A rede ELITE foi lançada em 2012 pelo Grupo Borsa Italiana como um instrumento de resposta à crise financeira de 2009. Para Marta Testi, CEO da ELITE, "um dos problemas que a crise evidenciou não foi a falta de capital, mas sim o acesso ao capital disponível". Desde então, já trabalharam com mais de 2.100 empresas. Hoje, este ecossistema conta com mais de 1.400 empresas com uma receita agregada na ordem dos 150 mil milhões de euros, provenientes de 23 países.
Quando a Euronext adquiriu o Grupo Borsa Italiana em 2021, a estratégia da ELITE de continuar a expandir a sua influência junto das PME europeias ficou reforçada. Portugal foi o primeiro país onde a Euronext decidiu investir no desenvolvimento dos serviços deste ecossistema, que já conta com 11 empresas portuguesas.
Falámos com Marta Testi, CEO da ELITE, para conhecer a proposta de valor que esta rede apresenta ao mercado português e os benefícios que pode trazer para as PME nacionais.
1. O que é a ELITE? Como se pode apresentar este ecossistema ao mercado português?
ELITE é a designação do ecossistema da Euronext para PME, que apoia empresas de pequena e média dimensão, ligando-as a conhecimento, contactos e capital. Trabalhamos com as empresas que nos procuram com o objetivo de impulsionar o seu crescimento, de forma sustentável e a longo prazo, facilitando o acesso a capitais tradicionais, privados ou via mercado de capitais.
De uma forma muito resumida, diria que a oferta da ELITE assenta em três pilares: acesso a competências e conhecimento, através de um programa de formação exclusivo que abrange uma variedade de tópicos, como estratégia de crescimento, inovação e internacionalização, bem como gestão de risco, governação corporativa e opções de financiamento; acesso a uma rede internacional, uma vez que os membros da ELITE beneficiam da exposição a pares e consultores líderes, complementado com a exposição mediática e acesso a eventos exclusivos; e, por último, acesso a capital para crescimento, através de soluções de financiamento tradicionais ou alternativas, atuando como uma ponte entre os setores privado e público.
2. Porque é que as empresas procuram a ELITE?
Pela experiência que temos tido ao longo dos últimos 11 anos, as empresas aderem à ELITE com quatro objetivos principais: melhorar as suas competências e a cultura organizacional; receber orientação sobre prioridades estratégicas; ganhar visibilidade e reconhecimento; e ter acesso a opções de financiamento alternativas e dar o primeiro passo nos mercados de capitais, com instrumentos complementares ao financimaneto bancário tradicional.
Estes objetivos são alcançados através de um plano imersivo para CEO e CFO sobre estratégia e finanças, entregue por uma equipa académica de topo, com ferramentas de apoio, tais como workshops trimestrais sobre dimensões-chave de crescimento, e ainda através de um trabalho intensivo das e com as empresas, desenvolvido com a nossa equipa, bem como com os nossos parceiros e consultores experientes e qualificados. A ligação entre pares acaba por complementar estas ferramentas, pois permite a partilha de desafios comuns, e trabalho conjunto de procura de soluções, bem como o alavancar da visibilidade destas empresas junto das suas comunidades.
3. Que empresas são elegíveis para integrar na ELITE?
Todas as empresas de todas as dimensões e setores de atividade, que procurem expandir os seus negócios, internacionalizar-se e/ou explorar opções de financiamento, são bem-vindas. Atualmente, 64% dos membros ELITE têm receitas entre 10 e 100 milhões de euros e são provenientes de setores como indústria (38%), bens de consumo (23%) e tecnologia (13%), entre outros. 85% das empresas da ELITE são empresas familiares. Os participantes no programa são, habitualmente, administradores, podendo haver uma variação dos membros do conselho de administração presentes em função da temática abordada em workshops específicos.
4. Acredita que a ELITE pode ter impacto no apoio ao crescimento das PME em Portugal? Como é medido o sucesso do programa?
Sem dúvida. Aliás, já estamos a trabalhar com as primeiras 11 empresas portuguesas e acreditamos que este é apenas o início. O facto de sermos agnósticos no que respeita às ferramentas de financiamento tem sido fundamental para ampliar o ecossistema e atrair empresas com a genuína necessidade de direcionar melhor o seu crescimento.
Consideramos que uma estratégia sólida de crescimento é o primeiro passo e só depois as empresas devem focar-se na avaliação de qualquer instrumento financeiro: seja privado ou público, assente em dívida ou reforço de capitais próprios. E é esse exercício que nos propomos fazer com as empresas.
Por este motivo, diria que os três indicadores-chave de desempenho para avaliar o impacto e o sucesso da ELITE são: a taxa de crescimento tanto em termos de dimensão (faturação/receita) como de rentabilidade (margens EBITDA) das empresas ELITE; a taxa de crescimento do emprego no que respeita ao número de colaboradores; e, o dinamismo das finanças da empresa, que inclui captação de capital, mas também a participação em negociações que podem passar por fusões e aquisições.
5. As empresas portuguesas estão em posição de crescer? Considera a economia portuguesa competitiva?
Absolutamente. Após a fase mais crítica da pandemia, que levou a uma queda de 7,6% no PIB em 2020, Portugal embarcou numa recuperação constante iniciada em 2021 (com uma mudança positiva no PIB de +4,9%) e consolidada em 2022 com +6,7%. Esses dados são corroborados pelas estatísticas da Comissão Europeia, que colocam o país, em 2022, em segundo lugar na União Europeia em termos de crescimento.
Estes dados indicam não só o desempenho económico positivo de Portugal na atual situação complexa internacional, mas também o substancial dinamismo de uma economia que parece ser bem-sucedida, através de uma prudente combinação de medidas de controlo de despesa pública e o incentivo a alguns setores impulsionadores (nomeadamente o turismo, que representa agora mais de 17% do PIB), para garantir margens de crescimento constantes, bem como oferecer interessantes oportunidades comerciais e de investimento.
6. Considerando que as PME portuguesas sofrem de subcapitalização crónica, como é que a ELITE pretende ajudá-las?
Tal como referi anteriormente, somos agnósticos no que respeita aos setores e dimensão das empresas, bem como ao tipo de capital angariado. Isto significa que iremos apoiar as PME a avaliar opções alternativas de financiamento e iremos promover o acesso a capital de uma forma generalizada (e não apenas através de mercado de capitais, nomeadamente IPO - Oferta Pública Inicial).
7. Como surgiu a ideia de criar o modelo ELITE e que resultados tem tido até ao momento?
A ELITE arrancou em 2012 como resposta à crise financeira instalada, a maior desde 1929. Exatamente nesse ano, os efeitos da referida crise – que começou em 2009 – foram dramaticamente claros para todos nós, com várias consequências para a economia real, nomeadamente a falta de confiança e falta de financiamento disponível para apoiar os empresários nas suas atividades diárias. Naqueles meses, o verdadeiro problema ficou claro: a questão não era a falta de capital, mas sim o acesso ao capital disponível.
Desde então, trabalhámos com mais de 2.100 empresas. Atualmente, são mais de 1.400 as empresas que fazem parte deste ecossistema, com uma receita agregada de cerca de 150 mil milhões de euros, que representam 33 setores e empregam 500 mil pessoas.
Posso afirmar que temos uma história de sucesso. E posso dar alguns números que ilustram este sucesso. 40% das empresas que fazem ou fizeram parte da ELITE realizaram operações no campo das finanças corporativas e este número é a prova do dinamismo do nosso ecossistema.
Cerca de mil milhões de euros foram angariados com apoio direto da ELITE e canalizados para mais de 260 empresas, aproveitando o modelo de Basket Bond®. 65 empresas foram admitidas em mercados de capitais, angariando 3,8 mil milhões de euros. 136 empresas realizaram 196 emissões obrigacionistas, tendo angariado 2,8 mil milhões de euros. E, 426 empresas participaram em mais de 1.000 negócios de fusões e aquisições.
8. Foi recentemente apresentado o primeiro grupo de empresas portuguesas a trabalhar com a ELITE. Há planos para este número aumentar?
Estamos apenas no início. Já estamos a planear lançar um grupo adicional ao longo dos próximos meses. Queremos continuar a impulsionar as PME portuguesas a alcançar os seus objetivos, enquanto construimos uma comunidade ELITE em Portugal, de pequenas e médias empresas ambiciosas, e que ficam ligadas à nossa rede internacional.
Quando, no início de julho, 11 empresas portuguesas, representantes de uma ampla gama de setores, desde tecnologia até cuidados de saúde, de utilidades a bens de consumo e de indústrias a materiais básicos, se juntaram ao nosso ecossistema, celebrámos o início do programa da "World Trade Center (WTC) Lisboa International Academy by ELITE". Ou seja, demos forma a um trabalho que tem vindo a ser desenvolvido ao longo de vários meses com diferentes entidades e parceiros em Portugal.
Sumariamente, este primeiro grupo de empresas portuguesas pioneiras está a seguir, desde o início de julho, um programa estruturado projetado para as ajudar a prepararem-se e a estruturarem-se para a próxima fase de crescimento, através de um percurso de aprendizagem e orientação no âmbito das melhores práticas de gestão e empreendedorismo. Em simultâneo, estamos a promover relacionamentos e oportunidades com potenciais investidores, facilitando o acesso a uma ampla gama de opções de financiamento, que podem passar por dívida ou reforço de capitais próprios, com origem privada ou pública.
9. A ELITE tem vindo a estabelecer parcerias ou colaborações com organizações locais para reforçar a sua presença em Portugal - WTC Lisboa, BBVA, Associação das Empresas Familiares, Nova SBE, Deloitte, VdA, são alguns dos nomes já divulgados. Porquê estes parceiros e que contributos têm para o programa?
Gostaria de salientar que a ELITE é um ecossistema aberto ao qual se podem juntar todas as intituições que queiram investir no apoio às pequenas e médias empresas. Os nossos parceiros são selecionados pelo contributo que podem trazer ao programa, nas suas várias vertentes. Os primeiros que se associaram a esta iniciativa em Portugal são aqueles que primeiro demonstraram um forte alinhamento em relação ao conceito de como queremos apoiar as empresas. E, foram também os que partilharam de forma muito pragmática o tipo de contributo que poderiam trazer. Da contabilidade à estratégia, da governação ao financiamento, da internacionalização aos sistemas de planeamento e controlo.
Para ilustrar os papéis de cada um deles, agarremos no exemplo do lançamento do primeiro grupo no âmbito do projeto "WTC Lisboa International Academy by ELITE". Este assenta num programa organizado e gerido pela ELITE, com base nos mais de dez anos de experiência internacional no apoio a pequenas e médias empresas e no acesso a conhecimento, rede de contatos e capital. O World Trade Center Lisboa é o promotor da iniciativa, no âmbito do seu pilar Business Club e do comité International Trade. O conteúdo programático foi desenvolvido e definido pela ELITE, tendo como base a sua própria metodologia, testada internacionalmente em mais de duas mil empresas, mas também em conteúdos e nos especialistas da Nova School of Business and Economics (Nova SBE).
O BBVA associou-se a este projeto enquanto patrocinador e a Associação das Empresas Familiares juntou-se à iniciativa enquanto embaixadora, para criar uma ponte entre as empresas familiares e os mercados internacionais.
Neste momento já estamos a trabalhar com a Deloitte e a VdA na construção do segundo grupo de empresas a integrar a ELITE em Portugal, que se prevê que ocorra no último trimestre deste ano.