No que toca à consolidação orçamental, é bom lembrar que, com o aumento das taxas, só em juros vamos gastar num futuro próximo o equivalente a dois PRR ou a cinco aeroportos de Alcochete. E, já em 2024, o equivalente a metade do orçamento das administrações públicas vai para a saúde. Não será ajuizado comprometer agora o que tem sido feito para reduzir a dívida.
As estratégias de mitigação foram bem-sucedidas e os esforços de substituição da origem e do tipo de energia fizeram com que rapidamente os preços do gás natural voltassem a cair, estando hoje abaixo do valor que tinham antes do começo do conflito. Entrámos em 2023 com os valores mais elevados de reservas, pelo menos desde 2017, e este tema desapareceu das capas dos jornais.
Comparar remunerações de instrumentos de dívida que podem ser resgatados em qualquer altura (CA) com outros que tem maturidades obrigatórias de 10 ou mais anos (OT) faz tanto sentido como comer sopa com um garfo.
António Costa negligencia o papel do aumento dos salários na inflação, mas, como Christine Lagarde argumenta, a natureza da inflação está a mudar.
Quando dispomos de meios como a assinatura digital autenticada, faz pouco sentido obrigar a transação de prédios rústicos de baixo valor a formalizar-se por uma escritura pública com presença física (ou constituição de procuração).
O ideal seria conseguir usar os certificados de aforro para promover a concorrência no mercado de poupanças ao mesmo tempo que se conseguia gerir a dívida de forma a assegurar o seu financiamento nas melhores condições. Mas isso seria ter sol na eira e chuva no nabal.
É clarinho como a água: ou o bolo aumenta substancialmente, ou os grandes poderão perder mais de metade de uma das suas principais fontes de receita corrente.
O primeiro-ministro diz-nos que temos de continuar a pedalar para a bicicleta não parar. E, apesar de ter razão, o que me preocupa é não ter percebido que os países comparáveis connosco em termos de riqueza no espaço da União Europeia já andam de motorizada.