Os números estão à vista de todos e deveriam fazer corar de vergonha a nossa classe política. Nas últimas eleições legislativas, a abstenção em Portugal atingiu os 48,6%, se considerarmos os eleitores residentes em Portugal e no estrangeiro (dados Pordata). Três anos antes, esta percentagem era de 51,4% e, desde 2009, tem sido sempre superior a 40%.
Eu sei que o PS Açores não tem as mesmas responsabilidades que o PS nacional. Mas, pela proximidade eleitoral entre estes dois atos, o que se passar nos Açores irá mostrar o que pode acontecer em Portugal continental depois de março.
O ruído à volta de tudo o que se passa em Portugal é ensurdecedor (e o seu silêncio também). Em bom português, PS e PSD estão metidos num enorme molho de brócolos.
Há uns tempos, a pergunta que faz título a este texto seria considerada algo de surreal. Porém, ao ver a sondagem publicada ontem aqui no Negócios, este foi imediatamente o pensamento que me assaltou. Nesta fase, acho irreal pensar-se que o Chega pode ser o partido mais votado a 10 de março. Mas há sinais nesta sondagem que o eleitorado não poderá ignorar.
Seria importante os portugueses perceberem em quem podem confiar e podia fazer, obviamente, a diferença, na hora de votar. Não seria algo inédito: Ronald Reagan fez isso nos EUA antes de vencer o candidato democrata (e presidente em exercício Jimmy Carter). E o resto, como se costuma dizer, é história.
O que interessa é contar uma história, irreal, de um País das Maravilhas, que só existe na cabeça do PS e dos seus apoiantes. Tenho para mim que a realidade irá atingir o PS no dia 10 de março. Por muito cor-de-rosa que queiram pôr o país, os portugueses vivem hoje em dia com dificuldades e com uma carga fiscal que os afoga na capacidade de sobrevivência.
O novo PS, que se apresenta agora aos portugueses, sabe bem que já não pode ser uma espécie de União Nacional dos desvalidos e da esquerda em geral.
A notícia que PSD e CDS-PP vão recriar para as eleições de março (e para as europeias de junho) a Aliança Democrática (AD) deixou os restantes partidos de direita com assento parlamentar em polvorosa. E, por motivos diferentes, IL e Chega têm motivos para se preocupar.