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Setor do leite quer conquistar preferência no mercado

O leite português tem qualidade, é sustentável, fixa pessoas nas zonas rurais, e cuida do território. Mas enfrenta desafios do lado do mercado e do consumo, que estiveram em cima da mesa no debate que reuniu a ex-ministra Assunção Cristas,a nutricionista Inês Morais e o presidente da Confagri, Idalino Leão.

05 de Junho de 2024 às 10:37
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São 3.500 produtores de leite que alimentam 11.500 postos de trabalho e representam 10% da produção agrícola e 14% da indústria alimentar. Um setor fundamental na economia nacional, que fixa pessoas ao território e cuida da paisagem, mas que perdeu 75% do efetivo em 12 anos. Atualmente, o setor do leite enfrenta numerosos desafios, que vão da concorrência internacional à volatilidade nos preços, passando pelos custos de produção e pelo envelhecimento dos produtores. Um contexto exigente a que o setor se propõe responder com uma agenda para a sustentabilidade, que procura corresponder às mudanças no mercado e no consumo, com uma aposta forte na informação, na qualidade e na inovação. Foi neste contexto que teve lugar o debate "Leite, uma força do País", promovido pela Lactogal, e que juntou, nos estúdios do Jornal de Negócios, a ex-ministra da Agricultura Assunção Cristas, a nutricionista Inês Morais, e o presidente da CONFAGRI (Confederação Nacional das Cooperativas Agrícolas e do Crédito Agrícola de Portugal), Idalino Leão.

Portugal com regras mais exigentes

Para Assunção Cristas, esta aposta do setor na sustentabilidade vai na direção certa. Portugal faz parte da União Europeia, o bloco mundial de comércio onde existem as regras mais exigentes de produção de alimentos, que vão desde a segurança alimentar, ao bem-estar animal, passando pela sustentabilidade da produção. Na opinião da antiga ministra, os desafios ao setor colocam-se sobretudo com a redução que se tem verificado no consumo do leite e "com a necessidade de tornar a atividade mais atrativa para os mais jovens, de mostrar que hoje existe muita inovação e tecnologia na produção animal, na produção de leite e na produção dos seus derivados".
Também para Idalino Leão, tornar a atividade mais atrativa é um grande desafio. Um desafio que o responsável liga à sustentabilidade num sentido mais amplo: "Temos de trabalhar a sustentabilidade do setor nos seus três pilares: sustentabilidade ambiental, social e económica", afirma.
Na perspetiva do dirigente da CONFAGRI, a condição prévia à atratividade é a rentabilidade: "A questão da rentabilidade é fundamental e esta atividade só é atrativa se tiver rentabilidade e, já agora, existir um maior equilíbrio entre os ganhos dos três elos da cadeia de valor do leite: o setor agrícola, a indústria e a distribuição." Só estabelecendo este equilíbrio "é que conseguiremos atrair, ou pelo menos, fixar, os filhos dos agricultores que temos hoje, e trazer mais gente para a atividade", nota.

LEITE EM PORTUGAL

10%

DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA



14%

DA INDÚSTRIA ALIMENTAR


3500

PRODUTORES DE LEITE


11500

POSTOS DE TRABALHO





Os primeiros ambientalistas

Para Idalino Leão, esta é uma questão cuja importância ultrapassa o setor do leite, "porque o setor pecuário tem uma característica única, que é uma capacidade ímpar de fixar pessoas no território. Os animais têm de ser tratados todos os dias. Em muitos pontos do território, estas são as únicas pessoas que ali estão em permanência".
Esta é uma atividade que cuida e ordena o território e mantém a paisagem: "Somos os primeiros ambientalistas porque a nossa produção depende muito da manutenção do equilíbrio ambiental".
Nesta mesa-redonda também ficou claro que o impulso para a sustentabilidade do setor também vem do apertar da legislação europeia. São novas leis e regulamentos destinados a tornar possível a transição ambiental e o cumprimento dos objetivos em termos de alterações climáticas, como recordou Assunção Cristas.
Uma legislação muito abrangente, com consequências nas emissões, na gestão dos resíduos, no consumo de recursos, na biodiversidade e na adoção de uma lógica circular de reaproveitamento. "Estas exigências legislativas estão a ser implementadas, em primeiro lugar, pelas grandes empresas e pelo setor financeiro, e estão a ser cada vez mais vigiadas pelo consumidor que pede mais transparência e mais informação", destacou Assunção Cristas.

A pegada carbónica

Para a ex-ministra da Agricultura, esta evolução na informação disponível vai beneficiar o leite português. "Quando o consumidor perceber que este leite é produzido localmente, que não tem uma pegada carbónica enorme e cumpre os mais elevados padrões de segurança alimentar, e ainda, que aqui há respeito pelos direitos laborais e humanos, irá optar mais pelo produto português", afirmou.
No entanto, como faz notar Idalino Leão, "a União Europeia quer que os produtores agrícolas e o setor agroindustrial europeu compitam no mercado global em que as regras não são iguais, são menos exigentes". E mesmo dentro da União Europeia, explica o presidente da CONFAGRI, "o setor nacional sofre, porque temos aqui ao lado, em Espanha, um verdadeiro colosso agroindustrial que nasceu da vontade política e que beneficia de um tratamento fiscal e de custos de produção substancialmente mais baixos do que os nossos".


Esta transformação (...) implica investimentos sérios que estão para além da capacidade do setor, que tem de beneficiar de mais recursos


ASSUNÇÃO CRISTAS, ex-ministra da Agricultura




Apoiar o investimento

Neste contexto de mercado, como sublinhou Idalino Leão, "os produtores sabem que quanto mais sustentáveis forem ambientalmente, mais eficientes serão do ponto de vista financeiro". No entanto, afirmou, "serão necessários mecanismos financeiros que alavanquem e tornem possíveis os investimentos que terão de ser feitos nas explorações". Uma reivindicação apoiada por Assunção Cristas: "Esta transformação é uma grande oportunidade, mas é muito exigente, implica investimentos sérios que estão para além da capacidade do setor, que tem de beneficiar de mais recursos."

Valorizar o leite como alimento

Outra questão em debate foi a quebra do consumo e a mudança que se operou em muitos consumidores na perceção do valor do leite. "Em muitas pessoas, ficou apenas a ideia de o leite ser um alimento muito calórico, com valores calóricos superiores a muitos dos atuais substitutos de origem vegetal", referiu a nutricionista Inês Morais.
"A referência deve continuar a ser a prática da dieta mediterrânica e a orientação estabelecida da Roda dos Alimentos, que recomenda que 18% de uma alimentação deve ser em leite ou derivados", sublinhou. E para alguns segmentos da população, como é o caso dos seniores, a proteína do leite deve ser parte importante da dieta.

Produtos inovadores

Acresce, como referiram a nutricionista e o responsável da CONFAGRI, que a inovação no setor tem dado origem a toda uma gama de leites enriquecidos, destinados a melhor responder a necessidades nutricionais específicas. Por outro lado, o leite tem sofrido com o posicionamento de muitas bebidas vegetais como "leites" (o que veio, entretanto, a ser proibido por legislação), quando se trata de alimentos com características e valores diferentes que não substituem o leite.





Leite é saúde, leite é uma alternativa nutritiva, que pode ser muito ou pouco energética, e que deve fazer parte de qualquer alimentação equilibrada.


INÊS MORAIS, nutricionista






Comunicar o leite

Na parte final do debate, os três intervenientes concordaram que mais comunicação e melhor informação irão ajudar a aumentar a sustentabilidade do setor do leite em Portugal. Para Assunção Cristas, "o setor tem de comunicar o pacote completo e sublinhar que o leite produzido em Portugal tem características de qualidade, de sustentabilidade e também contribui para a manutenção das pessoas e do território, e que é um alimento extraordinário de que não se deve prescindir na nossa alimentação".
Na perspetiva de Idalino Leão, "a comunicação é fundamental até pela questão geracional. Temos de renovar o setor e fixar mais pessoas no território com uma atividade produtiva valorizada e prestigiada." Já para a nutricionista Inês Morais, "a comunicação é fundamental para agarrar as pessoas que estão a voltar ao leite, aos produtos lácteos". Porque, sublinha, "leite é saúde, é uma alternativa nutritiva, que pode ser muito ou pouco energética, e que deve fazer parte de qualquer alimentação equilibrada".




Conferência debate a sustentabilidade do leite português

Setor do leite apresenta iniciativas e debate futuro. Transmissão no site do Jornal de Negócios, quarta-feira a partir das 10h30. Esta quarta-feira, 5 de junho e Dia Mundial do Ambiente, responsáveis empresariais, associativos, políticos e académicos irão estar no Espaço Agros, na Póvoa do Varzim, para discutir a agenda mobilizadora para a produção de leite sustentável em Portugal, numa conferência promovida pela Lactogal. Esta é uma questão fundamental para um setor que representa 10% da produção agrícola nacional e que está a enfrentar importantes desafios ao nível do consumo. A Agenda Mobilizadora agora em debate assume-se como um caminho de futuro para a afirmação e progresso do setor, com iniciativas dirigidas a temáticas como: Bem-estar animal; eficiência energética; uso sustentável da água; redução de emissões e gestão de resíduos; e inovação com foco na sustentabilidade.
Na agenda da conferência, que se inicia pelas 10h30, e que terá na abertura José Capela, presidente da Lactogal, estará a apresentação da Estratégia e Agenda para a Produção Sustentável de Leite em Portugal. Essa estratégia conta já com diversas iniciativas como os Projetos Cow-Water, Bem-Estar Animal e Transição Energética, que serão apresentados por Carlos Soares, coordenador do Planeamento Estratégico da Lactogal.
Pelas 11h10 será apresentado o Projeto Planeta Leite, por Henrique Trindade, professor catedrático da UTAD, e Ana Sofia Santos, diretora de Ciência e Inovação da FeedInov. A partir das 12h15, terá lugar o debate “Leite, Uma Força do País”, onde se irão discutir formas de fazer avançar a sustentabilidade da produção de leite em Portugal num contexto exigente. Estarão no painel o ex-ministro da Agricultura Arlindo Cunha; Idalino Leão, presidente do conselho de administração da Agros, Gonçalo Lobo Xavier, diretor-geral da APED (Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição), e Emídio Gomes, reitor da UTAD (Universidade de Trás-os- -Montes e Alto Douro). O encerramento, pelas 12h45, contará com uma intervenção do secretário de Estado da Agricultura, João Moura.