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Ricardo Salgado culpou em 2015 o Banco de Portugal pela queda do BES

No depoimento prestado no inquérito, Ricardo Salgado, afastado da presidência do BES pelo BdP em 13 de julho de 2014, insistiu por diversas vezes que desconhecia a real situação financeira do grupo e que tudo foi feito para proteger os clientes do banco.

26 de Março de 2025 às 13:32
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O ex-banqueiro Ricardo Salgado responsabilizou em 2015, perante o Ministério Público, o Banco de Portugal (BdP) pelo colapso no ano anterior do Banco Espírito Santo (BES), segundo a gravação do interrogatório reproduzida esta quarta-feira no julgamento do caso.

"Nós fizemos um aumento de capital cheio de sucesso. [...] No dia 23 de julho [de 2014], o Banco de Portugal obriga a uma provisão cega de dois biliões [para fazer face a fraudes] e põe-nos abaixo da capitalização necessária [...]. Se não tivesse mandado fazer, hoje o BES poderia perfeitamente continuar a existir, porque mandaram fazer provisões a mais", afirmou, em julho de 2015, Ricardo Salgado.

No interrogatório então realizado no Departamento Central de Investigação e Ação Penal, em Lisboa, o ex-banqueiro acusou ainda o BdP de ter posto "um garrote" ao Grupo Espírito Santo (GES), cuja consequência foi, nomeadamente, o facto de um fundo norte-americano ter ficado "de borla" com a seguradora Tranquilidade, que pertencia ao BES.

"A verdade há de vir ao de cima. Certamente que cometi falhas [...]. Agora, o BES foi obrigado a desaparecer", afirmou.

No depoimento prestado no inquérito, Ricardo Salgado, afastado da presidência do BES pelo BdP em 13 de julho de 2014, insistiu por diversas vezes que desconhecia a real situação financeira do grupo e que tudo foi feito para proteger os clientes do banco.

"Se o grupo não tivesse colapsado, pode ter a certeza que os lesados do BES teriam sido reembolsados de tudo", garantiu, em julho de 2015, ao procurador José Ranito, que liderou a investigação.

A reprodução no julgamento das declarações de Ricardo Salgado, atualmente com 80 anos e doente de Alzheimer, começou em 16 de outubro, decorreu em sessões em que testemunhas não puderam comparecer e terminou hoje.

No início do julgamento, a defesa do ex-banqueiro alegou que tal seria nulo, uma vez que a doença de que sofre impede Ricardo Salgado de fazer o contraditório, mas o tribunal rejeitou o requerimento e ordenou a reprodução.

O antigo presidente do BES é um dos 18 arguidos no processo e responde por cerca de 60 crimes, incluindo um de associação criminosa e vários de corrupção ativa no setor privado e de burla qualificada.

O Ministério Público estima que os atos alegadamente praticados entre 2009 e 2014 pelos arguidos, ex-quadros do BES e de outras entidades do GES, tenham causado prejuízos de 11,8 mil milhões de euros ao banco e ao grupo.

O julgamento decorre desde 15 de outubro de 2024, no Tribunal Central Criminal de Lisboa.

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