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Luís Marques Mendes 17 de Junho de 2018 às 21:15

Notas da semana de Marques Mendes

As notas da semana de Marques Mendes nos seus comentários na SIC. O comentador fala sobre a Selecção no Mundial; a crise no Sporting, Pedrógão, a ruptura nos hospitais e a visita de Costa a Angola, entre outros temas.

A SELECÇÃO NO MUNDIAL

 

  1.      Foi o que se chama "entrar com o pé direito".
  •        Não tanto pela exibição, que foi mediana.
  •        Nem sequer pela produção colectiva, que deixou muito a desejar. Afinal, a equipa portuguesa esteve bem abaixo das expectativas.

 

  1.      Mas foi, sobretudo, o show Ronaldo. Desta vez bem pode dizer-se que Portugal foi Ronaldo + 10. Afinal, Cristiano Ronaldo jogou, fez jogar, marcou e mandou no jogo. Fez a diferença. Foi um verdadeiro líder.
  •        Mas o que mais me impressionou, para além da qualidade do seu jogo, foi a atitude de Ronaldo. A sua determinação. Já não era apenas um exercício de profissionalismo. Era também a manifestação de um sentimento nacional e patriótico e uma grande vontade de ganhar o Mundial, o único título que lhe falta.
  •        É caso para dizer, como Bruno Vieira Amaral, que graças a Ronaldo vivemos acima das nossas possibilidades futebolísticas.

 

  1.      E assim tivemos um empate com sabor a vitória que nos abre excelentes perspectivas para o jogo de 4ª feira. É que empatar com a Espanha – num jogo épico como este – reforça a motivação da Selecção. Espera-se agora com Marrocos um bom jogo e uma boa vitória. Com esta curiosidade:
  •        A assistir ao jogo em Moscovo vão estar dois portugueses ilustres: Marcelo Rebelo de Sousa e António Guterres.
  •        E, segunda curiosidade, ambos – PR e Secretário-Geral da ONU – vão ser recebidos no Kremlin pelo Presidente Russo, Vladimir Putin.

  

A CRISE NO SPORTING

 

  1.      No quadro do PREC que está a suceder no Sporting, esta foi a semana mais negra para Bruno de Carvalho. Perdeu em toda a linha:

a)     Perdeu em tribunal de forma clamorosa – duas providências cautelares;

b)     Perdeu no plano desportivo e financeiro – mais rescisões de contratos;

c)      Perdeu porque foi suspenso pela nova Comissão de Fiscalização;

d)     Perdeu porque já não é Presidente da Direcção.  

e)     E se perder a votação na AG do dia 23 então é o seu fim definitivo.

 

  1.      Aqui chegados, a questão é: mas será que tudo acaba com a próxima AG? Eu diria que NÃO, porque tudo vai acabar nos tribunais:

a)     Bruno de Carvalho há-de recorrer aos tribunais das decisões de Marta Soares e da AG do dia 23, se esta lhe for desfavorável;

b)     Marta Soares há-de recorrer aos tribunais se Bruno de Carvalho não respeitar as suas decisões;

c)      As rescisões de contratos provavelmente acabam nos tribunais.

d)     E, seguramente, hão-de acabar também em tribunal Bruno de Carvalho e os seus colegas do Conselho Directivo, porque serão certamente responsabilizados em processos crime e de indemnização pelos prejuízos que causaram ao clube.

 

  1.      Finalmente, há uma lição a retirar: como disse há dias Miguel Sousa Tavares, estes comportamentos populistas, demagógicos e levianos matam-se à nascença.
  •        Quando se deixam singrar, dá no que estamos a ver. Foi assim no Benfica, com Vale e Azevedo; é assim no Sporting, com Bruno de Carvalho. Hoje é no futebol. Amanhã é na política. Convém prevenir porque remediar é mais difícil.

 

PEDRÓGÃO – UM ANO DEPOIS

 

  1.      BalançoDois aspectos positivos:

a)     Por um lado, a notável generosidade dos portugueses. Só em donativos foram mais de 10 milhões de euros. Para além das contribuições em espécie e do apoio de voluntariado. Um exemplo de solidariedade absolutamente extraordinário.

b)     Por outro lado, a resposta do Estado. Antes da tragédia, o Estado falhou em toda a linha. Depois da tragédia, respondeu de forma muito razoável.

  •        Cerca de 60% das casas destruídas já foram reconstruídas;
  •        Das 50 empresas atingidas pela tragédia já várias foram apoiadas, embora haja ainda muitas na expectativa;
  •         E as indemnizações aos familiares das vítimas falecidas na tragédia também já foram atribuídas.

 

  1.      Lições para o futuro – Há, sobretudo, três lições a retirar:

a)     Primeiro: temos de ter um Estado diferentemenos amador, mais profissional, mais eficiente e com maior inovação tecnológica nas suas vertentes de prevenção e combate aos fogos. Um Estado que consome metade da riqueza nacional não pode voltar a colapsar.

b)     Segundo: temos de dar valor económico à floresta. Enquanto a floresta for só despesa e encargo, não resolvemos nada. Os proprietários florestais têm que sentir que limpar as matas é também um investimento e uma forma de criar riqueza. O que recoloca na agenda o tema da energia.

c)      Terceiro: temos de ter uma nova atitude perante o interior do país. Uma grande parte de Portugal – o Portugal urbano – descobriu no ano passado que havia e há um outro país. Um país do interior, pobre, desertificado e pouco desenvolvido. Só que não chega descobri-lo e conhecê-lo. É preciso tratar do seu futuro. E isto está por fazer.

 

  1.      Quanto ao país político, acho que percebeu que não pode haver nova tragédia.
  •        Perante a primeira, houve choque nacional mas não houve consequências políticas;
  •        Perante a segunda, houve revolta, indignação e uma forte censura ao Governo, que até teve de ser remodelado;
  •        Se existisse uma terceira tragédia (não julgo que sucederá), não haveria perdão possível. Ou o Governo se demitia ou o povo o demitia nas urnas por incapacidade e incompetência.


RUPTURA NOS HOSPITAIS?

 

  1.      Está a aproximar-se um Verão Quente na Saúde em Portugal. Dentro de poucas semanas podemos começar a ter um verdadeiro pandemónio nos nossos hospitais. Tudo porque no dia 1 de Julho entra em vigor o novo regime de 35 horas para enfermeiros e pessoal auxiliar dos hospitais. O que é que isto significa?
  •        Primeiro: que este pessoal vai trabalhar menos 5 horas por semana;
  •        Segundo: que isto obriga, em princípio, à contratação de mais dois ou três mil trabalhadores;
  •        Terceiro: que o Estado, ao que parece, não vai contratá-los, por falta de autorização das Finanças;
  •        Finalmente: que, assim sendo, haverá consequências – encerramento de serviços; diminuição do número de camas e de atendimentos hospitalares; degradação do funcionamento dos nossos hospitais.

 

  1.      Só há uma conclusão a tirar: leviandade do Governo – ou antes ou agora.

a)     Se o Governo tomou uma decisão e não mediu as consequências, é um Governo leviano – porque não fez estudos, não fez contas e não fez planeamento;

b)     Se o Governo mediu as consequências, fez contas e agora não cumpre, admitindo os novos trabalhadores que são necessários, então volta a ser leviano;

c)      Em qualquer caso, uma coisa é certa: quem paga a factura é o doente. O Governo enche a boca com a defesa do SNS, fica bem na fotografia porque reduziu o tempo de trabalho mas depois, no terreno, os hospitais rompem pelas costuras. É assim que se degrada o SNS.

 

 

 

CONTESTAÇÃO AFECTA O PS?

 

  1.      Acho que o PS está a ser e vai ser afectado pela contestação na saúde, educação e noutros sectores. As sondagens, de resto, comprovam-no. Amanhã mesmo sairá uma nova sondagem (Aximage, Correio da Manhã/Negócios) que prova o seguinte:
  •        Há quatro meses consecutivos que o PS está em queda. Já chegou a ter 44%. Agora está nos 37%.
  •        Em Fevereiro a vantagem do PS sobre o PSD era de 14 pontos. Agora é de 9 pontos.
  •        O PSD até nem tem subido muito. Está nos 28%. Só cresceu 1,4% em 4 meses.
  •        O PS é que desce muito, sobretudo para a abstenção e indecisos.

 

  1.      Estes dados provam três coisas:

a)     Primeiro: por este andar, a ideia de maioria absoluta "vai à vida". Passa a ser uma miragem.

b)     Segundo: isto sucede porque o PS tem casos a mais e causas a menos.

  •        São os casos dos professores, de Sócrates, de Pinho e de Siza Vieira, e são as guerras dentro da coligação – tudo isto causa desgaste.
  •        E não há causas que mobilizem a sociedade. Acabaram as causas da devolução de rendimentos; de redução do défice; e do crescimento económico. E não foram geradas novas causas.

c)      Terceiro: a sensação que há é que o Governo está esgotado. Que não tem objectivos. Que não tem desafios. Que não tem uma agenda mobilizadora. Ora, isto pode dar para ganhar. Mas não dá para maiorias absolutas.

 

  1.      Para além disto, constata-se nesta mesma sondagem:
  •        A dinâmica de vitória do CDS não existe. Houve mesmo megalomania.
  •        O PSD vai melhorando, mas pouco. Não descola.
  •        O BE e a CDU estão confortáveis nos seus 10% e 8% respectivamente.


A COREIA E AS MIGRAÇÕES

 

  1.      O acordo de Singapura – Confirmou-se tudo o que aqui tinha previsto há uma semana: que esta cimeira seria o acontecimento do ano; que ambos os líderes estavam empenhados na negociação; que provavelmente haveria acordo; que o acordo era importante para Trump e histórico para a Coreia.
  •        Agora, falta saber o essencial: se o Acordo vai ser cumprido ou se é mais um flop. Já houve acordos semelhantes em 1992 e 2005 e falharam.

 

  1.      A questão do barco Aquarius foi um verdadeiro tremor de terra e teve réplicas em quase toda a Europa.

a)     Primeira consequência: o próximo Conselho Europeu de 28/29 deste mês vai ser dominado pelo tema da Imigração e já não pela reforma da Zona Euro;

b)     Segunda consequência: o tema das migrações passou a ser o grande tema dos partidos de direita radical na Europa. Para eles, dá mais votos que o tema do Euro e a guerra norte/sul. É assim em Itália, Áustria e Alemanha. Até na Hungria e na Polónia, onde nem sequer há refugiados ou migrantes;

c)      Terceira consequência: Salvini, o líder de direita radical em Itália, passou a ser o herói dos anti-migrantes em toda a Europa. Já é tão conhecido como Marine Le Pen, foi aplaudido em vários países e até conseguiu ter apoio do Ministro do Interior alemão.

d)     Quarta consequência: a crise migratória está a ter reflexos gigantes na Alemanha. A própria coligação está em risco, com divisões dentro dos conservadores (CDU e CSU). Merkel tem sido de uma coragem invulgar mas tem cada vez mais a cabeça a prémio. Nunca esteve tão fragilizada.

e)     Última consequência (esta, positiva): a posição de Salvini é inaceitável. Mas pode ter um efeito lateral positivo. Obrigar a uma solução europeia para o problema das migrações. E isso é saudável.

 

 

COSTA EM ANGOLA?

 

  1.      Muito se tem especulado sobre a visita do PM a Angola. Vai? Não vai? Vai agora? Vai mais tarde?

 

  1.      Ao que apurei, mais do que uma visita a Angola, António Costa vai fazer no final deste mês de Junho e no mês de Julho um verdadeiro périplo africano. Assim:
  •        No fim deste mês (25 e 26 de Junho) vai a São Tomé e Príncipe;
  •        No início de Julho (4 e 5) vai a Moçambique;
  •        Em meados de Julho (17 e 18) estará na Ilha do Sal, em Cabo Verde, na Cimeira da CPLP;
  •        E a seguir, ainda em Julho, irá então finalmente a Angola.

 

  1.      O que é que isto demonstra? Sensibilidade à lusofonia e prioridade à política africana. O PM não quer terminar o seu mandato sem visitar os vários PALOP.
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