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A agricultura tem sido um terreno fértil em práticas inovadoras. Venha saber como

Agricultores nacionais utilizam equipamentos que melhoram a produção e diminuem custos. Estufas de tomate são um bom exemplo onde os sistemas inovadores fazem a diferença.

24 de Maio de 2024 às 11:09
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A tecnologia e a inovação fazem parte do dia a dia do setor agroalimentar português. Cada vez mais as empresas da atividade apostam em sistemas inovadores nas suas produções e o Grupo Patrícia Pilar é um excelente exemplo desta estratégia, promovendo uma produção apoiada em tecnologia com equipamentos especializados que garante a qualidade de cada produto.

 

Um bom exemplo de equipamentos especializados que fazem a diferença são as estufas de tomate, um dos produtos em que o grupo que está sediado em A dos Cunhados, freguesia do município de Torres Vedras, é especialista. "O grupo destina um conjunto de investimento à tecnologia das nossas estufas. Nos últimos anos, temos investido na melhoria da qualidade das nossas unidades de produção, criando as melhores condições para o desenvolvimento e bem-estar da planta", começa por explicar Patrícia Pilar, a CEO, prosseguindo: "A principal diferença reside na localização geográfica: a altura das estufas, que chega a atingir os cinco metros, permite-nos instalar telas térmicas que nos dão a possibilidade de controlar a radiação e a temperatura no interior das unidades de produção." Desta forma, é possível dividir a produção "em três ciclos diferentes de plantação e colheita, garantindo sempre a frescura do produto com plantas saudáveis".

 

Nas estufas de tomate da empresa, são utilizados outros sistemas inovadores adaptados às necessidades, como são os casos das "sondas de humidade e radiação, máquinas de climatização automatizadas, painéis solares, máquinas de fertirrigação automatizadas, temperatura e CO2".

 

A utilização da tecnologia permite igualmente controlar custos. Nesse sentido, foi adquirido um novo programa, o qual todos os dias reporta o valor de cada uma das tarefas que são realizadas no decurso dos ciclos de produção. Já a aquisição de uma máquina de limpeza "poupou" colaboradores e empresa. "Reduzimos o excesso de esforço dos funcionários no final do ciclo de produção, diminuindo em 70% os custos de limpeza derivados da destruição das plantas e da limpeza das estufas", recorda Patrícia Pilar.

"A altura das estufas, que chega a atingir os cinco metros, permite-nos instalar telas térmicas que nos dão a possibilidade de controlar a radiação e a temperatura no interior das unidades de produção." Patrícia Pilar, CEO do Grupo Patrícia Pilar

Clima atlântico

O tomate é fundamental na atividade do grupo e muito do seu êxito advém das práticas inovadoras e do uso de tecnologia. Mas não só. Patrícia Pilar informa que o sucesso deste fruto, que ali é produzido em várias tipologias, se baseia também na influência do clima atlântico durante a sua janela de produção devido à proximidade do mar da empresa. "Na zona Oeste, produzimos de abril a finais de novembro, identificando as variedades mais produtivas e saborosas que nos permitem dar um benefício extra em atributos de sabor ao consumidor final", esclarece.

 

Empresa familiar que tem vindo sempre a crescer

O tomate é a principal cultura, tendo conquistado consumidores, quer internos quer externos, pois também tem um enorme peso na exportação. No entanto, o Grupo Patrícia Pilar, cuja origem remonta à Lourinhã e a 1992, e que já vai na segunda geração de uma empresa familiar, produz outras culturas. Atualmente é constituído por dezoito empresas ligadas ao setor hortofrutícola com mais de 700 hectares de produção própria distribuída entre estufas, para a produção de hortícolas e campos abertos, para a produção de fruta e frutos da terra, com mais de 80.000 toneladas de produção própria, bem como uma frota de 52 camiões que abastecem as suas necessidades logísticas.

 

As instalações têm 48.000 m2, o que permite uma elevada capacidade operacional adaptada para prestar um excelente nível de serviço aos clientes. A capacidade de produção é de 500 toneladas por dia e a de armazenamento é de 20.000 toneladas em atmosfera controlada dinâmica.

 

É-nos ainda explicado que ao nível da distribuição, a atividade abrange a maioria dos canais de distribuição – horeca, grossista e distribuição moderna –, sendo o mercado nacional um pilar fundamental.

Estratégia de investimento


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O Grupo Patrícia Pilar investiu, nos últimos cinco anos, 37 milhões de euros no aumento da sua produção, no desenvolvimento das suas instalações e na formação e bem-estar dos seus mais de 1.000 trabalhadores. O grupo 100% português mantém o seu nível de investimento e desenvolvimento no setor hortofrutícola, prevendo investir mais de 7 milhões de euros até 2024 na construção de 20 hectares de estufas que criarão 100 novos postos de trabalho na região Oeste. O volume de negócios com que o grupo fechou o ano de 2023 foi de 300 milhões de euros.

 

Jovens agricultores aposta na tecnologia
Investir em tecnologia e estar sensibilizado para a inovação é fundamental para a sobrevivência de qualquer atividade. O mercado atual assim o exige. O Grupo Patrícia Pilar, um dos maiores produtores a nível nacional, sabe que assim é e já "mudou o chip", sendo hoje uma das referências no que diz respeito ao uso de tecnologia nas suas operações. Neste contexto, Patrícia Pilar foi convidada a contar a sua experiência no projeto Semear o Futuro, criado pela CAP – Confederação do Agricultores de Portugal e Mercadona, há quase um mês, no dia 26 de abril, Dia da Produção Nacional. Esta iniciativa tem como missão debater o setor agroalimentar, destacar boas-práticas e dar a conhecer projetos inovadores na atividade, procurando estabelecer a ligação entre a produção e o consumidor.


Como a importância da tecnologia no setor agroalimentar é indiscutível também quisemos ouvir a opinião da CAP, a quem perguntámos se os jovens agricultores apostam na inovação. A resposta é afirmativa, com Sérgio Ferreira, diretor da CAP, a garantir que os jovens agricultores em Portugal "apostam na inovação todos os dias e em diferentes dimensões". "Estamos a falar de sistemas de precisão na chamada agricultura 4.0. Na gestão da água, é muito clara a implementação de sistemas inovadores, com diversos sensores de humidade, caudalímetros, manómetros, interligados em rede e com aplicações informáticas de acesso facilitado para verificar e gerir o sistema em qualquer lugar, com foco na utilização adequada da água.

 

Outro exemplo que nos é dado são os tratores, que possuem sistemas de georreferenciação que permitem a plantação linha a linha ao centímetro, ou são dotados de alfaias que permitem aumentar a produtividade com grandes condições de segurança.

 

A inovação também é usada "na aplicação de novas culturas ou variedades, com maior capacidade produtiva e resistências a problemas fitossanitários". "Já são também aplicados sistemas de rastreabilidade por código QR, que acompanham o produto desde a sua origem até ao consumidor final", acrescenta o responsável da CAP, assegurando que os jovens agricultores portugueses "acompanham as tendências e as melhores tecnologias a nível da Europa".


Vida do campo está pouco apelativa

O setor agroalimentar em Portugal enfrenta vários desafios. O da inovação e implementação tecnológica no terreno é um deles, o qual, segundo os peritos na área, está a ser ultrapassado com êxito. Todavia, existem outros para os quais não mostram tanto otimismo. É o caso, por exemplo, dos problemas que um jovem agricultor português tem de enfrentar para começar um projeto de raiz. Sérgio Ferreira, diretor da CAP, revela-se cauteloso, pois os desafios nesta fase da vida de um agricultor são muitos e por vezes de grande complexidade. "Tem o jovem os terrenos disponíveis e adequados para a prática cultural que pretende implementar? Está capacitado a nível agronómico, mas também no que respeita a gestão empresarial? Sabe como e onde vai comercializar o seu produto? Consegue apoio financeiro para a execução do investimento?". As questões do responsável evidenciam a sua preocupação, à qual acresce a complexidade e morosidade do acesso aos apoios ao investimento, outro grande desafio para os jovens agricultores. "Os jovens são dotados de espírito aventureiro, mas requer uma enorme dose de realismo para que os projetos sejam sustentáveis e duradouros", alerta.

 

Talvez por isso, a percentagem de jovens portugueses que se querem dedicar à agricultura "não é animadora". "De acordo com o GPP, em 2019 os agricultores até aos 44 anos representavam apenas cerca de 10% dos agricultores nacionais e em 1989 estes representavam cerca de 20%", sublinha o responsável da CAP, que, não obstante, continua a acalentar esperança para a atividade: "Felizmente ainda existem muitos jovens que gostam da atividade agrícola e querem ser profissionais do setor, mas procuram rendimento e viabilidade económica das explorações. Tal como noutros setores e profissões, a sustentabilidade económica é fundamental, aliada à sustentabilidade ambiental e social."

"Em 2019, os agricultores até aos 44 anos representavam apenas cerca de dez por cento dos agricultores nacionais e em 1989 estes representavam cerca de 20%."  Sérgio Ferreira, diretor da CAP

Formação é essencial

Para alcançar o sucesso no campo, é fundamental os jovens agricultores nacionais terem formação. "Temos hoje as gerações mais qualificadas de sempre e o setor da agronomia não é exceção, mas é necessário dotar os jovens agricultores de conhecimentos mais alargados", explica Sérgio Ferreira, continuando: "Hoje, mais que produtor, o agricultor é um empresário e para ser um empresário de sucesso são necessários conhecimentos de gestão financeira e contabilística, de gestão de recursos humanos, de política empresarial, de marketing e de tantas outras áreas fundamentais." Nesse sentido, o diretor da CAP aconselha as instituições de ensino superior que têm oferta de cursos na área a rever os programas das suas licenciatura e mestrados. Da mesma forma, as entidades ligadas ao setor devem promover formação específica e se necessário criar parcerias com a academia, com entidades formadoras e com todos os stakeholders do setor, sem esquecer o governo, que deve definir políticas educativas adequadas às reais necessidades.

 

PAC disponibiliza apoios

No que diz respeito à Política Agrícola Comum (PAC) e aos apoios disponibilizados, Sérgio Ferreira informa que podem aceder ao Pagamento para os Jovens Agricultores (PJA), um pagamento anual associado ao pedido único no âmbito do 1.º Pilar da PAC. "É um apoio que decorre nos primeiros cinco anos após a primeira instalação da exploração", conta.

 

Em relação ao 2.º Pilar da PAC, têm existido diferentes medidas de apoio ao investimento, mas "muitas vezes desajustadas e com muita demora no processo de avaliação e de validação dos projetos, o que por vezes faz jovens seguirem outro caminho".