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Corrigir os erros de seis décadas

É essencial para o planeta e para a humanidade, é fundamental saber conservá-la e geri-la

Corrigir os erros de seis décadas
06 de Junho de 2012 às 09:00
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Cidade do México| A pressão urbana das grandes metrópoles é uma das maiores ameaças globais à biodiversidade.


A Convenção para a Diversidade Biológica, à qual pertencem 193 nações do mundo faz 20 anos. Resultou da cimeira do Rio de 1992 e visava impedir a perda de espécies. Mas será que adiantou alguma coisa?

Hoje, estima-se que o número de espécies que habitam a Terra varie entre dois e 100 milhões. Por isso, e segundo Braulio Dias, secretário executivo da Convenção para a Diversidade Biológica, não se consegue ter uma estimativa precisa da perda de biodiversidade. É um facto que não causa surpresa, devido ao grau de incerteza que os investigadores enfrentam perante a realidade. Mas também significa que não se pode precisar o número real de espécies que se estão a perder por unidade de tempo.

No entanto, sabe-se que os factores que conduzem à eliminação de espécies estão a intensificar-se devido ao crescimento da população do planeta e do consumo dos recursos, a maior parte das vezes com base em actividades não sustentáveis. Ou seja, continua a haver conversão do uso das zonas florestadas para a agricultura e urbanização, aumenta a poluição e as alterações climáticas intensificam-se.

A pressão urbana e a conversão de terras para a agricultura constituem a maior ameaça global à biodiversidade do planeta. E não é um problema actual. Basta pensarmos que, no final do século XIX, a floresta portuguesa era quase insignificante e limitada à zona sul do país, devido à exploração de madeira como fonte energética e como material de construção e à conversão de terras para a agricultura. Mas os planos de florestação, desenvolvidos desde essa data, permitiram que hoje ela cubra mais de 30% do nosso território.

"Em rigor, as actividades de exploração de recursos naturais bióticos, por si só, não constituem uma ameaça à biodiversidade", diz Paula Sarmento, presidente do Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade (ICNB). "O problema surge quando há uma sobre-exploração dos recursos, que corre quando determinadas populações de seres vivos são colhidas a taxas superiores à da sua reposição", acrescenta. Também quando a actividade de exploração implica a destruição do habitat onde elas se desenvolvem, impedindo a sua renovação. O excesso de exploração de um determinado recurso natural pode, assim, levar à extinção de populações de ser vivos ou mesmo de espécies inteiras de animais e plantas.

Ou seja, a actividade humana, desenvolvida de forma não sustentável, leva ao empobrecimento e ruptura dos serviços prestados pelos ecossistemas. As consequências são sobejamente conhecidas. Em Portugal, temos o caso do Bacalhau da Terra Nova, que quase levou à extinção da espécie nas costas do Canadá, até pelo impacto que teve na indústria da pesca longínqua nacional.

Além do empobrecimento paisagístico e de recursos naturais, a perda de biodiversidade pode aumentar a vulnerabilidade à erosão e à ocorrência de catástrofes naturais como cheias, deslizamento de terras e incêndios. Também levar ao aparecimento de pragas, devido à mudança das condições climáticas para circunstâncias que lhes são favoráveis.

A alteração dos ecossistemas naturais intensificou-se ainda mais nos últimos 50 anos, com perdas por vezes irreversíveis de biodiversidade. Mas esta é essencial.

Basta, entre muitos outros benefícios que proporciona à humanidade, lembrar o efeito na mitigação de prejuízos das alterações climáticas como a ocorrência de tempestades e cheias, pelo papel que tem na estabilização do clima e do ciclo da água. É, por isso, que a sua conservação e gestão sustentável é fundamental.






A Rede Natura 2000

A Rede Natura 2000 é uma rede ecológica para o espaço da União Europeia. Tem, como finalidade, assegurar a conservação a longo prazo das espécies e dos habitas mais ameaçados da Europa, contribuindo para parar a perda de biodiversidade. Constitui o principal instrumento para a conservação da natureza na União Europeia. Actualmente cobre cerca de 18 % do território e tem contribuído para a protecção de espécies ameaçadas e preservação de espaços verdes de lazer.

A legislação sobre a qualidade do ar e da água tem vindo a reduzir a pressão sobre a biodiversidade e a população. Por outro lado, a intensificação da utilização dos solos, a perda de habitats e a sobrepesca impediram a UE de atingir a meta almejada de suster a perda de biodiversidade até 2010.






Dados-chave

• A biodiversidade engloba todas as espécies de seres vivos existentes no planeta. Desempenha um papel fundamental para a espécie humana, pois cerca de 40% da economia mundial e 80% das necessidades dos povos dependem dos recursos biológicos.

• Cerca de metade dos medicamentos mais prescritos nos Estados Unidos e uma fracção consideravelmente mais alta nos países em desenvolvimento derivam de compostos naturais.

• A biodiversidade é um sistema em constante evolução e mutação. A meia-vida média de cada espécie é de um milhão de anos e 99% das que surgiram sobre o nosso planeta já estão extintas.

• Projecções indicam que a biodiversidade deverá decrescer 10% até 2050, principalmente na Ásia, Europa e África Austral.

• Segundo dados da ONU, há quase 48 mil espécies ameaçadas em todo mundo, 17 mil das quais estão em perigo de extinção.

• Estima-se que cerca de 2 milhões de hectares do solo terrestre, uma área equivalente a 15% da sua superfície, estejam degradados devido à actividade humana.

• Portugal, no enquadramento europeu, é considerado um país rico e diversificado em flora e fauna. Possui um elevado número de espécies endémicas, consideradas como relíquias do ponto de vista genético.

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