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Opinião
Manuel Falcão - Jornalista 23 de Fevereiro de 2018 às 10:15

A esquina do Rio

Quando frequentei o Liceu Camões, fui aluno do Professor Magalhães, no tempo em que a Educação Física tinha o nome de ginástica. Ele não se cansava de nos dizer que o desporto era uma escola de respeito pelo outro, de competitividade, de honestidade e perseverança.

Back to basics
"Tenho constatado que as pessoas sem vícios têm muito poucas virtudes."
Abraham Lincoln

Futebóis
Quando frequentei o Liceu Camões, fui aluno do Professor Magalhães, no tempo em que a Educação Física tinha o nome de ginástica. Ele não se cansava de nos dizer que o desporto era uma escola de respeito pelo outro, de competitividade, de honestidade e perseverança. Mais tarde, em alguns desportos que pratiquei, essa ideia era uma constante, a começar pelas artes marciais japonesas, baseadas no saber, no treino e na honra. Como Fernando Sobral escreveu no seu livro "Futebol, o Estádio Global", editado nos ensaios da Fundação Francisco Manuel dos Santos, "houve um tempo em que o futebol era um prazer barato que se jogava ao domingo, e não era difícil que alguém se apaixonasse por aquele jogo de regras simples, com artistas que fintavam os adversários e marcavam golos". Noutro ponto do mesmo livro, surge uma frase que resume a capacidade de atracção do futebol: "A transformação deste desporto em espectáculo de massas deve muito a factos, mas também ao inexplicável: a magia de um pé direito, o génio de um guarda-redes, as superstições de balneário." A transformação do futebol num espectáculo de massas, disputado por estações de televisão e por marcas, mudou muita coisa. Os negócios à volta do desporto profissional vieram trazer um mundo novo, onde tudo é permitido e onde se criou uma casta de dirigentes, sem honra nem princípios, envolvidos em actividades estranhas e com atitudes de tiranetes. O desporto, em qualquer modalidade, devia ser um exemplo para a educação dos mais novos, mas os responsáveis dos principais clubes estão a transformar o popular futebol numa escola de crime organizado e de vigarices encapotadas. Os acontecimentos mais recentes nos grandes clubes nacionais são reveladores disto mesmo. E é preciso dizer que o conluio dos políticos com o futebol e a sua subserviência à influência eleitoral dos clubes pioram ainda mais as coisas. O mundo do futebol é hoje em dia um mau exemplo. Um local pouco recomendável.

Semanada
 Nove torres da penitenciária de Lisboa estão sem vigilância 14 horas por dia  o sistema de saúde dos militares das Forças Armadas já tem um buraco de 70 milhões, tendo aumentado o défice em 32% face a 2016  a secretaria de Estado da Habitação reconhece que há mais de 25 mil famílias com carências habitacionais graves  o voo directo Pequim-Lisboa trouxe mais 74 mil turistas chineses em 2017, um aumento de 40% em relação ao ano anterior  durante o ano de 2017, a GNR registou 134 acidentes envolvendo animais na estrada  a produção automóvel em Portugal duplicou em Janeiro e a variação deveu-se à Autoeuropa  a campanha de cereais de Inverno será a pior dos últimos cem anos, em consequência de um mês de Janeiro quente e seco  segundo o Tribunal de Contas, foram pagos indevidamente mais de 200 milhões de euros pelos organismos responsáveis pela atribuição de fundos europeus na agricultura e pescas  o tempo de espera para cirurgias relacionadas com a obesidade tem vindo a aumentar e o número de hospitais que a realizam tem vindo a diminuir  há mais de 1.700 doentes à espera de vaga nos cuidados continuados e, no último ano, a lista aumentou em 500 pessoas  no mesmo fim-de-semana do Congresso do PSD, Maria Luís Albuquerque deu uma entrevista onde admite candidatar-se à liderança do partido se Rui Rio não vencer as próximas legislativas.

Dixit
"Já estava com saudades de África."
Marcelo Rebelo de Sousa, ao chegar a São Tomé e Príncipe

Folhear
A revista FOAM é integralmente dedicada à fotografia, nas suas diversas formas, e publica-se três vezes por ano, em Amesterdão, pelo Foam Fotografiemuseum. Cada edição é dedicada a um único tema e o mais recente é "Back To The Future", com o subtítulo "O século dezanove no século vinte e um". Com um grafismo cuidado e muito bem impressa, a revista tem ganho diversos prémios e, nesta edição dedicada ao Futuro, o destaque vai para artistas contemporâneos que adoptam, retomam, reciclam e reinterpretam temas, técnicas e ideias do século XIX, com recurso a técnicas digitais, novos materiais e assuntos actuais. "Com a utilização das mais recentes tecnologias digitais, a fotografia afasta-se cada vez mais da noção tradicional que existia sobre ela e está a entrar num mundo de imagens geradas por computador, realidade aumentada e esferas virtuais; simultaneamente, no extremo oposto do espectro, vemos um ressurgimento de interesse nos anos pioneiros da fotografia e um número significativo de jovens fotógrafos estão a trabalhar com técnicas antigas, utilizando-as agora de forma contemporânea e criando uma prática artística relevante", sublinha Marloes Krijnen, que dirige a revista, no seu editorial. Hoje em dia, a matéria-prima da fotografia passa por computadores e impressoras 3D, além da luz, materiais foto-sensíveis, emulsões e processos químicos que caracterizavam a imagem fotográfica até ao final do século XX. E esse é o tema desta excelente edição da FOAM, disponível na Loja Manifesto, em Matosinhos, e na Under The Cover, em Lisboa.

Gosto
Portugal está entre os 20 países onde a mortalidade de recém-nascidos nas quatro primeiras semanas de vida é mais baixa.

Não gosto
Portugal é vice-campeão em obesidade infantil e muitos alunos do 1.º ciclo não fazem Educação Física.

Ver
Muitas vezes, há pessoas que olham para peças de arte contemporânea e pensam: "Au era capaz de fazer isto." Ou, vendo uma instalação, interrogam: "Onde é que aqui está a arte?" Joseph Beuys (1921-1986) foi um dos mais proeminentes artistas europeus do pós-guerra e combinava uma enorme capacidade criativa com uma atitude de provocação assumida, baseada na sua intenção de fazer as pessoas reagirem à sua obra. Foi pelo desenho que começou, mas foram as esculturas, as instalações e as performances que realizou que lhe deram maior projecção. No fundo, ele próprio era quase parte da obra que concebia e, hoje em dia, quando vemos algumas das suas peças expostas num museu, percebe-se que, na sua ausência, elas têm um significado diferente - como aliás acontece com a obra de muitos artistas conceptuais. O documentário "Beuys", de Andres Veiel, em exibição no Nimas, é baseado em material de arquivo, fotografias e filme, e salienta o lado da importância da consciência social no seu trabalho e na sua vida. Para Beuys, a criatividade estava no centro de todos os aspectos da existência humana e este documentário ajuda a conhecer melhor o que ele fazia e por que o fazia. Outras sugestões: no Atelier-Museu Júlio Pomar, em Lisboa, obras dos artistas Júlio Pomar, Rita Ferreira e Sara Bichão estão reunidas na exposição "Chama", com curadoria de Sara Antónia Matos, e que dá seguimento ao programa do Atelier-Museu, que procura cruzar a obra de Júlio Pomar com outros artistas. Na Guarda, Pedro Calapez está na Galeria de Arte do Teatro Municipal da Guarda com a exposição "Acordo de Noite Subitamente". E, na Galeria Ratton, em Lisboa, Jorge Martins mostra o seu trabalho sobre quatro painéis de azulejo.

Arco da Velha
Segundo os responsáveis autárquicos lisboetas, na Avenida da Liberdade, um plátano foi chocar com um autocarro de turistas e a culpa do sucedido não consegue ser apurada. Para resolver o problema, cortou-se a árvore pela raiz. 

Provar
Após uma primeira visita à zona da mercearia do Fiammetta, em Campo de Ourique, experimentei poucos dias depois o restaurante, ao almoço. Além da carta (já lá iremos), há sugestões do dia - que passavam, no caso, por uma sopa de tomate, uns penne de massa fresca com alcachofras e pancetta - que acabou por ser a opção. Devo dizer que há muito que não provava uma massa tão cuidadosamente confeccionada e absolutamente no ponto de cozedura. A combinação das alcachofras com a pancetta funcionou às mil maravilhas. Para acompanhar, veio um copo de tinto sugerido também como opção do dia, o Santa Cristina Tinto, da Toscana, que desempenhou muito bem. Da mesa onde fiquei tinha uma vista privilegiada sobre o balcão dos queijos e fumados, que tem também massa fresca, do dia, para levar para casa, de várias categorias. E na cave está a mercearia de que já se falou aqui. Todos os dias há também um prosecco para alegrar os fins de tarde à volta de uns aperitivos (por exemplo, uma tábua de enchidos e fumados). A sobremesa do dia era um bolo de cenoura, simples - mas, como com o café vem um biscoito de amêndoa, ficou o doce assim resolvido. Na lista fixa há outras possibilidades: bruschettas com tomate, pancetta, crostini de mozzarella e prosciutto de Parma ou saladas caprese, burrata com nozes, pêra e gorgonzola. Também há paninis com diversos recheios para um almoço mais rápido: presunto de parma com tomate e azeite de trufa, com mortadela, parmesão e azeite, ou com tomate cereja, mozzarella, alcaparras e azeitonas. As massas são feitas todos os dias no restaurante e podem ser pedidas entre as 12h30 e as 16 horas. Além do prato do dia, há sempre tagliatelle com bolonhesa, massa rigatoni à carbonara, ou com pesto manjericão e pinhões. Nos doces, o tiramisu já ganhou fama. Fiammetta, Rua Almeida e Sousa 20.

Ouvir
Quase se consegue sentir a voz de Elis Regina a envolver-se com o saxofone de Andy Sheppard na versão do clássico "Romaria" que dá o título ao mais recente disco do saxofonista, editado em Fevereiro pela ECM (disponível no Spotify). Sheppard é um saxofonista britânico e, para o seu novo disco, foi de novo buscar nomes com quem já tinha trabalhado em estúdio e em digressões: o guitarrista norueguês Eivind Aarset, o baixo francês Michel Benita e o baterista escocês Sebastian Rochford. Sheppard distingue-se pela subtileza na forma como toca e pela simplicidade dos arranjos - que leva os músicos a percorrerem atmosferas calmas, deixando espaço ao silêncio. "And A Day…", o tema de abertura dos oito que integram este novo disco, é um exemplo do ambiente de sobriedade que Sheppard e os seus músicos constroem. Dois temas surpreendentes são "Pop" e "They Came From The North", além da bela balada "Every Flower That Falls", que foi originalmente escrita por Sheppard como uma banda sonora imaginada, tocada ao mesmo tempo que era exibido o filme "Metropolis", de Fritz Lang, numa edição do Festival de Jazz de Bristol. A última faixa, "Forever…", retoma as sonoridades e o ambiente musical da faixa de abertura de que, é, na realidade, a continuação.



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