Voando sobre uma manada de vacas
Longe vão os tempos em que os socialistas portugueses saudavam efusivamente a vitória presidencial de François Hollande, essa "lufada de ar fresco" que prenunciava "uma nova primavera para o povo português".
Longe vão os tempos em que os socialistas portugueses saudavam efusivamente a vitória presidencial de François Hollande, essa "lufada de ar fresco" que prenunciava "uma nova primavera para o povo português".
"Acabaram as greves no porto de Lisboa" anunciava, sem margem para dúvida, a ministra do Mar no dia 7 de janeiro. Havia confiança, paz social, um novo contrato coletivo "o mais tardar até 29 de fevereiro" e a garantia do "fim do período de luta laboral de mais de três anos".
Costuma dizer-se que Stanford tem mais bicicletas do que estudantes e trabalhadores. Ou que há mais carneiros na Nova Zelândia do que pessoas.
Por razões profissionais, as duas últimas semanas "forçaram-me" a dividir o tempo e a atenção entre duas cidades que me atraem por motivos completamente diferentes. Falo de Londres e de Lisboa.
Sempre que se fala em determinadas prestações sociais não contributivas (sejam elas o complemento social para idosos, o rendimento social de inserção ou até as pensões atribuídas aos ex-titulares de cargos políticos...) renasce o debate sobre a chamada "condição de recursos".
A poucos dias de umas eleições presidenciais que parecem entusiasmar apenas os próprios candidatos, sucedem-se os sinais de um tempo que para alguns é "novo" e que, para outros, mais não é do que a revisitação de um passado não muito distante.
Ao longo da última década e meia - e sobretudo após os PEC e o, aparentemente proscrito, "Memorando de Entendimento" com a troika de maio de 2011 - tudo ou quase tudo girava à volta da urgente necessidade de o nosso país levar a cabo um conjunto de "reformas estruturais".
Fez ontem precisamente um mês que os Portugueses foram chamados a decidir sobre o quadro político para a nova legislatura. Os resultados eleitorais e os cenários governamentais e constitucionais foram discutidos como nunca, num ambiente que tem sido um misto de estupefação, crispação e intensa cacofonia.