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Ameaças de Trump preocupam jornalistas e correspondentes nos EUA
As ameaças do Presidente eleito norte-americano Donald Trump de processar jornalistas e revogar licenças de órgãos de comunicação social, preocupam jornalistas e correspondentes nos Estados Unidos, a um mês da tomada de posse.
"O que eu acho mais preocupante é que os apoiantes também são coniventes com essa atitude de ameaça constante à imprensa e entram no ataque constante aos jornalistas, colocando a profissão num mar de descrédito", disse à Lusa a jornalista brasileira-americana Cleide Klock, correspondente da SBT na Califórnia.
"Até acharam graça quando, num comício, Trump disse que não se importaria se os jornalistas fossem atingidos por tiros", continuou.
A retórica usada por Donald Trump durante a campanha escalou na última semana, quando o Presidente eleito entrou com um processo contra o jornal Des Moines Register e a especialista em sondagens J. Ann Selzer. O motivo é uma sondagem referente ao estado do Iowa, publicada antes da eleição, cujas previsões estavam completamente erradas.
"Tenho de o fazer", disse Trump numa conferência de imprensa, na Florida. "Temos de endireitar a imprensa". Anteriormente, o presidente eleito classificou os jornalistas de "inimigos do povo".
Este caso difere de outros processos interpostos por Trump porque acusa o jornal de interferência eleitoral, mas é similar ao que apresentou no Texas contra a CBS News, acusando a cadeia noticiosa de "práticas enganosas" por causa de uma entrevista a Kamala Harris.
O nomeado para diretor do FBI, Kash Patel, disse que a agência federal "irá atrás das pessoas nos meios de comunicação que mentiram sobre cidadãos americanos e ajudaram Joe Biden a defraudar as eleições presidenciais".
Cleide Klock lembrou que este é um tema que vem desde o primeiro mandato de Donald Trump, altura em que se começou a referir à imprensa como 'fake news'.
"Com o aval do segundo mandato, Trump fortalece-se nesse discurso e acredito que teremos longos anos de batalha pela frente", considerou. "Anos de medo sem uma total liberdade de imprensa, pilar necessário para uma democracia".
A jornalista contou que no dia em que Trump ganhou a primeira eleição em 2016, estava a gravar uma peça na rua e os ocupantes de um carro gritaram 'fake news' quando viram a câmara e o microfone.
"Essa foi a primeira vez que ouvi esse tipo de ataque na rua enquanto trabalhava nos EUA", disse. "Naquele momento, eu soube que fazer jornalismo aqui já havia mudado".
Em 2020, a administração Trump propôs restrições inéditas ao trabalho de jornalistas estrangeiros nos Estados Unidos, com a intenção de limitar a um máximo de 16 meses a presença dos correspondentes.
Alguns jornalistas que trabalham em Washington, D.C. que a Lusa contactou não quiseram prestar declarações porque querem perceber até que ponto a administração vai cumprir as ameaças.
A liberdade de imprensa é um direito fundamental na democracia norte-americana e a fasquia legal para provar dolo em tribunal é muito elevada, o que tem levado especialistas a antecipar que os processos não sairão vencedores.
No entanto, sugerem que a estratégia é empurrar órgãos de comunicação e jornalistas para batalhas legais morosas e dispendiosas, o que pode levar a uma situação de autocensura prévia.
Na semana passada, a Disney resolveu um processo de difamação interposto por Trump à ABC News, acordando o pagamento de 15 milhões de dólares antes do julgamento.