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Opinião
31 de Janeiro de 2018 às 18:56

"E pur si muove" 

O mundo mudou. As fronteiras, os modelos e as economias fechadas acabaram e as ideologias para lá caminham.

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A FRASE...

 

"As coisas estão tão más que até estamos de acordo em quase tudo, retirando a heresia final."

 

João César das Neves sobre Francisco Louçã, Conferência na Caixa, 30 de janeiro de 2018 

 

A ANÁLISE...

 

Quem, nessa tarde, esperaria um debate aceso entre dois economistas nos antípodas de tudo, temas sociais, políticos, etc., desenganou-se. Partilharam até o mesmo slide, sobre a queda e a situação negativa da Formação Bruta de Capital Fixo. Ou seja, pelos únicos dados que temos, o investimento público e privado na economia permanece abaixo do necessário para repor capital amortizado. Numa linguagem mais simples e genérica, não estamos a repor as máquinas que se vão estragando, receita para uma próxima crise a somar a outras fraquezas estruturais.

 

Já aqui escrevi que este Governo tem dois grandes méritos. O primeiro é de recuperar o Bloco para a política útil, de governação. Deixando de lado as tiradas marxistas sobre as crises serem problemas na procura, como se na Venezuela faltasse procura, e o lugar-comum de a economia são as pessoas, Louçã está um "mainstream economista". Infelizmente, o Governo não tem dado ouvidos a este seu apoiante e insiste em repor rendimentos à custa do investimento público ainda abaixo do que era nos anos da troika. Pior, dessa forma o Estado indica à sociedade que o consumo é mais importante do que o crescimento económico via investimento criador de riqueza e bom emprego.

 

O segundo grande mérito é de, através da sua política neoliberal de crescimento económico com corte no investimento e na despesa do Estado, ter obrigado muitos economistas a revisitar Keynes que dizia: "Quando os factos mudam, eu mudo a minha análise. E o senhor o que faz?" Ou talvez não. No passado dia 20 de janeiro, ainda Paulo Trigo Pereira, num debate com Joaquim Sarmento, referia que a UE está errada, não poderemos pagar a dívida através de superavits orçamentais com crescimento económico de 4%, a partir de 2021. Segundo ele, uma política contracionista não permite crescimento económico. Claramente não vê o que o Governo anda a fazer… e resiste à mudança da realidade. Além de que manter um superavit orçamental de 0,25% não é uma política contracionista nem expansionista, é neutra.

 

O mundo mudou. As fronteiras, os modelos e as economias fechadas acabaram e as ideologias para lá caminham. Vejamos a China, a Grécia, a Venezuela ou a Trumpnomics, experiências interessantes que nos deveriam fazer pensar, e mudar… haja coragem.

 

Artigo está em conformidade com o novo Acordo Ortográfico 

 

Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências directas e indirectas das políticas para todos os sectores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.

maovisivel@gmail.com

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