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"Existem refinarias de lítio para avançar" em Portugal, adianta ex-secretária de Estado da Energia
Em entrevista ao Negócios, Maria João Pereira, ex-secretária de Estado da Energia, considera que Portugal tem hipóteses de ser um fornecedor de lítio para a Europa e revela que haverá notícias "brevemente" sobre projetos de refinarias no país.
Atualmente, Portugal já tem projetos a avançar no terreno na mineração de lítio e também planos firmes para a construção de uma fábrica de baterias elétricas da chinesa CALB em Sines, mas falta perspetivas para o processo intermédio, a refinação deste mineral a que chamam "ouro branco". Um cenário que pode mudar "brevemente", adianta Maria João Pereira, ex-secretária de Estado da Energia, em entrevista ao Negócios no NOW.
"Infelizmente, a falência da [fabricante sueca] Northvolt fez os planos serem um pouco atrasados. Existem, nós sabemos que existem outras refinarias para avançar e que, se calhar, vamos ter notícias brevemente. Mas, naturalmente, que termos uma refinaria nopaís seria também importante, para completar toda a cadeia de valor", revela.
A antiga governante (que foi afastada da pastada energia no início deste ano, no âmbito mini remodelação governamental feita por Luís Montenegro muito pouco antes da queda do seu Executivo) sublinha que essa foi, justamente, a estratégia da China que "tem toda a cadeia de valor e, por isso, é que pode baixar os preços do lítio. Porque consegue acomodar dentro da sua cadeia de valor os custos da mineração. Portanto, é importante a Europa também ter essa capacidade e diversificar as fontes. O que nós estamos a assistir também é uma mudança do mercado do lítio, de regional para um mercado mais global. Estão a surgir várias refinarias em todo o mundo e, por isso, há também este novo paradigma".
Além disso, lembra a ex-secretária de Estado, formada em Engenharia de Minas, Portugal está numa boa posição para ser um fornecedor para a Europa, uma vez que só estão identificados depósitos de lítio em Portugal e na Sérvia, que está fora da União Europeia (UE).
Os preços do lítio, o chamado "ouro branco", caíram em 2023 e 2024, devido à desaceleração do crescimento da procura. O excedente da oferta tem vindo a pressionar os preços e o BNP Paribas só espera uma inversão da tendência em 2027. Maria João Pereira acredita que o "timing" pode ser o ideal.
"Temos projetos a decorrer neste momento, projetos minérios que estão em fase ainda preliminar, ainda não estão em construção, mas que têm possibilidade de vir a ser implementados no nosso país e têm previsões para início de produção em 2027. Naturalmente que isto é um bom sinal, é promissor, embora neste momento fazer projeções é sempre muito complicado, dada a situação geopolítica que vivemos. Mas esperemos que, se isto se verificar, que seja uma boa notícia para Portugal", afirma.
Para a docente do Instituto Superior Técnico, é essencial o país posicionar-se neste mercado, uma vez que é necessário "diversificar as nossas fontes de abastecimento de matérias-primas".
"Estamos a assistir àquilo que se está a passar, por exemplo, neste momento em todo o mundo. A China tem feito uma política de certa forma de controlar o mercado e, portanto, isso tem prejudicado os outros 'players'. Assistimos aos Estados Unidos a pressionar a Ucrânia para, precisamente, tomar conta das suas matérias-primas. É uma questão de segurança da economia, mas também é uma questão de resiliência e de soberania. Quem não tiver matérias-primas vai ter dificuldade de ter a sua economia de forma autónoma e soberana", avisa.