"Braga, representativa de uma região mais alargada, é um excelente palco para evidenciar as boas práticas de promoção de sustentabilidade e inovação", refletiu Ricardo Rio, presidente da Câmara Municipal de Braga e do Conselho de Administração da InvestBraga, na Conferência "Sustentabilidade e Inovação Braga 2024". O evento, que decorreu no Pequeno Auditório do Fórum Braga, marcou o décimo aniversário de esforços contínuos em prol de um futuro mais sustentável e inovador.
Responsável pelos destinos do concelho desde 2013, Ricardo Rio admite ter assumido o desenvolvimento sustentável como uma prioridade estratégica. "Mais do que evidenciar trade-offs entre cada uma das dimensões – quando estamos a promover crescimento económico estamos porventura a pôr em causa a salvaguarda do meio ambiente ou um agravamento das desigualdades sociais -, é importante trabalhar o crescimento dos territórios acolhendo cada uma dessas dimensões de forma equilibrada".
Ricardo Rio defende que o crescimento não deve ser promovido à custa da atração de empresas que comprometam a preservação dos recursos naturais ou que criem desigualdades que agravem as condições económicas de certos segmentos da população. "Isto exige um trabalho integrado que salvaguarde essas várias dimensões", referiu, sublinhando que esta abordagem reflete os objetivos de desenvolvimento adotados pelo município. Entre outras iniciativas, destacou que Braga foi o primeiro município em Portugal a apresentar, nas Nações Unidas, o Relatório Voluntário Local e o primeiro a alcançar o nível Prata de adoção e implementação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, no âmbito da Sustainable Development Solutions Network (SDSN) das Nações Unidas. "Promover a sustentabilidade tem sido um fator de competitividade para Braga", acrescentou, justificando o facto de, nos últimos 12 anos, Braga ser o concelho que mais cresceu em população, segundo os últimos Censos, preenchendo assim os cerca de dois mil postos de trabalho criados anualmente na região.
Trazer conhecimento para Braga
Trazer conhecimento científico e inovação tecnológica para a gestão do território é algo que Ricardo Rio quer acentuar no futuro. O Município de Braga está a trabalhar com a SDSN no sentido de criar um projeto de bolsas remuneradas para alunos universitários, de mestrado e doutoramento, "para que possam realizar os seus projetos de investigação em aplicação prática e em contexto do que são as necessidades do território". Desses projetos, salienta Ricardo Rio, resultam oportunidades de negócio e desenvolvimento económico. "Sou defensor da ideia de que promover um território mais sustentável não é limitar a sua capacidade de crescimento económico. É abrir novas oportunidades, com diferentes projetos, com diferentes áreas que porventura não foram até aí exploradas". Áreas essas que, no entender do edil, sendo compagináveis com os objetivos, não deixam de criar novas oportunidades com valor acrescentado acrescido e com capacidade de escalabilidade, "algo igualmente fundamental".
Organizada pela InvestBraga, a conferência reuniu especialistas, empresários e líderes de várias áreas para discutir soluções e desafios, com um foco especial nas pequenas e médias empresas (PME), que desempenham um papel crucial na economia local e nacional. O evento incluiu dois painéis de discussão sobre temas centrais para o desenvolvimento sustentável e a inovação. O primeiro painel, moderado por João Maia Abreu, contou com a participação de António Vicente, do Blue Project, Brigita Jurisic, responsável pelas Relações Estratégicas do INL – Laboratório Ibérico Internacional de Nanotecnologia, e Sandra Cerqueira, administradora executiva dos Transportes Urbanos de Braga (TUB). Estes oradores abordaram os principais desafios enfrentados pelas PME na adoção de práticas sustentáveis.
"Para as pequenas e médias empresas, o principal desafio na adoção de inovações são os recursos", destacou Brigita Jurisic. "Vemos que as grandes empresas adotam com maior rapidez diversas tecnologias, nomeadamente digitais, que promovem o aumento de produtividade, algo mais difícil para as PME devido à falta de recursos não só financeiros, mas também humanos." Esta visão foi corroborada por António Vicente, que acrescentou: "No Blue Project, observámos que muitas PME enfrentam dificuldades em dedicar recursos a um tema que, por vezes, as ultrapassa, pois estão concentradas na gestão do dia a dia."
Gerir emissões e espaço público
Sendo uma grande empresa - 400 trabalhadores e um volume de negócios de 20 milhões de euros - os TUB têm um desafio diferente. Mais do que tudo, salientou no evento Sandra Cerqueira, o avanço da tecnologia para atingir as metas de descarbonização e mitigações das alterações climáticas. "Dando como exemplo as baterias, sentimos que a evolução foi muito rápida. Fizemos um investimento muito grande na descarbonização da nossa frota e a tecnologia às vezes não correspondeu com a necessidade da operação. O acompanhamento e a escalabilidade da tecnologia em determinados setores são um desafio e nós sentimos isso no transporte público".
Sandra Cerqueira enfatizou que os Transportes Urbanos de Braga fizeram um investimento muito grande na descarbonização da frota, até porque mais de 60% das emissões de gás com efeitos de estufa, nomeadamente dióxido de carbono, na cidade de Braga provém dos transportes. "Até 2018 os TUB tinham uma fatia considerável dessa responsabilidade. As externalidades negativas provocadas pela nossa atividade na emissão de dióxido de carbono eram significativas, apesar de haver estudos que dizem que em Braga cada automóvel transporta 1,3 pessoas. Um autocarro de 12 metros é capaz de substituir 60 viaturas". Ou seja, para além das emissões de gás com efeito de estufa, há ainda um problema de gestão de espaço público.
O segundo painel focou-se na inovação e contou com as contribuições de Nuno Figueiredo, partner da Deloitte, e Susana Mata, Advanced Technology Centers Lead da Accenture Portugal. Igualmente moderados por João Maia Abreu, os especialistas exploraram as principais áreas de desenvolvimento e o impacto da inovação na economia portuguesa. Nuno Figueiredo enfatizou que a Europa, especialmente Portugal, precisa investir em tecnologia e inovação para acompanhar a concorrência global, com ambos os participantes a concordarem sobre a necessidade urgente de fundos direcionados para apoiar as PME na sua transformação digital.
Cruzamento entre inovação e sustentabilidade é fundamental
A conferência não apenas destacou a importância da colaboração entre empresas e entidades governamentais, mas também reforçou o compromisso contínuo da cidade em promover um futuro sustentável. António Lorena, managing partner da 3Drivers, explorou que o cruzamento entre inovação e sustentabilidade é fundamental para que Portugal se posicione estrategicamente nas cadeias de fornecimento globais. Na sua apresentação, o responsável explorou que o alinhamento entre eficiência material e energética é induzido pela própria poupança de custos. "Racionalmente, as empresas procurarão sempre reduzir os custos e, por consequência, contribuir para a redução de impactes ambientais". Contudo, diz o especialista, é através de novas soluções que é possível atuar onde não é economicamente ou tecnicamente viável.
"É precisamente a ecoinovação que nos permitirá ultrapassar as barreiras da viabilidade". Outra mensagem de António Lorena é que a indústria nacional deve assumir o duplo desafio de promover e incorporar a ecoinovação como forma de reduzir custos e desbloquear recursos para investimento, valorização de recursos humanos e ser o fornecedor dessas soluções.
A fechar a sua intervenção, António Lorena explicou aos presentes que a competitividade da indústria dependerá da capacidade de integrar a ecoinovação face a um quadro legal mais exigente e restritivo e a redução de custos com matérias-primas crescentemente mais caras.