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Belmiro de Azevedo devia voltar para a universidade
O potencial empreendedor no ensino superior está em baixa. "É uma questão cultural" e a investigadora Aurora Teixeira gostaria de ver os empresários nas universidades. Os estudantes elegem Belmiro de Azevedo...
02 de Abril de 2009 às 12:09
O potencial empreendedor no ensino superior está em baixa. "É uma questão cultural" e a investigadora Aurora Teixeira gostaria de ver os empresários nas universidades. Os estudantes elegem Belmiro de Azevedo, seguido por Joe Berardo, Américo Amorim, Pinto Balsemão e Rui Nabeiro
É o "role-model" para os estudantes do ensino superior português, que o colocam muito à frente do homem mais rico de Portugal, Américo Amorim, e até do mais rico do mundo, Bill Gates. Por isso, Belmiro de Azevedo devia voltar para a universidade.
A investigadora gostaria de ver Belmiro de Azevedo, António Câmara e João Nabeiro, entre outros, no ensino superior, com um programa, um curso, uma cadeira ou um conjunto de seminários. Mas esta presença teria que ser sistemática e não meramente pontual.
"Muitas vezes temos surpresas boas e estas pessoas até têm disponibilidade. Só devemos pedir às pessoas muito ocupadas, que fazem a academia, que têm que descer do pedestal", atira. Aurora Teixeira fala da "criação de disciplinas bicéfalas, com duas pessoas diferentes, o académico mais de gema e um empresário, fazer a ponte entre as escolas do ensino superior e as empresas, e isso não se faz por decreto", conclui.
Os estudantes do ensino superior, quando confrontados com as palavras empreendedor e empresa, apontam Belmiro de Azevedo (34% das respostas) e a Sonae (32%). Só depois aparecem Bill Gates (13%), Joe Berardo (1,7%), Steve Jobs (1,5%), Américo Amorim (1,4%), Richard Branson (1,3%), Francisco Pinto Balsemão (1,1%) e Rui Nabeiro (1%), entre outros.
Estes números constam do mais recente estudo da investigadora da Faculdade de Economia do Porto - "Percepção dos estudantes do ensino superior português relativamente à criação de novos negócios", que se enquadra num projecto internacional e envolve sete universidades estrangeiras.
O estudo de Aurora Teixeira dá a conhecer uma propensão para o empreendedorismo de baixa intensidade nos estudantes universitários, muito por causa da falta desta ligação efectiva ao meio empresarial e a redes sociais de empreendedores. A investigadora aponta o "bom exemplo da Universidade de Aveiro, em estreita ligação com o centro de investigação da Nokia/Siemens Networks", responde a docente da FEP.
Os resultados do estudo de Aurora Teixeira baseiam-se em 5.863 respostas válidas (1,6% dos estudantes inscritos em instituições de ensino superior). De referir que quase metade das respostas (48,8%) são de concelhos da região Norte.
Mais de um terço querem ser empresários
Mas afinal qual é a atitude dos estudantes portugueses em relação à criação de novos negócios? Intenções há muitas, já que do total de alunos inquiridos 35% afirmaram que tinham intenções de se tornar empresários no final dos estudos.
Empreendedorismo efectivo (criação de um negócio) pode ser encontrado em menos de 10% dos estudantes do ensino superior inquiridos. Mas cerca de 35% vêem-se no futuro próximo como empreendedores, valores idênticos aos da Áustria, mas muito abaixo da realidade nos Estados Unidos.
"Aparentemente, os estudantes do ensino superior português querem muito ser empreendedores, mas não basta querer. Até porque 60% dos inquiridos preferem ser funcionários, pela estabilidade de emprego, de salário e devido ao facto de não implicar tanto risco", diz a investigadora.
O que este estudo vem demonstrar é que a ausência de uma capacidade para arriscar não é tanto resultado de falta de ideias ou de conhecimento para iniciar um negócio, mas é uma questão cultural. "Não é falta de ideias, é mais a aversão ao risco, que pode ser mitigada se tivermos formação e, a partir daqui, o risco controlado", sustenta.
"As escolas do ensino superior formam cada vez mais pessoas para serem trabalhadores por conta de outrem. O nosso ensino é individualista, os estudantes trabalham muito para a nota e não para a aprendizagem. Isto é um discurso que pouca gente admite, mas há esta cultura individual. O empreendedorismo precisa que o nosso eu seja substituído pelos nós, pela equipa", atira a investigadora da FEP.
Falta de financiamento limita apetite empreendedor
Apenas 14% dos estudantes acham que ser funcionário é a opção mais adequada como profissão para o futuro. Mas, para 61,1%, a falta de financiamento é um impedimento ao trabalho por conta própria.
De acordo com os estudantes do ensino superior, as hipóteses de iniciar um novo negócio com sucesso (isto é, que sobrevive mais de cinco anos) são de 50,4%, o que é bastante superior ao valor real verificado a nível global (22%).
Os estudantes inquiridos acreditam que os empreendedores criam a sua primeira empresa por volta dos 30 anos de idade, subestimando, assim, a idade real com que um empreendedor inicia o seu negócio em Portugal (37 anos de idade). Apesar de uma relativamente baixa percentagem (6,4%) dos estudantes ter criado (taxa empreendedora efectiva) ou ter dado passos no sentido de estabelecer uma empresa (5,2%), mais de 70% dos inquiridos sentem-se atraídos pela ideia.
Apesar de a taxa potencial de empreendedorismo entre os estudantes portugueses de ensino superior ser considerável, os dados revelam que eles têm um relativamente baixo conhecimento do processo empresarial. Poucos compreendem o tipo de assuntos com que um empreendedor é confrontado quando leva uma ideia para o mercado, poucos compreendem como se criam planos e conceitos de negócios, quais são as técnicas que ajudam a perceber o que o mercado necessita, ou mesmo como financiar legalmente um novo conceito de negócios.
Conclusão: o interesse dos estudantes pela criação de novas empresas poderia ser melhorado, se as escolas colocassem o aluno em contacto com a rede necessária para iniciar um negócio e se colocassem os alunos empresariais em contacto entre eles
Aurora Teixeira diz que a educação de empreendedorismo em geral e o ensino superior em particular deviam funcionar como um núcleo, colocando diferentes tipos de alunos em contacto uns com os outros e ajudando na criação de pontes entre potenciais empreendedores e organizações privadas de negócios, nomeadamente aquelas que funcionam como organizações de apoio ao empreendimento, tais como incubadoras, investidores providenciais e organismos de direitos de propriedade.
Afinal de contas, do total de inquiridos, 6,4% responderam que haviam criado pelo menos uma empresas e 11,6% alunos afirmaram ter criado ou tomado medidas para estabelecer um novo negócio.