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O bem-estar animal é fundamental

As criações estão obrigadas às boas-práticas, caso contrário os animais desenvolvem doenças, levando ao aumento de custos e mesmo prejuízos.

07 de Junho de 2024 às 11:25
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O bem-estar animal é fundamental para os setores da criação de animais para consumo e da produção e distribuição agroalimentar. Se não houver boas-práticas nestas atividades, os principais prejudicados são os criadores de animais. Quem o afirma é Movimento Ambiente e Produção Alimentar (MAPA).



"Os animais são seres sencientes, pelo que é reconhecido que são capazes de sentir, de vivenciar sentimentos como dor e stress, entre outros. Ora, na ausência de bem-estar animal, os animais desenvolvem doenças que levam ao aumento de custos e mesmo prejuízos, pois passam a precisar de cuidados médicos, medicamentos e no matadouro podem ser sujeitos a rejeições parciais ou mesmo totais. Por conseguinte, não há dúvida nenhuma de que o bem-estar animal é fundamental para que a atividade se desenvolva adequadamente, sendo os seus criadores os mais interessados na sua aplicação", sublinha Graça Mariano, porta-voz do MAPA.



Os criadores de animais em Portugal estão sensibilizados para o bem-estar animal e conhecem as consequências legais para a sua atividade, caso não sigam as regras. É que – explicam-nos – a legislação europeia é exigente em todos os níveis, nomeadamente neste âmbito, havendo um controlo apertado pelas autoridades competentes a este tipo de atividade. Atividade essa à qual o MAPA prefere referir-se como sendo "criação de animais", em vez de produção animais ou pecuária, uma vez que não se trata só de uma atividade económica, mas sim uma relação próxima entre o homem e o animal. "Há uma entrega total dos cuidadores, que precisam de cuidar dos animais duas vezes por dia. A verdadeira fixação da população ao interior apenas se consegue com a criação de animais, pois estes não podem ser abandonados", recorda Graça Mariano.



Consumidores desconhecem a realidade e não querem pagar mais


Quanto aos consumidores portugueses, terão consciência da importância do bem-estar animal? Graça Mariano lembra que nos últimos tempos foi criada, felizmente, a consciência do bem-estar animal, por se saber que os animais são seres sencientes. Contudo, "os consumidores não sabem que o bem-estar animal tem implicação direta com a rentabilidade e com os custos de criação, pois desconhecem que a aplicação destes requisitos evita doenças dos animais e os consequentes custos com veterinários, medicamentos e rejeições nos matadouros". Por isso, os criadores são os principais interessados na aplicação do bem-estar animal, já que "se não fosse pela relação próxima que mantêm com os animais, seria pela falta de rentabilidade que teriam".


"Há uma entrega total dos cuidadores, que precisam de cuidar dos animais duas vezes por dia. A verdadeira fixação da população ao interior apenas se consegue com a criação de animais, pois estes não podem ser abandonados." Graça Mariano,
porta-voz do MAPA

A responsável do MAPA acrescenta que os consumidores sabem muito pouco do que já é feito em termos de bem-estar animal, "por falta de comunicação adequada, e em regra ficam admirados quando são confrontados com as exigências regulamentares e com as boas-práticas que os criadores de animais aplicam".



Adicionalmente – prossegue – existem sistemas de certificação voluntária em bem-estar animal que são aplicados em explorações de animais vivos, em transportes e em matadouros. No entanto, estes sistemas voluntários, ainda mais exigentes do que os requisitos impostos pela legislação europeia, acarretam custos mais elevados que se refletem no custo final da carne. "Infelizmente, e apesar de os consumidores estarem conscientes, não estão preparados para pagar mais pelos alimentos sujeitos a certificação voluntária em bem-estar animal. Manifestam interesse no tema à entrada do supermercado, mas depois não adquirem a carne certificada", conclui.



MAPA: ao serviço do mundo rural


O MAPA é um movimento criado com a participação de mais de trinta entidades, direta ou indiretamente, ligadas aos setores da produção agrícola, da criação de animais para consumo e da produção e distribuição agroalimentar. O objetivo do MAPA é, numa só voz, construir de forma positiva mensagens esclarecedoras, que ajudem a clarificar ideias preconcebidas sobre o mundo rural e sobre o seu papel no bem-estar animal, na manutenção, na preservação e no equilíbrio da natureza e na vida quotidiana das pessoas.



No que diz respeito ao papel que desempenha em Portugal para assegurar o bem-estar animal em todo o processo produtivo, o MAPA "pretende divulgar as boas-práticas que já se aplicam na criação de animais, nomeadamente no âmbito do bem-estar, que infelizmente não têm sido do conhecimento da opinião pública". Razão pela qual está agora, finalmente, a dirigir-se aos consumidores, que são os destinatários da comunicação do MAPA.



O MAPA pretende dar a conhecer a importância do bem-estar animal na criação de animais, o qual se reflete na saúde destes, comprometendo-a.  "Sem bem-estar animal, não há saúde animal, e, sem esta, existirão custos acrescidos nesta atividade", garante Graça Mariano.






Água, alimentação, espaço e boas camas


Fundado há mais de 100 anos em Sousel, o Pasto Alentejano começou como um pequeno talho na vila alentejana e desde então não parou de crescer, sendo hoje uma referência do país no setor da carne de ovino. Para se ter tornado um sucesso na indústria do borrego, a empresa distingue-se de várias formas, a começar pela verticalidade e responsabilidade no que oferece aos clientes, até porque assumem toda a operação. "Gostamos de explicar que aquilo que vendemos é 100% Pasto Alentejano. Os borregos entram na nossa organização muito cedo, com dois meses de idade. Nas nossas instalações fazemos a seleção, preparação e engorda. Depois, os borregos saem para o nosso matadouro, a um quilómetro de distancia da engorda. Após o abate, a carne é devidamente embalada e preparada na nossa sala de desmancha. E daí servida ao nosso cliente em qualquer parte do mundo", conta Filipe Serralheiro, COO do Pasto Alentejano.



O Pasto Alentejano também se diferencia pelo bem-estar animal que proporciona aos borregos. "Como o José Serralheiro (administrador) diz, o bem-estar animal é na verdade muito simples: água, alimentação, espaço e boas camas. O que na verdade dá muito trabalho é garantir isto todos os dias do ano, feriados, fins de semana, Natal, Ano Novo", recorda Filipe Serralheiro, acrescentando que a empresa tem uma equipa de sanidade para garantir, estudar e desenvolver o que é o bem-estar animal. "Mais, temos as nossas instalações desenhadas e desenvolvidas para o borrego, com todos os fatores em conta, como questões da predominância do vento, chuva ou temperatura da água. E com tanta informação temos também um sistema de gestão implementado para garantir o controlo e subsistência 365 dias por ano", afiança.


"Temos as nossas instalações desenhadas e desenvolvidas para o borrego, com todos os fatores em conta, como questões da predominância do vento, chuva ou temperatura da água (…) Temos também um sistema de gestão implementado para garantir o controlo e subsistência 365 dias por ano." Filipe Serralheiro,
COO do Pasto Alentejano

As medidas que têm sido tomadas, fazem com que o Pasto Alentejano possua certificações que provam o bem-estar animal. Quer na produção na engorda, quer a nível industrial, abate e desmancha, garantido assim que toda a cadeia é assegurada e certificada em bem estar animal pela AENOR.



35



Em 2023 a percentagem de exportação do Posto Alentejano fo 53%. Este ano estimam que seja perto dos 60%. A empresa está presente com a sua carne de borrego em 35 países.




Um setor em desenvolvimento


Sobre o setor ovino no nosso país, Filipe Serralheiro diz que deixou de ser o "parente pobre", tendo agora "uma margem de progressão gigante para os próximos anos". O responsável do Pasto Alentejano explica que esta mudança nos últimos cinco ou seis anos ficou a dever-se ao mercado internacional, que veio "criar uma dinâmica e mais valia vertical a toda a cadeia". E à profissionalização industrial, a qual, através de novos artigos e novas formas de apresentar a carne de borrego conseguiu "quebrar a pouco e pouco a sazonalidade do Natal e Páscoa".






Joaquim Capoulas, vice-presidente da CAP – Confederação dos Agricultores de Portugal



"Uma condição essencial para o sucesso"


Os criadores estão obrigados a ter determinado cuidados nas suas produções. A lei e… os consumidores a tal obrigam. Mas para conhecer melhor esta realidade, falámos com Joaquim Capoulas, vice-presidente da CAP – Confederação dos Agricultores de Portugal.



Os nossos produtores têm os animais saudáveis, confortáveis, bem alimentados, com espaço para viver e dormir, até irem para abate? Ou a generalidade das explorações em Portugal estão longe deste cenário?

A tranquilidade, o conforto e a higiene, a alimentação adequada, a ausência de doença, são condições essenciais para o sucesso económico de toda a fileira da carne, desde a produção até ao consumidor. Na produção, independentemente da espécie, qualquer animal só atinge o máximo da sua performance produtiva se todas as condições atrás referidas estiverem reunidas. Qualquer criador consciente sabe disso e se algum não adotou os procedimentos corretos, certamente deixou de ser competitivo e já deixou a atividade. Nos sistemas forrageiros extensivos os animais circulam livremente no campo, com comida e água límpida à disposição em permanência, e descansam nas zonas que escolhem para isso. É função do criador garantir a sua vigilância, para que nada falte, e avaliar a condição sanitária, prevenindo em devido tempo qualquer sinal de desconforto ou doença.



Nas espécies cuja criação só pode realizar-se em meios confinados, os produtores têm o mesmo grau de preocupação, garantindo também que os animais usufruem do espaço necessário e que a renovação do ar circulante é eficaz. Senão, tudo falhará. Existe um Manual do Bem-Estar Animal, elaborado pela CAP e pela DGAV (Direção Geral de Alimentação e Veterinária), onde constam todas as regras que a fileira deve seguir. Apesar de parecer dispensável, pois as condições de criação, de transporte e de abate estão bem assimiladas por todos os operadores, é bom que elas estejam escritas para memória presente e futura.



A legislação em vigor é suficiente?

Existe legislação rigorosa sobre a criação, transporte e abate de animais, que inclui a necessidade de formação de todos os operadores. A legislação que existe é mais do que suficiente, no nosso entendimento. Aliás, o que essa legislação transmite são indicações que sempre fizeram parte daquilo que é uma prática comum de todos os criadores. O bem-estar animal é uma condição essencial para o sucesso.



Os consumidores portugueses já fazem um consumo consciente? E têm consciência da importância do bem-estar animal?

A questão do bem-estar animal tem estado cada vez mais na ordem do dia no espaço mediático. Por isso, importa trazer ao consumidor a informação, por parte da produção, do modo de criação e cuidados seguidos, do meio ambiente em que os animais nascem e vivem, explicando que é do interesse dos criadores reunir todas as condições de tranquilidade que levem a um bom desempenho da atividade. Também é importante desmistificar as más práticas que, por vezes, aparecem na imprensa ao serviço de uma agenda contra o consumo de carne.



Aponte os motivos por que é importante o bem-estar animal?

O bem-estar animal é uma condição essencial ao sucesso da fileira da carne. Na produção, porque é fundamental para a rentabilidade da atividade, e no transporte, para que os animais cheguem sem stress a unidades de acabamento ou centros de abate. Nestes centros é fundamental a ausência de stress, tendo em vista a qualidade da carne. É na distribuição, na relação e no contacto direto com o consumidor, que toda a cadeia é avaliada. A cadeia tem que se preocupar, em conjunto, em comunicar bem passando a informação com eficiência.