O debate sobre a política económica em Portugal continua, infelizmente, muito dominado pela estafada questão dos méritos e deméritos da "austeridade". Os problemas da economia portuguesa não foram criados pela "austeridade".
É costume dizer-se que, em política, se faz campanha em poesia e se governa em prosa. Vem isto a propósito da entrada em funções do novo governo na Grécia, que enfrenta um fosso entre as promessas de campanha e a realidade dos factos.
Na última semana, o FMI reviu ligeiramente em baixa a expectativa para o crescimento do PIB mundial em 2014 (para 3,4%), mantendo a previsão de um crescimento de 4% para 2015.
Com a saída do programa de assistência financeira externa, todos nos interrogamos sobre o que poderá ser o futuro da economia portuguesa, quer no imediato, quer a médio prazo.
O fim do programa não acaba, de forma nenhuma, com a necessidade de mudança do padrão de crescimento económico, nem pode ser uma licença para voltar às políticas económicas do período pré-Troika, que tão maus resultados deram.
Apesar dos recentes indicadores positivos, o "pós-troika" apresentaainda enormes desafios, que desaconselham ilusões de uma vida fácile que continuarão a exigir uma disciplina grande na condução da política económica.
O que tira a esperança é ver a força com que – em todo o espectro político – ainda se defende um modelo de economia gerador de tantas desigualdades (...) e que levou Portugal à bancarrota por três vezes nos últimos 30 anos.
O ajustamento financeiro que encontra uma enorme resistência nas administrações públicas foi feito pelas famílias e empresas de uma forma impressionante (...). As dificuldades que as administrações públicas revelam em seguir o mesmo caminho refletem, (...) a defesa aguerrida de interesses especiais.