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Vaticano investiga negócio de 180 milhões entre cardeal e antigo acionista angolano da Global Media

Investimento envolveu o empresário angolano António Mosquito e o cardeal Giovanni Angelo Becciu,que foi embaixador do Vaticano em Angola, entre 2001 e 2009.

Paulo Duarte/Negócios
18 de Outubro de 2019 às 16:47
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O Vaticano esteve a investigar um investimento de 200 milhões de dólares (180 milhões de euros) considerado pouco transparente, que envolveu o empresário angolano António Mosquito, noticiou esta sexta-feira, 18 de outubro, o Financial Times.

A Secretaria de Estado do Vaticano recorreu a consultores externos, em 2012, para realizar um empréstimo de 200 milhões de dólares, com fundos que tinha em contas bancárias suíças, à Falcon Oil, uma empresa petrolífera angolana, controlada pelo conhecido empresário de Angola António Mosquito, também com negócios em Portugal.

Porém, depois de ter decidido não conceder o empréstimo à Falcon Oil, a Secretaria do Vaticano decidiu investir a verba, juntamente com um fundo italiano com sede em Londres, na compra de uma participação minoritária num imóvel que aquela entidade financeira já tinha no exclusivo bairro londrino de Chelsea.

O negócio imobiliário de Londres foi o objeto da investigação judicial da Santa Sé, no decurso da qual a polícia do Vaticano apreendeu documentos e computadores dos escritórios da Secretaria de Estado.

O Vaticano recusou-se a comentar o conteúdo da investigação, limitando-se a informar que foram investigadas transações financeiras passadas.

O empresário angolano António Mosquito, que foi acionista de referência da Global Média, proprietária entre outros títulos do Diáro de Notícias, Jornal de Notícias e da rádio TSF, e possuiu a maioria do capital da construtora Soares da Costa, aproximou-se diretamente do Vaticano para propor um investimento de 200 milhões de dólares (180 milhões de eutos), disse uma autoridade sénior da Santa Sé.

António Mosquito conhecia o cardeal Giovanni Angelo Becciu, desde que este fora embaixador do Vaticano em Angola, entre 2001 e 2009.

A Falcon Oil e o empresário Mosquito não responderam ao pedido do FT de um comentário sobre esta investigação, escreve o jornal.

Até 2018, o cardeal Becciu era o segundo mais alto funcionário da Secretaria de Estado do Vaticano, reportando diretamente a Bento XVI e, mais tarde, ao papa Francisco.


A realização do investimento imobiliário de Londres foi autorizada por aquele cardeal, disseram fontes diretamente envolvidas na operação.

"Mosquito entrou em contacto com a Secretaria de Estado, como qualquer outra pessoa poderia facilmente ter feito", disse Alberto Perlasca, ex-alto funcionário do gabinete da Administração da Secretaria do Vaticano e atual presidente da Transparência Internacional.

"O facto de nada ter sido feito mostra que a Secretaria de Estado foi escrupulosa no exame do investimento, além de qualquer consideração de pessoa ou de amizade", acrescentou.

Perlasca não respondeu diretamente a perguntas sobre por que um empréstimo de 200 milhões de dólares para uma plataforma petrolífera angolana foi considerado um possível investimento adequado.

Em 2012, a Falcon Oil detinha uma participação de 5% num bloco de exploração offshore angolana 15/06, cujos maiores acionistas eram e ainda são a petrolífera italiana Eni e a sua congénere estatal angolana Sonangol.

A Falcon Oil estava a tentar um empréstimo de 200 milhões de dólares com o objetivo de financiar a sua contribuição para a construção de uma plataforma offshore que estava para arrancar naquele bloco.

O cardeal Becciu recusou-se a responder diretamente às perguntas do Financial Times.

Por seu lado, o WRM, um fundo de investimento de Raffaele Mincione que detinha a maioria do edifício londrino, admitiu que fez a análise do investimento em Angola.

"O Credit Suisse, em nome da Santa Sé, solicitou ao WRM que realizasse a devida diligência sobre o projeto de petróleo com o objetivo de investir 200 milhões de dólares", afirmou.

"A nossa análise foi extensa e levou-nos a recomendar ao Credit Suisse e à Santa Sé que não realizasse esse investimento".

O Credit Suisse, banco que também está a ser investigado por suspeitas de envolvimento de alguns dos seus responsáveis no processo designado de dívidas ocultas em Moçambique, também se recusou a fazer comentários sobre a investigação do Vaticano.

O Credit Suisse atuava como banco privado da Secretaria de Estado do Vaticano e assessorava os seus investimentos.

O WRM adiantou ainda que não teve conhecimento direto da investigação do Vaticano sobre o investimento da Secretaria na sua propriedade em Londres e disse estar confiante de que não cometeu nenhum erro.

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