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“Foram feitos avanços históricos, mas há muito trabalho até ao próximo encontro”

Desafio é de todos e o fator tempo é escasso. A perspetiva e o balanço do contributo da Fidelidade na COP28, que foi recentemente considerada a quarta seguradora mais sustentável do mundo, nas palavras do seu CEO, Rogério Campos Henriques.

20 de Dezembro de 2023 às 11:43
Rogério Campos Henriques, CEO da Fidelidade
Rogério Campos Henriques, CEO da Fidelidade
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Uma vontade de "fazer acontecer" reflete, na opinião de Rogério Campos Henriques, a dinâmica sentida entre os participantes – governos, ONG e outros - na COP28. Contudo, o CEO da Fidelidade reconhece igualmente a perceção generalizada de que, ao ritmo atual, não será possível cumprir as metas do Acordo de Paris.

Rogério Campos Henriques faz o balanço da participação, pela primeira vez, da seguradora neste encontro, no qual um dos objetivos foi partilhar o caminho que tem feito internamente rumo à descarbonização e à transição justa.

 

Que balanço faz da COP 28, em geral?


Um balanço positivo, embora prudente. Foi o primeiro ano em que a Fidelidade esteve presente naquele que é o maior evento do mundo sobre o clima. Deixámos a COP28 com a convicção de que este encontro promoveu avanços históricos, mas que há ainda um enorme trabalho a desenvolver até à COP29. Se por um lado se sente que há uma dinâmica reforçada de que precisamos mesmo de "fazer acontecer" por parte dos participantes, e refiro-me não só aos Governos e ONGs mas também às empresas presentes, por outro não podemos deixar de reconhecer que ao ritmo atual vamos falhar clamorosamente as metas do Acordo de Paris. Temos (todos) mesmo um desafio muito grande pela frente.


A presença da Fidelidade permitiu a afirmação do nosso compromisso enquanto agente económico para com as metas do Acordo de Paris, tornando público o nosso Plano Net Zero, assente em três dimensões – investimentos, seguros, e operações, até 2050.


Destaco ainda três conceitos que também estão muito ligados, não só ao nosso negócio, mas à nossa forma de estar. O primeiro refere-se à transição justa. Na Fidelidade acreditamos que temos de envolver todas as pessoas, sejam os nossos colaboradores, parceiros, fornecedores, clientes, bem como a sociedade em geral. Para uma empresa que está presente em catorze países, em quatro continentes, sabemos que é muito importante não deixar ninguém para trás.


Em segundo lugar, estivemos muito atentos ao conjunto de fundos de investimento, reinvestimento e financiamento, a diversos níveis, que foram apresentados na COP e que têm um impacto no ambiente e nas populações. Enquanto investidores, achamos que hoje existem mais oportunidades para investir com impacto social e ambiental positivo.


Em último lugar, o facto de terem sido colocados em cima da mesa diversos temas como a saúde, a natureza, a biodiversidade e os oceanos, que são extremamente importantes para a Fidelidade enquanto uma seguradora que quer ter um papel ativo ao nível de respostas para a transição.

 

Hoje chegou-se na COP28 a um acordo histórico de "transição para o abandono" dos combustíveis fósseis. Na vossa opinião, qual é o significado deste acordo e que impactos terá no setor segurador?


É um acordo importante e que tem impacto para o setor segurador. Na Fidelidade não fazemos qualquer distinção entre a sustentabilidade e a nossa atividade, precisamente porque consideramos que não é possível ter um negócio robusto, rentável e com futuro sem sermos verdadeiramente sustentáveis. Mais do que a nossa presença na COP28, o trabalho que temos vindo a desenvolver ao nível dos nossos investimentos, subscrição e operações, ilustra bem o nosso compromisso nesta matéria.


Para atingir este acordo, sabemos que temos de envolver todos os agentes da sociedade. Na Fidelidade estamos empenhados em atingir as metas do Acordo de Paris e queremos ser uma empresa ativa na transição. Tanto nos nossos investimentos, como no apoio à transição de outros através dos nossos produtos e serviços. Queremos, também, que as nossas operações sejam cada vez mais limpas. E estes nossos compromissos caminham lado a lado com o novo acordo.

 

Que balanço faz da participação da Fidelidade?


Ficámos muito satisfeitos, a presença na COP28 foi muito importante para a Fidelidade. Tratou-se do reconhecimento público do trabalho que temos vindo a desenvolver no âmbito da sustentabilidade e deu-nos a oportunidade de apresentar a nossa estratégia e determinação em contribuir para a transição ecológica. Com esta participação também sentimos uma responsabilidade acrescida, especialmente em relação à forma como vamos ter de materializar os compromissos ambiciosos que assumimos.


Para a Fidelidade, bem como para todas as empresas que estiveram presentes na COP, acreditamos que foi uma oportunidade única para alcançar uma verdadeira atuação sistémica, que partilhe os esforços necessários entre as entidades públicas e privadas.


A nossa presença permitiu, acima de tudo, alavancar a capacidade de contribuirmos proactivamente para a transição ecológica em linha com aquela que é a nossa estratégia, não apenas ambiental, mas também de negócio. Ao longo da semana em que estivemos presentes, tivemos a oportunidade de promover um evento sobre o caminho Net Zero e como a colaboração entre os diversos agentes da sociedade e da economia é importante para que este objetivo seja alcançado. Esperamos que a partilha dos nossos compromissos tenha inspirado outras empresas a fazer este caminho connosco e a gerar um impacto positivo na sociedade. Recebermos a notícia, precisamente durante a COP, de que somos a quarta melhor seguradora no mundo em termos de sustentabilidade e a segunda melhor da Europa, no rating da Morningstar Sustainalytics, foi outro motivo de enorme orgulho e que nos confirma que a estratégia que temos aponta na direção certa.

 

O que o marcou mais do evento? Tem-se uma noção/perspetiva diferente do problema e urgência ao ouvir os cientistas?


É sempre diferente estarmos presentes no local onde são tornados públicos novos dados e tomadas decisões com impacto em toda a humanidade, ouvindo-as em primeira mão. A ciência e os dados científicos que temos são claros. As consequências do aquecimento global serão graves, múltiplas e com impactos em "efeito cascata". A diversos níveis, desde impactos materiais, naturais, económicos e sociais, com impacto direto na qualidade de vida das populações e o aumento das desigualdades. Para nós isto é muito relevante e tem um impacto direto no nosso negócio.


Os relatórios e dados que foram tornados públicos ao longo da COP são uma fonte de conhecimento essencial para nós. O negócio segurador é, desde sempre, um negócio que gera e trabalha com dados para medição de riscos. Neste sentido, foram dias em que recebemos dados atuais e que apoiam o nosso trabalho.

 

Que importância terá o reinvestimento em diferentes iniciativas de fundos climáticos, e qual o seu impacto no negócio da Fidelidade enquanto investidor? 


Para além do fundo de "perdas e danos" para as nações vulneráveis, diria que esta COP fica marcada por um conjunto alargado de novos fundos, alianças e iniciativas para o financiamento ao qual na Fidelidade estamos muito atentos.


Além da multiplicidade de compromissos para financiar a transição para uma economia de baixo carbono, vários outros compromissos, como novos financiamentos, reinvestimentos e iniciativas de fundos, vão ao encontro do apoio a temas específicos, como iniciativas relacionadas com a natureza e biodiversidade, oceanos e agricultura.


Uma tendência que também não nos passou despercebida foi o aumento dos chamados fundos de financiamento misto, ou seja, fundos que reúnem diferentes tipos de capital de fontes públicas e privadas. A Fidelidade, enquanto investidora, procura as condições certas e que o resultado dos seus investimentos vá além da rentabilidade e se traduza na geração de um impacto positivo. Acreditamos que todo este movimento financeiro que sai da COP é importante, uma vez que permite criar um efeito multiplicador para os fundos públicos e trazer mais capital privado para a mesa, gerando confiança nos investidores para colocar o dinheiro nas atividades e fundos certos.

 

Que contributo poderá Portugal e a Fidelidade dar com iniciativas como o Center for Climate Change?


Portugal marcou a sua presença na COP, pela primeira vez, com um espaço físico no Pavilhão de Portugal. A posição de Portugal foi sólida e devemos estar orgulhosos de ser um exemplo no empenho que temos demonstrado nas energias renováveis, apesar de sabermos que ainda temos um caminho a seguir enquanto país.


Na Fidelidade estamos muito empenhados, não só em reduzir a nossa pegada de carbono, mas também em envolver os nossos stakeholders neste caminho. Tendo em conta o nosso negócio, e tendo em conta que trabalhamos com riscos, queremos ter cada vez mais um papel ativo enquanto um agente gerador de conhecimento e de dados relevantes em relação às alterações climáticas e às suas múltiplas externalidades.


Neste sentido, acreditamos que o Center for Climate Change, vai ser absolutamente transformador em termos da produção de conhecimento na temática das alterações climáticas, para o sector segurador, mas também para a Sociedade em geral. Em conjunto com outras entidades, vamos criar estudos relevantes sobre as alterações climáticas que vão permitir apoiar e desenvolver o nosso conhecimento e, simultaneamente, desenhar propostas de ação para fazer face aos desafios atuais e futuros.

 

O impacto das alterações climáticas na saúde está finalmente a ser reconhecido. O diretor-geral da OMS saudou esta declaração feita na COP28, e o reconhecimento da existência de uma crise de saúde, como um passo positivo. Acredita que este impacto terá finalmente relevância para a maioria dos países e que serão desenvolvidas medidas e iniciativas para a sua prevenção e mitigação?


Esta foi a primeira conferência da ONU sobre o clima a ter um dia dedicado à Saúde. Para nós este foi um passo importante, uma vez que torna oficial a relação entre os riscos climáticos e os riscos de saúde. A Declaração dos Emirados Árabes Unidos sobre o Clima e a Saúde, assinada por cerca de 123 países, foi essencial neste campo pois reconhece a necessidade de os governos protegerem as comunidades e prepararem os sistemas de saúde para fazer face aos impactos relacionados com o clima.


Na Fidelidade, queremos cada vez mais estar perto dos nossos clientes, não só em produtos que respondam às suas necessidades, mas também promovendo comportamentos preventivos em momentos de maior risco na saúde, no que diz respeito a eventos climáticos e as suas possíveis consequências na saúde dos nossos clientes e da sociedade no geral.


Sabemos que é tempo de atuar. O mundo já está a sentir o efeito das alterações climáticas e por isso temos de ter respostas mais ambiciosas, que esperamos que sejam não só inspiradoras para os outros, mas também capazes de criar sinergias entre a Fidelidade e outras empresas e setores da sociedade.