A questão que colocou um fim à coligação SPD-FDP-Verdes no final do ano passado, ou seja, os desentendimentos sobre uma maior flexibilização das regras orçamentais internas da Alemanha, ainda não tem uma solução à vista. No entanto, com as eleições deste domingo e a potencial nova coligação liderada pela CDU começam surgir sinais para uma solução. Gonçalo Pina, professor de Economia Internacional na ESCP Business School, considera que há condições para o regresso à estabilidade.

"Há condições, mas não estão garantidas. Temos que esperar pelos resultados. Há os partidos pequenos que poderão determinar a capacidade de formar uma coligação estável e de ter uma maioria que garanta a possibilidade de fazer reformas estruturais na economia alemã, mas não está nada garantido. Vai haver grande incerteza e os resultados vão ser muito interessantes de acompanhar", considera em entrevista ao Negócios no canal NOW.

Quanto ao problema da restrição orçamental para o défice, o economista não é tão otimista: "Não parece que vá ser feito. O mais provável é que poderá ser declarada uma situação de emergência, como foi com a Covid, que permite ultrapassar esse problema orçamental".

"Essa foi a questão que quebrou o governo anterior, ou seja, o FDP, os liberais não quiseram declarar essa restrição, essa situação de catástrofe para libertar fundos. Portanto, seria uma possibilidade. Não acho que vá haver grande reforma do travão de dívida. Será uma reforma, se acontecer, será pequena, mas sim, será possível declarar uma situação de emergência. Até porque o novo Governo tem que fazer qualquer coisa. E acho que os primeiros meses desse novo Governo serão a altura certa para tomar essas medidas", defende.

Essa será uma das prioridades do novo executivo alemão, mas há outras. Para Gonçalo Pina, "a economia alemã está num problema estrutural muito grande, atingida por muitos choques diferentes, é multidimensional. Portanto, seria essencial reformar a estrutura da economia, o mercado laboral, o sistema de impostos e de subsídios que prejudicam um pouco a capacidade dos trabalhadores de trabalhar mais horas".

Outra questão, acrescenta, está relacionada com a defesa, que "é uma questão muito sensível na cultura alemã, pela história da Alemanha, e seria essencial que garantisse a sua própria defesa, agora que parece bastante claro que os Estados Unidos não o vão fazer".