O período pós-pandémico levou à proliferação de novos fenómenos no mercado de trabalho e surgiram novas tendências como, por exemplo, o "quiet quitting". Esta é a expressão criada para identificar uma atitude em que o trabalhador emprega o esforço mínimo para manter o seu posto, sem superar expectativas. Mas depressa surgiu também uma tendência antagónica no processo de recrutamento, denominada "quiet hiring".
Rui Rocheta
Chief Regional Officer Southwestern Europe & Latam da Gi Group Holding
Permitindo reconverter trabalhadores internos ou estabelecer relações laborais flexíveis, o fenómeno "quiet hiring" encontra-se mesmo entre as principais tendências do mercado de trabalho, em 2023, segundo a Gartner.
O que é e quais são as principais características de "quiet hiring"? Como poderá este processo de recrutamento inovador transfigurar o futuro laboral no mundo?
O que é "quiet hiring"?
Um processo de recrutamento baseado em "quiet hiring" foca-se, então, na procura de competências em falta na empresa sem depender da contratação permanente e full-time de novos trabalhadores.
"Quiet hiring" pode referir-se, por exemplo, ao processo de recrutamento e seleção de trabalhadores temporários e freelancers ou à reconversão de trabalhadores atuais, atribuindo-lhes funções e responsabilidades distintas das contratualizadas inicialmente.
Desse modo, a empresa reestrutura-se para que alguns trabalhadores passem para outros cargos ou integrem novos projetos, consoante as necessidades. Nestes casos, podemos considerar "quiet hiring" como um processo de recrutamento interno, isto é, que mobiliza profissionais já integrados na organização.
A que se deve a popularidade crescente de “quiet hiring”?
O mercado de trabalho atual revela-se, sem dúvida, profundamente competitivo. Múltiplas empresas procuram recrutar os melhores talentos, mas enfrentam um duplo desafio: contornar a escassez de talento e lidar com as pressões para poupar tempo e capital no recrutamento.
Conciliar uma política de captação e retenção de talentos qualificados com a necessidade de redução de custos torna-se, portanto, num desafio premente. Por conseguinte, algumas organizações utilizam este processo de recrutamento alternativo ("quiet hiring"), recorrendo aos seus recursos humanos internos ou a prestadores de serviços ocasionais.
Mesmo gigantes empresariais, como a Google, adotaram este novo processo de recrutamento e seleção. Em primeiro lugar, identificam os trabalhadores cujas competências e cujos esforços já ultrapassam os requeridos para as suas funções atuais. Posteriormente, oferecem-lhes aumentos salariais, promoções e novos cargos.
Por fim, caso não consigam satisfazer todas as suas carências com o talento interno, procuram soluções criativas, como contratação temporária ou serviços de freelancers.
Vantagens do processo de recrutamento "quiet hiring" para empresas e trabalhadores
Um processo de recrutamento e seleção como "quiet hiring" pode trazer múltiplos benefícios às organizações, como por exemplo:
• Mais eficiência e menos custos do que novas contratações permanentes, solucionando necessidades imediatas ou ocasionais com agilidade;
• Flexibilidade no aproveitamento das capacidades dos trabalhadores atuais para tarefas prioritárias;
• Aumento da retenção de talentos de excelência, da motivação e da produtividade com a reconversão de trabalhadores.
Em suma, "quiet hiring" representa poupança de tempo, capital e recursos organizacionais.
Além disso, um processo de recrutamento e seleção desta tipologia poderá também beneficiar os trabalhadores na sua progressão na carreira. Afinal, desempenhar novas funções traz oportunidades de aprendizagem, de desenvolvimento de competências e de expansão do networking.
Perante dificuldades no processo de recrutamento e seleção no mercado de trabalho atual (como escassez de talentos), "quiet hiring" é, certamente, uma resposta inovadora. No entanto, para que esta tendência seja bem-sucedida não basta o esforço dos trabalhadores. Cabe à empresa fornecer a formação e o apoio necessários para assegurar o sucesso.
Este conteúdo foi produzido integralmente por Rui Rocheta, da Gi Group Holding