Notícia
Europa descobre que testes em massa não são panaceia para vírus
O maior número de testes tem ajudado as autoridades a identificar milhares de indivíduos infetados, um passo fundamental para conter o coronavírus sem recorrer a paralisações economicamente devastadoras. Mas já começam a surgir problemas.
27 de Setembro de 2020 às 13:00
Quando o coronavírus se propagou pela Europa na primavera, sobrecarregando hospitais e matando milhares de pessoas todos os dias, apenas os pacientes com casos mais graves podiam ser testados. Dessa forma, as autoridades de saúde não tinham como saber a extensão do contágio da covid-19.
Seis meses depois, com o vírus avançando novamente, as autoridades podem destacar que a capacidade de teste foi drasticamente expandida. Só o Reino Unido realizou cerca de 1,3 milhões de testes numa semana recente - 20 vezes mais em relação ao início de abril. França e Espanha, epicentros da covid, também aumentaram a capacidade.
O maior número de testes tem ajudado as autoridades a identificar milhares de indivíduos infetados, um passo fundamental para conter o coronavírus sem recorrer a paralisações economicamente devastadoras. Mas já começam a surgir problemas. Os testes em massa têm sobrecarregado laboratórios, o que atrasa resultados e complica o rastreio de contactos, que é essencial para conter o coronavírus. E muitos com a doença ignoram as regras de isolamento.
"Isso distorce tudo", disse James Naismith, professor de biologia estrutural da Universidade de Oxford. "O teste só é útil se for complementado com rastreio e isolamento de contacto rigorosos".
Com o aumento das infeções e o inverno a chegar, alguns defensores de saúde pública alertam que o foco nos testes tem desviado a atenção de outras medidas necessárias para combater a pandemia.
Sem os testes, as autoridades de saúde não podem rastrear ou isolar doentes, nem compreender totalmente aspectos importantes do vírus, como a sua letalidade. Em março, governos despreparados para a pandemia foram incapazes de formular uma resposta ágil. A única maneira de controlar a epidemia era impor confinamentos nacionais - tratar todos como doentes -, o que reduziu as infeções, mas desencadeou a pior crise económica de que há memória.
Esse é um resultado que os líderes europeus se comprometeram a evitar desta vez, embora as suas opções estejam a diminuir.
À medida que as infeções na Europa diminuíam durante o verão, a capacidade de testes continuou a crescer, permitindo às autoridades atingir grupos mais amplos - incluindo os que voltaram das férias ou regressaram às escolas ou escritórios. Embora a onda de testes tenha identificado muitos casos leves e até mesmo assintomáticos, também levou muitos laboratórios ao limite da capacidade.
Com os laboratórios incapazes de lidar com o volume, as autoridades de alguns países estão novamente a dar prioridade a testes para os que apresentam sintomas ou podem ter sido expostos ao vírus. Embora essa abordagem esteja alinhada com as diretrizes da Organização Mundial da Saúde, volta a preocupação sobre a falta de testes.
Para melhorar o rastreio, França, Reino Unido, Portugal e outros países lançaram aplicações para smartphones criados para notificar pessoas que possam ter sido expostas ao vírus - mas as preocupações sobre privacidade levaram muitas a evitá-los. E, à medida que o número de focos de covid aumenta, o trabalho dos que rastreiam contactos de indivíduos infetados fica mais difícil a cada dia.
Ainda assim, se os rastreios conseguirem atingir cerca de 50% a 80% dos contactos - e se essas pessoas aderirem às regras de quarentena - esses esforços podem ser suficientes para evitar outro lockdown, estimou Annelies Wilder-Smith, professora de doenças infecciosas no Instituto de Saúde Global da Universidade de Heidelberg.
"Somos moral e economicamente obrigados a não desistir", disse. "Devemos isso aos nossos cidadãos."
Seis meses depois, com o vírus avançando novamente, as autoridades podem destacar que a capacidade de teste foi drasticamente expandida. Só o Reino Unido realizou cerca de 1,3 milhões de testes numa semana recente - 20 vezes mais em relação ao início de abril. França e Espanha, epicentros da covid, também aumentaram a capacidade.
"Isso distorce tudo", disse James Naismith, professor de biologia estrutural da Universidade de Oxford. "O teste só é útil se for complementado com rastreio e isolamento de contacto rigorosos".
Com o aumento das infeções e o inverno a chegar, alguns defensores de saúde pública alertam que o foco nos testes tem desviado a atenção de outras medidas necessárias para combater a pandemia.
Sem os testes, as autoridades de saúde não podem rastrear ou isolar doentes, nem compreender totalmente aspectos importantes do vírus, como a sua letalidade. Em março, governos despreparados para a pandemia foram incapazes de formular uma resposta ágil. A única maneira de controlar a epidemia era impor confinamentos nacionais - tratar todos como doentes -, o que reduziu as infeções, mas desencadeou a pior crise económica de que há memória.
Esse é um resultado que os líderes europeus se comprometeram a evitar desta vez, embora as suas opções estejam a diminuir.
À medida que as infeções na Europa diminuíam durante o verão, a capacidade de testes continuou a crescer, permitindo às autoridades atingir grupos mais amplos - incluindo os que voltaram das férias ou regressaram às escolas ou escritórios. Embora a onda de testes tenha identificado muitos casos leves e até mesmo assintomáticos, também levou muitos laboratórios ao limite da capacidade.
Com os laboratórios incapazes de lidar com o volume, as autoridades de alguns países estão novamente a dar prioridade a testes para os que apresentam sintomas ou podem ter sido expostos ao vírus. Embora essa abordagem esteja alinhada com as diretrizes da Organização Mundial da Saúde, volta a preocupação sobre a falta de testes.
Para melhorar o rastreio, França, Reino Unido, Portugal e outros países lançaram aplicações para smartphones criados para notificar pessoas que possam ter sido expostas ao vírus - mas as preocupações sobre privacidade levaram muitas a evitá-los. E, à medida que o número de focos de covid aumenta, o trabalho dos que rastreiam contactos de indivíduos infetados fica mais difícil a cada dia.
Ainda assim, se os rastreios conseguirem atingir cerca de 50% a 80% dos contactos - e se essas pessoas aderirem às regras de quarentena - esses esforços podem ser suficientes para evitar outro lockdown, estimou Annelies Wilder-Smith, professora de doenças infecciosas no Instituto de Saúde Global da Universidade de Heidelberg.
"Somos moral e economicamente obrigados a não desistir", disse. "Devemos isso aos nossos cidadãos."