Opinião
30 de Dezembro de 2010 às 11:32
As lições de 2010
Não há, definitivamente, um fim para a História. Este foi o ano em que a terra nos fugiu debaixo dos pés.
A Crise financeira podia, afinal, ser ainda pior: entrar pela nossa porta e abalar estruturas que julgávamos sólidas e adquiridas, como a União Europeia. Eis um ano de 2010 em dez possíveis lições.
1. A Zona Euro pode ter um fim. Se há um ano alguém fizesse esta declaração, corria o sério risco de ser considerado louco. A crise financeira iniciada em 2007 abanou de tal forma a Zona Euro que pôs a nu as fragilidades da construção da moeda única. Terminamos o ano de 2010 conscientes de que a probabilidade do fim do euro é maior que zero. E a União Europeia deixou de ser olhada como uma construção eterna e imune a ameaças. A arquitectura da União Monetária contém em si o veneno que pode matar a Europa nascida em 1958. O antídoto chama-se união política, mas é preciso que pelo menos os países do euro o queiram tomar.
2. O euro é uma construção instável. Foram muitos os que alertaram para as deficiências de arquitectura e construção do euro. A Zona Euro é, afinal e apenas, um espaço de livre circulação monetária e de capitais. Faltam ao euro muitos atributos de uma União Monetária, como a liberdade de circulação de pessoas - semelhante à que é possível dentro de um país -, uma política orçamental única e uma união política. Esta crise pode mostrar como é impossível conciliar liberdade financeira sem os pilares da economia.
3. Os défices externos (ainda) são importantes. Afinal, o défice com os restantes países do euro não é tão irrelevante como o défice entre Trás-os-Montes e Lisboa. Seria irrelevante se o euro não estivesse apenas apoiado na liberdade financeira. Sem o pilar da união orçamental e política, o défice externo passa a ser relevante. A única diferença é que nos mantém na ilusão de riqueza durante mais tempo, para depois nos atirar para a realidade com mais violência. Como estamos a verificar.
4. Os choques assimétricos existem. Muitos negaram a possibilidade de existirem choques com efeitos diferentes nos países do euro. Afinal, aí estão eles, gerados pelo endividamento de alguns países que caíram na ilusão de riqueza do euro.
5. Os tigres transformam-se em gatos. A Irlanda é o mais ilustrativo exemplo das ilusões criadas pela liberdade financeira sem integração económica e política.
6. Na ausência de união política, manda quem paga. E a União fica mais longe do que é a alma do seu nascimento e mais perto de se autocondenar.
7. Não há direitos adquiridos. Da União Europeia ao cidadão mais anónimo, aprendemos com violência que não há direitos adquiridos. O ano de 2010 encarregou-se de nos relembrar de que nada é eterno.
8. Mercado? Qual mercado? É mais uma continuação dos capítulos iniciados com esta crise. O mercado, enquanto construção de um espaço de concorrência perfeita, não existe. O mais grave é que as suas imperfeições estão a ser pagas pelos contribuintes e pelas camadas mais desfavorecidas e sem voz na sociedade. Está a gerar-se a semente que poderá fazer explodir revoltas sociais que também pensávamos enterradas no passado ou realidades de países pobres.
9. Os Estados dão poder aos mercados. O mercado, essa entidade abstracta, é formado por credores que a sofisticação, abstracção e distanciamento dos mercados financeiros tornou irracionais. Primeiro emprestaram sem critério, agora querem o dinheiro de volta com urgência. E os Estados credores validam a irracionalidade dos mercados e apontam o dedo aos irresponsáveis devedores, como Portugal.
10. O sistema financeiro anuncia novas crises. É uma lição ainda não aprendida. O fim da História não existe, como ainda está por concluir a morte do abalo financeiro gerado em 2007. A banca, em particular, e o sistema financeiro, em geral, poderão sair desta crise sem que nada de relevante seja corrigido. Cresceu em 2010 o receio de tudo ficar na mesma. Até que chegue uma nova e mais violenta e mortífera crise financeira.
O novo ano só será melhor porque já aprendemos estas lições.
1. A Zona Euro pode ter um fim. Se há um ano alguém fizesse esta declaração, corria o sério risco de ser considerado louco. A crise financeira iniciada em 2007 abanou de tal forma a Zona Euro que pôs a nu as fragilidades da construção da moeda única. Terminamos o ano de 2010 conscientes de que a probabilidade do fim do euro é maior que zero. E a União Europeia deixou de ser olhada como uma construção eterna e imune a ameaças. A arquitectura da União Monetária contém em si o veneno que pode matar a Europa nascida em 1958. O antídoto chama-se união política, mas é preciso que pelo menos os países do euro o queiram tomar.
2. O euro é uma construção instável. Foram muitos os que alertaram para as deficiências de arquitectura e construção do euro. A Zona Euro é, afinal e apenas, um espaço de livre circulação monetária e de capitais. Faltam ao euro muitos atributos de uma União Monetária, como a liberdade de circulação de pessoas - semelhante à que é possível dentro de um país -, uma política orçamental única e uma união política. Esta crise pode mostrar como é impossível conciliar liberdade financeira sem os pilares da economia.
3. Os défices externos (ainda) são importantes. Afinal, o défice com os restantes países do euro não é tão irrelevante como o défice entre Trás-os-Montes e Lisboa. Seria irrelevante se o euro não estivesse apenas apoiado na liberdade financeira. Sem o pilar da união orçamental e política, o défice externo passa a ser relevante. A única diferença é que nos mantém na ilusão de riqueza durante mais tempo, para depois nos atirar para a realidade com mais violência. Como estamos a verificar.
4. Os choques assimétricos existem. Muitos negaram a possibilidade de existirem choques com efeitos diferentes nos países do euro. Afinal, aí estão eles, gerados pelo endividamento de alguns países que caíram na ilusão de riqueza do euro.
5. Os tigres transformam-se em gatos. A Irlanda é o mais ilustrativo exemplo das ilusões criadas pela liberdade financeira sem integração económica e política.
6. Na ausência de união política, manda quem paga. E a União fica mais longe do que é a alma do seu nascimento e mais perto de se autocondenar.
7. Não há direitos adquiridos. Da União Europeia ao cidadão mais anónimo, aprendemos com violência que não há direitos adquiridos. O ano de 2010 encarregou-se de nos relembrar de que nada é eterno.
8. Mercado? Qual mercado? É mais uma continuação dos capítulos iniciados com esta crise. O mercado, enquanto construção de um espaço de concorrência perfeita, não existe. O mais grave é que as suas imperfeições estão a ser pagas pelos contribuintes e pelas camadas mais desfavorecidas e sem voz na sociedade. Está a gerar-se a semente que poderá fazer explodir revoltas sociais que também pensávamos enterradas no passado ou realidades de países pobres.
9. Os Estados dão poder aos mercados. O mercado, essa entidade abstracta, é formado por credores que a sofisticação, abstracção e distanciamento dos mercados financeiros tornou irracionais. Primeiro emprestaram sem critério, agora querem o dinheiro de volta com urgência. E os Estados credores validam a irracionalidade dos mercados e apontam o dedo aos irresponsáveis devedores, como Portugal.
10. O sistema financeiro anuncia novas crises. É uma lição ainda não aprendida. O fim da História não existe, como ainda está por concluir a morte do abalo financeiro gerado em 2007. A banca, em particular, e o sistema financeiro, em geral, poderão sair desta crise sem que nada de relevante seja corrigido. Cresceu em 2010 o receio de tudo ficar na mesma. Até que chegue uma nova e mais violenta e mortífera crise financeira.
O novo ano só será melhor porque já aprendemos estas lições.
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