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Tchizé mantém-se contra funeral do pai em Angola

Tchizé dos Santos, filha de José Eduardo dos Santos, veio demarcar-se esta terça-feira de uma carta enviada pelos irmãos, em que se comprometem em colaborar na realização de um funeral nacional para o pai. "Tirem o meu nome disso é a única que eu peço", diz Tchizé.

Lusa
19 de Julho de 2022 às 14:50
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Isabel, José Filomeno "Zenu", Joess e José Eduardo Paulino "Coreon Dú" - comprometeram-se a colaborar na realização de um funeral nacional, mas após as eleições de 24 de agosto e pedem um mausoléu para acolher os restos mortais.

"A única coisa que eu subscrevo é que o funeral de José Eduardo dos Santos não deve acontecer em Angola enquanto este governo estiver no poder. Tirem o meu nome disso é a única que eu peço", disse Tchizé dos Santos à Lusa, lamentando que o pai tenha sido sujeito a "uma situação de indigência e indignidade" que passou inclusive pelo corte de luz e água na casa onde vivia, em Barcelona, por falta de pagamento.

Tchizé dos Santos disse que manteve conversas com alguns dos irmãos, mas apenas sobre o funeral e que nunca iria negociar com um Governo que acusa de perseguição.

"Eu sou uma pessoa para quem a honra está acima de qualquer dinheiro e eu estou preocupada com o enterro do meu pai, agora não vão aproveitar a morte do meu pai para ilibar uma série de pessoas que cometeram uma série de crimes, inclusive João Lourenço, porque elas têm de pagar. As pessoas que não cometeram crimes não precisam de amnistia, vão e provam que não roubaram", sublinhou.

"Se essa lei da amnistia é por causa dos filhos de José Eduardo dos Santos, eu oponho-me totalmente a que seja proposta sequer, porque eu não faço parte do grupo de pessoas que acham que isto faz algum sentido", reforçou.

Para Tchizé dos Santos, as leis são para ser cumpridas: "Somos todos adultos e sabemos o que está escrito na lei de Angola e acho que essa amnistia é um pretexto que vai ilibar o sr. João Lourenço dos seus crimes".

Disse ainda que não é a favor do fim dos processos judiciais, defendendo que as pessoas sejam ouvidas nos países onde estão e onde tenham garantias jurídicas de isenção para poderem ser ouvidas.

"Eu estou desejosa que a justiça portuguesa pegue nas provas todas que enviei da origem dos meus fundos há não sei quanto tempo e que arquive os meus casos", referiu.

Tchizé dos Santos apontou amnistias anteriores como a que foi aprovada em 2016 por José Eduardo dos Santos, antes de deixar o poder a João Lourenço, como uma necessidade após 38 anos de poder, abrangendo todos os partidos políticos para que não se fizesse uma caça às bruxas.

 "Foi um pretexto para soltar os 'revus' (jovens opositores do regime de José Eduardo dos Santos) que estavam simplesmente a lutar pelos seus direitos democráticos", sugeriu.

Quanto ao "período de graça" previsto na Lei de Repatriamento dos Capitais para que os angolanos detentores de fortunas no exterior devolvessem os recursos ao Estado, aprovada já pelo seu sucessor, João Lourenço, considera que foi "um truque para perdoar os amigos deles".

"Aquilo era uma lei de lavagem de dinheiro", afirmou, salientando que recusou votar favoravelmente essa legislação, enquanto deputada, o que lhe valeu "perseguições, ameaças de morte e posteriormente a suspensão do mandato".
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