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Jogo da Bolsa: COP26

Artigo de Inês Gonçalves de Oliveira Risk Manager BBVA Portugal e de Luís Oliveira ISCTE-IUL, Departamento de Finanças

Negócios 30 de Novembro de 2021 às 13:30
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O tema da recuperação económica global no pós Covid-19 associada à emergência da sustentabilidade marcaram claramente o ano de 2021 e serão ainda as palavras de ordem no ano de 2022, onde se espera um forte alinhamento de prioridades.

Foi neste contexto que se realizou no início do mês a COP26, em Glasgow. Este ano a conferência dedicada ao combate às alterações climáticas, assumia particular importância uma vez que se esperava o compromisso dos Estados plasmado nos respetivos planos de ação climática, conhecidos como Contribuições Determinadas a Nível Nacional (NDC na sigla anglo saxónica) para a concretização do Acordo de Paris, assinado em 2015, no qual se estabeleceu a ambiciosa meta de limitar o aquecimento global abaixo de 2°C em relação aos níveis pré-industriais.

Rodeada de especulação, expectativa e tensão, o resultado alcançado em Glasgow gerou sentimentos antagónicos. Os ativistas consideraram as decisões muito curtas; os chefes de estado e outros negociadores entenderam que as expetativas foram cumpridas.

Sendo otimistas por natureza e adeptos da visão do copo meio cheio, não podemos ignorar os avanços alcançados face aos compromissos existentes bem como a recuperação da almejada estabilidade na ordem internacional, estabilidade esta que tinha sido posta em causa com o abandono do processo por parte dos EUA. Consequentemente, países influenciados pelos EUA foram "forçados" a acomodar a sua posição ao atual posicionamento dos EUA, como é o caso do Brasil e da Índia.

Inegavelmente, na conferência de Glasgow foram dados passos importantes no combate às alterações climáticas, entre as quais o compromisso de parar a desflorestação, até 2030; o plano patrocinado pelos EUA e EU para reduzir as emissões de metano em 30%; o bloqueio ao financiamento da industria fóssil e, finalmente, o acordo de 40 países para deixar de usar carvão (embora os principais consumidores, como os EUA e a China não tenham aderido). De salientar que o desenvolvimento de regras de funcionamento dos mercados de direitos de emissão de CO2 entre países e agentes privados, fortalecendo os instrumentos de preço que, salvo melhor opinião, são os mais eficientes para a redução das emissões, continuam a ser determinantes para o avanço da transição.

No entanto, continuamos a assistir à falta de incentivos ou mecanismos de coerção suficientes além da persuasão moral. Em abono da verdade, o modelo financeiro atual continua a sobrepor-se à urgência climática. É premente um ordenamento jurídico que incentive novas e mais equilibradas interações entre o capital financeiro, o capital natural e o capital humano. Dificilmente se obterão os resultados pretendidos sem mais regulação - de modo que a perceção das regras e do bem generalizado sejam comuns a todos -, maior tributação - no sentido de desincentivar as práticas que não geram benefícios agregados a longo prazo - e, paralelamente, mais subvenções - que dinamizem e incentivem todas aquelas práticas capazes de gerar grande valor no longo prazo, mas que a curto prazo acarretam custos pesados. Estratégias que visem responder afirmativamente a estes desígnios podem garantir que os fluxos financeiros da economia são direcionados a objetivos ambientalmente sustentáveis. Parafraseando Randeep Somel, gestor da M&G Investments, "a luta contra o aquecimento global não será combatida em Glasgow, mas nos parlamentos nacionais onde cada uma das propostas terá de ser aprovada pelos legisladores".


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