Tal como fizeram outros partidos populistas de direita radical na Europa, o Chega está a mudar a mensagem económica para a defesa de um Estado social para “os que merecem” e do ataque ao liberalismo. O potencial eleitoral, à direita e à esquerda, é real.
O discurso catastrofista e de comparação desfavorável feito pela oposição, sobretudo à direita, faz parte da venda de uma narrativa eleitoral alternativa à do PS – que, tal como a do PS, tem a sua dose de colisão com a realidade.
O marketing moralizador à volta da fuga ao Fisco de Escária é uma instrumentalização da nossa indignação e apatia, desenhada para aumentar o “bottom line” e o “earned media” de uma empresa cujos esqueletos fiscais não cabem numa estante.
A penetração do Chega nas camadas mais jovens deve ser encarada além destas legislativas – Ventura está a plantar sementes. Pode ser que parte destes jovens se moderem ao crescer, como aconteceu à esquerda? Sim. Mas esta nova radicalização não deixa de ser uma novidade importante já hoje, com impacto potencial no futuro próximo.
A crise no grupo de comunicação social mostra a ausência de regulação, que continua a ter poder para atuar de forma robusta. A Global não deve ser “salva” pelos contribuintes, mas tem potencial para lançar um debate necessário sobre o apoio público ao jornalismo. A luta dos seus jornalistas é admirável, mas convive com a hipocrisia geral da classe.
Tem sido interessante, à boleia de uma proposta da IL chumbada no Parlamento, ver o debate ideológico à volta do que se chama “literacia financeira”. Entre pontos válidos e menos válidos é notória alguma incompreensão sobre literacia financeira - e sobre o seu impacto potencial.
Até 2019 Portugal era uma suposta aldeia gaulesa, que na Europa resistia ao populismo de direita – estamos em 2023, e o partido de Ventura tem dois dígitos nas sondagens.
Quando a maré baixa – e a maré baixa sempre – confirma-se a máxima do lendário Warren Buffett: “é quando vemos quem tem andado a nadar nu”. A Farfetch, fundada e gerida por José Neves, vende roupa de luxo, mas andava a nadar no mercado financeiro sem roupa.