Como avançar na sustentabilidade é uma questão fundamental para um setor que representa 14% da indústria alimentar e que enfrenta importantes desafios ao nível do consumo e da concorrência, a agenda mobilizadora apresentada neste evento assumiu-se como um caminho de futuro para a afirmação e progresso do setor do leite em Portugal.
Um caminho que se materializa com iniciativas dirigidas a temáticas como o bem-estar animal; eficiência energética; uso sustentável da água; e redução de emissões e gestão de resíduos. Iniciativas que se baseiam na aplicação de tecnologia e inovação para encontrar soluções.
Nesta conferência, a apresentação das iniciativas que a Lactogal tem em curso com o objetivo de fazer avançar a sua sustentabilidade ambiental ficou a cargo de Carlos Soares, coordenador do Planeamento Estratégico da empresa. Este responsável começou por sublinhar que a fundação da própria Lactogal em 1996 surgiu como uma resposta inovadora aos desafios que a entrada de Portugal na União Europeia colocava à produção sustentável de leite.
Atualmente, novos desafios, igualmente exigentes, se colocam ao setor. As respostas são múltiplas e endereçam diversas questões, sempre aplicando inovação e tecnologia.
Na área ambiental, a Lactogal tem-se empenhado, por exemplo, na valorização dos resíduos. "Como parte de um esforço de valorização de todas as matérias-primas que nos entram nas instalações", explica Carlos Soares. Neste contexto, a Lactogal tem bons exemplos nos projetos de valorização das lamas do tratamento de efluentes, que são, através de uma parceria, transformadas em fertilizante. E no tratamento do soro da produção de queijo e sua transformação num subproduto útil para a indústria alimentar e para a alimentação animal.
Poupar na água e cortar nas emissões
A questão ambiental estende-se igualmente às iniciativas para poupar recursos. Um esforço que inclui o ecodesign das embalagens, que poupa matéria-prima sem comprometer a segurança alimentar. Nesta vertente, a poupança e a valorização são particularmente importantes dada a escassez de água em algumas zonas durante o verão. Com recurso a um parceiro, a Lactogal consegue recuperar e refinar efluentes de dois processos produtivos tornando-os em água utilizável para alguns fins industriais, mitigando a escassez de água e "tornando dois problemas numa vantagem", como afirma Carlos Soares.
Olhando para a transição energética, a Lactogal está a apostar na utilização de energia solar na Plataforma Logística de Frielas e está a renovar a frota com viaturas elétricas.
Noutra frente, a utilização de bombas de calor e de caldeiras de biomassa está a ajudar a reduzir as emissões resultantes do uso de gás natural. Nesta área, cabem igualmente medidas para aumentar a eficiência no transporte de produtos e de matérias-primas por estrada.
Além da sustentabilidade ambiental da empresa, o coordenador de Planeamento Estratégico salientou o trabalho conjunto com acionistas e produtores para medir e certificar o bem-estar animal usando o protocolo Welfare Quality. Uma certificação que obedece a critérios científicos e que todas as explorações que entregam leite à Lactogal cumprem. Essas explorações são auditadas pela Lactogal todos os anos e uma amostra é auditada por uma entidade externa à Lactogal. "Hoje é um orgulho dizer que 100% das explorações que nos entregam leite são certificadas em bem-estar animal."
O planeta certificado do leite sustentável
Em 2021, a Lactogal conduziu um projeto que calculou que só 5% da sua pegada carbónica era de âmbito um e dois (grosso modo as emissões que resultam da queima de combustíveis fósseis e da utilização de energia elétrica não renovável, na sua atividade). Os outros 95% estavam relacionados com a sua cadeia de valor, ou seja, com as matérias-primas que a empresa compra e com os produtos que vende.
Destas emissões, 92% estão no leite adquirido pela Lactogal. Foi da necessidade de medir, e, sobretudo, de reduzir estas emissões em cada exploração que nasceu o projeto Planeta Leite, que foi apresentado nesta conferência por Henrique Trindade, professor catedrático da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, e Ana Sofia Santos, diretora de Ciência e Inovação da FeedInov. Esta responsável pelo projeto colocou as emissões da agricultura e da pecuária em perspetiva ao afirmar que 12% das emissões globais são do setor agrícola, e destas 70% são da pecuária, ou seja, o setor pecuário é responsável por apenas 8% das emissões globais.
No caso português tem-se verificado, inclusivamente, uma diminuição do efetivo bovino e das emissões, mas acompanhado do crescimento da produção de leite, o que sublinha o esforço do setor para ser mais eficiente. Para Ana Sofia Santos, "nos últimos 20 anos o setor leiteiro trabalhou excecionalmente bem, fruto de inovação, de desenvolvimento, de uma preocupação de ser cada vez melhor na sua atividade".
Piloto arranca com 39 explorações Lactogal
Coube a Henrique Trindade explicar os objetivos do projeto Planeta Leite, que irá decorrer nos próximos anos: "O projeto irá recolher de forma detalhada a informação disponível sobre todas as atividades e práticas nas explorações." Com essa informação, vão partir para "soluções e métodos para uma gestão dos recursos mais eficiente e para a redução das emissões nas explorações", conta. Numa primeira fase o projeto irá decorrer em 39 explorações muito diferentes entre si, permitindo desenvolver e testar a metodologia, processos e ferramentas em circunstâncias muito diversas. Em função da evolução do projeto, a ideia será alargar o projeto a todas as mil explorações que entregam leite à Lactogal.