Vive-se uma era de transformação, na qual o conceito de sucesso empresarial está a ser reescrito. O crescimento sustentável, a responsabilidade social e a transparência deixaram de ser opcionais para se tornarem imperativos num mercado cada vez mais exigente e consciente. Neste novo paradigma, o movimento B Corp emerge como "uma solução para as empresas que pretendem equilibrar lucro e propósito, garantindo um impacto positivo no mundo", explica Nuno Fideles, head of sustainability da Savills. Mas por que razão esta filosofia ainda não é a realidade que se tem?
Nuno Fideles responde, referindo que "a certificação B Corp estabelece um padrão elevado de desempenho social e ambiental, comprometendo as empresas a um modelo de gestão que considera todos os stakeholders". E prossegue: "Em Portugal, o movimento tem vindo a ganhar expressão desde 2015, mas está longe de atingir a adoção massiva que se verifica noutros países. Os desafios são diversos: falta de conhecimento, resistência à mudança e um enquadramento regulatório que nem sempre favorece a transição para um modelo de negócio mais sustentável."
O que está, então, a travar esta realidade? Em primeiro lugar, é crucial aumentar a consciencialização sobre os benefícios concretos da certificação. "Ser uma B Corp não é apenas uma questão de propósito – é também uma vantagem competitiva. Empresas certificadas são mais atrativas para investidores, colaboradores e consumidores, que procuram marcas alinhadas com os seus valores", é-nos explicado. Para além disso, a certificação abre portas a redes internacionais de colaboração, impulsionando crescimento e inovação.
Outro fator determinante é a necessidade de incentivos governamentais. "A criação de políticas que recompensem empresas com um compromisso com a sustentabilidade, pode ser um acelerador decisivo", realça Nuno Fideles, acrescentando: "Benefícios fiscais, apoios financeiros e programas de reconhecimento público são ferramentas fundamentais para que existam mais organizações a trilhar este caminho."
Mas talvez o maior obstáculo resida na mudança de mentalidade – diz o responsável de Sustentabilidade da Savills, recordando que ainda há quem veja a responsabilidade social como um custo e não como um investimento. "Esta perceção deve ser desconstruída", salienta. A sustentabilidade empresarial "não é uma tendência passageira, mas sim a chave para um futuro resiliente". "Empresas que incorporam boas práticas ESG (Ambientais, Sociais e de Governação) apresentam um desempenho superior a longo prazo, mitigam riscos e estão mais bem preparadas para um mundo em rápida transformação", garante Nuno Fideles.
Portugal tem um enorme potencial para se afirmar como uma referência no movimento B Corp. A criatividade, a capacidade de inovação e o espírito colaborativo que caracterizam as nossas empresas são fatores essenciais para esta transição. Mas para que esta evolução se concretize, é necessário um esforço coletivo. "As empresas devem assumir a responsabilidade de fazer parte da solução, os consumidores devem exigir mais transparência e os governos devem criar condições para que o crescimento sustentável seja o caminho natural", informa o head of sustainability da Savills.
Nuno Fideles não termina sem alertar que o futuro das empresas "não se mede apenas pelo lucro que geram, mas pelo impacto que deixam no mundo, e a certificação B Corp é um passo firme nesse sentido". "Estamos preparados para assumir esta realidade? O caminho está traçado, falta apenas tomar a decisão de o percorrer", conclui.
