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Os bancos centrais e o ruído

A guerra comercial domina agora os títulos das notícias dos comentários de mercados, mas continuam a ser os bancos centrais a determinar o rumo das acções (e outros activos, como as moedas e obrigações).

Muito ou pouco, os preços dos activos que estão cotados nos mercados financeiros variam todos os dias. As cotações mudam frequentemente de direcção, muitas vezes sem uma razão aparente, mas a cobertura cada vez mais exaustiva dos mercados a nível global obriga a que seja encontrada uma explicação para estas oscilações, quer elas tenham ocorrido durante uns minutos, horas ou dias.

 

A explicação mais básica para a determinação do preço de um activo cotado é igual a qualquer outro produto ou serviço que consumimos todos os dias. É sempre a relação entre a procura e a oferta que determina o preço e nos mercados financeiros não é muito distinto. Uma coisa diferente é explicar por que motivo uma é mais forte do que a outra. E é aqui que muitas vezes se avançam explicações sem sentido. Analistas, operadores de mercado e jornalistas cometem o erro de tentar dar uma explicação para todas as oscilações dos activos cotados. Quando muitas delas são justificadas simplesmente pelo facto de haver mais investidores a comprar do que a vender, ou vice-versa.

 

Um caso que aconteceu há poucas semanas ilustra na perfeição esta constatação. A cotação do cobre começou a afundar nos mercados durante várias sessões seguidas e a principal explicação estava no impacto da guerra comercial, que iria penalizar a procura por este metal. Até faz sentido, mas veio a constatar-se pouco depois que o cobre estava a desvalorizar porque um grande investidor chinês estava a desfazer-se de uma elevada aposta nesta matéria-prima.

 

Nos mercados accionistas, há vários anos que o principal factor que induz as variações dos activos é a actuação dos bancos centrais. Quem não se lembra das palavras de Mario Draghi em plena crise da dívida da Zona Euro? Olhando para um gráfico de qualquer importante índice de acções mundiais, há um antes e depois de Julho de 2012, quando o presidente do BCE prometeu "fazer o que for necessário" para preservar o euro. 

 

A guerra comercial domina agora os títulos das notícias dos comentários de mercados, mas continuam a ser os bancos centrais a determinar o rumo das acções (e outros activos, como as moedas e obrigações). Donald Trump, como tanto gosta, bem aumentou o volume do ruído, com ameaças e declarações bombásticas sobre tarifas comerciais. Mas o que marcou o rumo dos mercados esta semana foi o optimismo do presidente da Fed com a evolução da economia norte-americana, desvalorizando o impacto de uma guerra comercial que já se percebeu que não deverá ganhar proporções preocupantes apesar de todo o ruído diário à volta do tema.

 

Para os investidores que não têm tempo para a espuma dos dias nos mercados, é para os bancos centrais que terão de continuar a estar atentos. Já as declarações de Trump sobre os "inimigos" (Europa, China ou Rússia) pouco contarão para a evolução da sua aplicação financeira de gestão passiva.

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