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Só o BCE pode salvar o euro

A Alemanha tem de escolher. Ou enfrenta os seus fantasmas com a inflação ou destrói o euro.

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A União Monetária, neste momento, já só pode ser salva com o BCE a comprar dívida pública. É assim que os Estados Unidos e o Reino Unido estão a salvar as suas economias. Numa actuação que visa estabilizar o mercado financeiro, como já se fez com os bancos no auge do abalo financeiro em 2008.

A crise da dívida no euro está numa inevitável trajectória de agravamento. Já não é apenas a Grécia, a Irlanda e Portugal. Agora são também a Itália, Espanha e França que enfrentam dificuldades de acesso ao financiamento internacional. E as decisões tomadas na Cimeira europeia de Outubro agravam ainda mais o problema. Os estados ainda vão precisar de mais financiamento para ajudarem os bancos e a economia.

Em Outubro, os líderes europeus decidiram reforçar as exigências de capital dos bancos, agendando para Junho esses novos requisitos. Cá em Portugal como na Europa, os accionistas não estão disponíveis para colocar mais dinheiro nos bancos, ou porque não o têm ou pura e simplesmente porque não querem. Os bancos sem accionistas com dinheiro vão precisar de dinheiro público - tal como em Portugal - para cumprir esses requisitos de capital. E aqueles accionistas com dinheiro vão tentar reduzir ao mínimo esses aumentos de capital, contraindo a concessão de crédito. Ou seja, o resultado final é ainda maiores necessidades de financiamento dos Estados, é ainda mais dívida pública para financiar os bancos ou para evitar que as economias se afundem numa recessão ainda mais grave, por via do aperto no crédito.

Caminhamos assim de mal para pior. Os Estados do euro - com excepção da Alemanha - já enfrentam neste momento dificuldades de acesso ao financiamento. Como será que vão conseguir ainda mais crédito para que a banca cumpra a regra de mais capital em Junho do próximo ano?

Com esta perspectiva, de ainda maior agravamento da crise das dívidas soberanas no euro, o problema só se resolve se o BCE começar a comprar títulos de dívida pública no mercado secundário, ou seja, a imprimir moeda. Nada mais nada menos do que fez em grande quantidade em 2008 e que continua a fazer com os bancos.

A forma assimétrica como o BCE trata bancos e estados já foi exposta na atrevida proposta do presidente francês de transformar o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF) num banco. Se fosse um banco, teria acesso ilimitado a fundos do BCE por contrapartida de títulos que hoje já podem ter muito mais risco que no passado. Claro que a Alemanha disse não a esta proposta. Ou, para se ser mais rigoroso, quem disse "não" foi o banco central alemão.

O Bundesbank parece ser, neste momento, o único opositor com peso à compra de dívida pública. A Alemanha está a ser submetida à pressão dos seus pares europeus mas também do Reino Unido e dos Estados Unidos para usar, de uma vez por todas, a única arma que permitirá romper a espiral de colapso em que o euro entrou.

O medo da inflação é a principal explicação para essa teimosia do Bundesbank, que tem ao seu lado boa parte dos alemães. Mas alguém tem dúvidas em escolher mais inflação quando a alternativa é o fim da Europa como a conhecemos desde 1958? Porque é isso que está em causa. A inflação é uma doença que, se aparecer, será fácil de tratar. E todos desejarão acabar com ela. Ninguém quer um euro fraco. O fim do euro e o fim do projecto europeu é o fim de uma Europa que todos desejamos. O BCE sabe que só ele pode salvar o euro. Os alemães sabem que só o BCE pode salvar o euro. Os alemães, como todos nós, só precisam de saber se querem de facto salvar a Europa do euro e da União.



helenagarrido@negocios.pt
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