Opinião
Pelo buraco da fechadura
Se a Grécia, membro desde 1981, aliada na OTAN, fosse forçada a sair da moeda única as consequências seriam calamitosas (de resto Putin traz a região debaixo de olho).
Há anos a tomarem conta daquilo a que Jacques Delors e os seus amigos chamam "A Nossa Europa", governos, FMI, Comissão e Banco Central europeus, agências de notação são dominados por economistas que sabem muito de números e não sabem nada de pessoas. (Diz-me amigo comum que o Dr. Mário Soares acha que é por não terem estudado filosofia – e é capaz de ser). Há além deles alguns chefes políticos que ganharam poder por os povos lhes darem votos, mas que não sentem nem conhecem história. A gestão da crise faz-se não com visão ampla do espaço e do tempo, mas espreitando pelo buraco da fechadura.
As coisas, porém, são o que são. As grandes forças que fazem a história ignoram como um tsunami os cálculos estreitos de contabilistas que, exactamente por não saberem de pessoas, acentuaram a divisão da Europa em duas metades, uma mais rica, a Norte, que começa a estar farta de acudir à outra menos rica, a Sul, a qual começa a estar farta de austeridade. Mal-estar generalizado vai afastando os europeus uns dos outros, eurocépticos regozijam-se antecipando o fim da zona euro (quiçà mesmo da União Europeia). Por este caminho a voz da Europa no mundo poderia tornar-se fraca e incerta, para mal de todos nós. Só que a vida não é só o que parece pelo buraco da fechadura dos economistas e, a menos que sanha contabilística cega da Alemanha dê com elas em terra, a zona euro e a União Europeia estão para lavar e durar.
Dois exemplos, a Norte e a Sul. A Finlândia tem um triplo A das agências de notação, comercia muito fora da União e quase um quinto do seu eleitorado vota num partido nacionalista e xenófobo. É o candidato ideal à saída do euro dos eurocépticos de direita (para abrir caminho à saída da Alemanha, ficando o euro para moeda dos pobretões). Só que a Finlândia tem história secular complicada com a vizinha Rússia e esta continua a dar sinais de não se querer emendar. A teia de solidariedades oferecida pela União é pilar fundamental da estratégia de segurança da Finlândia e, com o ex-coronel Putin cheio de sangue na guelra a fazer condenar cantoras punk, Helsínquia não irá enfraquecer esse pilar. Perigo existencial a Nordeste reforça a barbacã do euro.
A Sudeste perigo existencial reforça-a também. Vociferantes, alguns gregos e muitos credores de Atenas querem a saída da Grécia do euro. Haveria razões financeiras para tal, mas tão-pouco irá acontecer. Os Balcãs são um feixe de rivalidades nacionais que só não entram em guerra por quererem aderir à União Europeia. Se a Grécia, membro desde 1981, aliada na OTAN, fosse forçada a sair da moeda única as consequências seriam calamitosas (de resto Putin traz a região debaixo de olho).
Ricos do Norte e menos ricos do Sul precisam de uma União forte. Não da fantasia federalista de Delors & Cia, pesadelo de patriotas, nem do colete de forças que Merkel quer impor. Se a Alemanha entrar na ordem antes de escavacar a Europa haverá de se inventar jeito novo para segurar a malha.
Embaixador
As coisas, porém, são o que são. As grandes forças que fazem a história ignoram como um tsunami os cálculos estreitos de contabilistas que, exactamente por não saberem de pessoas, acentuaram a divisão da Europa em duas metades, uma mais rica, a Norte, que começa a estar farta de acudir à outra menos rica, a Sul, a qual começa a estar farta de austeridade. Mal-estar generalizado vai afastando os europeus uns dos outros, eurocépticos regozijam-se antecipando o fim da zona euro (quiçà mesmo da União Europeia). Por este caminho a voz da Europa no mundo poderia tornar-se fraca e incerta, para mal de todos nós. Só que a vida não é só o que parece pelo buraco da fechadura dos economistas e, a menos que sanha contabilística cega da Alemanha dê com elas em terra, a zona euro e a União Europeia estão para lavar e durar.
A Sudeste perigo existencial reforça-a também. Vociferantes, alguns gregos e muitos credores de Atenas querem a saída da Grécia do euro. Haveria razões financeiras para tal, mas tão-pouco irá acontecer. Os Balcãs são um feixe de rivalidades nacionais que só não entram em guerra por quererem aderir à União Europeia. Se a Grécia, membro desde 1981, aliada na OTAN, fosse forçada a sair da moeda única as consequências seriam calamitosas (de resto Putin traz a região debaixo de olho).
Ricos do Norte e menos ricos do Sul precisam de uma União forte. Não da fantasia federalista de Delors & Cia, pesadelo de patriotas, nem do colete de forças que Merkel quer impor. Se a Alemanha entrar na ordem antes de escavacar a Europa haverá de se inventar jeito novo para segurar a malha.
Embaixador
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