foi sem surpresa que sentiu o segundo bilhete de entrada para o desemprego. E desta vez sabia perfeitamente o que queria: ser patrão de si próprio.
O Planeta Animal não era a ideia inicial. Foi a esposa que lhe chamou a atenção para a área do comércio de aves, peixes e acessórios. Desde sempre que é apaixonado por animais. Porque não fazer disso negócio? Era algo que gostava e que percebia: tinha as ferramentas necessárias para ter sucesso. Só na sua garagem tem cerca de 12 aquários e dedica-se à compra e venda de peixes em fóruns de aquariofilia. "Pensei pedir ao Centro de Emprego o resto do dinheiro para poder lançar este projecto. Tinha tudo tratado quando soube desta oportunidade. Pedi logo ao meu contabilista para não avançar, porque estas condições eram melhores", explica.
Ricardo Silva só está desagradado com o tempo que todo o processo está a demorar. "Pensei que isto demorava menos tempo. Há falta de informação no Centro de Emprego", diz. Neste momento, o empreendedor ainda está a receber o subsídio de desemprego, motivo pelo qual ainda não iniciou a actividade da sua empresa. Quanto à formação que já teve na ANJE, explica que foi muito esclarecedora. "Sem eles não teria conseguido elaborar um plano de negócios com tantos pormenores, tantos estudos." No Planeta Animal, o ex-operador de produção da Qimonda vai vender animais de estimação, respectivos alimentos e acessórios. Como actividade secundária, vai desenvolver o comércio a retalho em feiras dos produtos relacionados com o grupo das aves. Qual é a chave para o sucesso? O sítio da loja. "É um local de passagem de muita gente. Não poderia haver melhor localização do que aquela", diz.
O promotor do projecto está ansioso. Assim que receber os 40 mil euros do fundo, começa a trabalhar. "A única coisa que tenho a dizer é que todo este processo demora muito tempo. Já estou farto de estar em casa, de ter esta angústia de estar parado."
Ricardo Silva tem o nono ano de escolaridade e encontra-se a terminar o 12º ano através do programa Novas Oportunidades. Com o Planeta Animal vai criar mais um posto de trabalho e não necessita de recorrer a investimento externo.